Que filme... Há tanta firmeza de caráter e dignidade nele que a gente engole o choro e assiste tudo sem pestanejar. Tenho até medo de dizer, mas não existem mais muitas pessoas capazes de fazer o que Milada fez.
A protagonista, Ayelet Zurer, israelense, por sua própria cultura, traz em si o mesmo incrível orgulho de ser quem é e expõe essa altivez, como Milada - mas não quem é no sentido de "ser indicada" por tal pessoa, ou dona de tal ou qual coisa; seu orgulho estava associado a ser verdadeira e fiel ao que pensava, apontando a democracia como bem indiscutível e denunciando todas as pessoas e instituições que a agrediam. Claro que isso a fez ser presa política na Segunda Guerra e depois do Comunismo Russo. Isso a fez ser capturada e torturada, falsamente julgada, condenada e morta. Por enforcamento. De sua boca não saíram lamúrias, mas conselhos. De seu corpo combalido, nada além de altivez e orgulho de se manter honesta.
O filme mostra essa percepção do futuro e de que nele, não lhe cabia mais a vida. Aos poucos, as opções de MILADA se estreitam, sua saúde, seus meios de se comunicar com família e amigos, o que não a impediu de deixar um legado de percepções do mundo para sua filha. Suas cartas desapareceram por anos, décadas. Seu marido nunca mais a reviu, mas o legado ficou intocado nas cartas.
MILADA não tem retoques. Ali é dor, miséria e fidelidade à princípios básicos, humanos. Muito me lembrou a carta de despedida de Olga Benário e tantas mulheres que foram totalmente fieis a seus princípios também.
Não é um filme fácil, quem o assistir vai sofrer, mas nesse momento do mundo é totalmente necessário. Não existe romantismo em nenhuma ditadura, não importa de que ideologia estejamos falando. Falar de regimes fechados é uma ousadia que merece ser punida com prisão - saída de qualquer boca e em qualquer circunstância - e MILADA dá o tom da resistência.
Para as novas gerações não esquecerem que só chegaram até aqui porque estiveram livres. Livres. LIVRES!
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
Não conhecia a história de vida de Milada Horáková. Fiquei muito impressionada. O que Milada enfrentou, resistiu e como viveu é impressionante. Seu caráter, sua determinação, sua persistência perante inúmeras injustiças, sofrimento, tortura, fome, são admiráveis, inspiradoras e impressionantes. A forma como deixou seus testemunhos. As cartas que deixou para a família, nomeadamente para a filha. São públicas e devem ser lidas por todos. Basta pedir ao Sr. Google.
Milada, sabia que o que estava a fazer era certo, não para si, mas para as mulheres, para as pessoas, para a liberdade e democracia de todos no futuro. Num homem já seria incrível, mas numa mulher, na antiga Tchecoslováquia, nos anos 40, 50,..., é impressionante. Penso que todos e principalmente todas devemos lhe agradecer pelo que lutou, pelo que foi. Temos responsabilidade em manter vivas suas forças, sua coragem, seu caminho. Numa época em que tudo parece desmoronar de novo.
Filme obrigatório para todos nas aulas de história de qualquer idade e lugar do mundo, filme obrigatório para qualquer mulher em qualquer parte. Com debate, conversa, bate-papo, pesquisa, no final.
A dignidade, a nobreza, a retidão, seguir valores morais estruturantes para a sociedade, pensando no coletivo, na verdade, na justiça. Uma mulher a quem muito devemos agradecer, que deverá servir sempre de referência nos nossos passos.
Um filme muito bem produzido, com cenas trabalhadas para parecerem de época, sensacionais. Entramos no filme e recuamos para aqueles tempos imediatamente pelo cuidado no figurino, cidades, habitações, detalhes, pronúncia. E uma atriz sensacional - Ayelet Zurer. Sensacional. Já trabalhou com Tom Hanks, com Russel Crowe, já foi dirigida por Steven Spielberg, mas declara que de longe o trabalho em Milada foi muito mais exigente e importante pelo legado que fica, pelo respeito pelo povo Checo e Eslovaco. Imperdível. Imperdível. Imperdível.
Ana Santos, professora, jornalista
Sinopse: Relata a história de Milada Horáková, uma política democrática checa que foi presa e julgada pelos nazistas durante a guerra e depois pelo governo comunista por sua recusa em cessar suas atividades de oposição e deixar o país.
Diretor: David Mrnka
Elenco: Ayelet Zurer, Robert Gant, Daniel Rchichev.
Informacões:
https://www.imdb.com/title/tt4554212/
Trailer: