Primeira coisa: como a Lady Gaga acha que pode ganhar de Glenn Close dentro do território “cinema”? Onde ela imaginou isso?
Com o tema do filme fazendo parte de todas as manchetes, algum desavisado pode achar que a discussão corre o risco de ficar batida – mas não. O fato de os artistas estarem arrumando suas gavetas indica claramente o papel do machismo dentro do acobertamento geral que ocorre em todos os segmentos onde os homens são a maioria. Ou seja: em todos.
Voltando ao filme: a energia de Glenn Close continua intocada desde “Atração Fatal” – sucesso de bilheteria de mais de 20 anos atrás. Energia que está na forma como o olhar dela circula, parecendo realmente procurar uma saída para o que começou como um acordo bom para ela e o marido, mas que a vida deteriorou. Tão realista a forma como ela se comporta em cena que muitas vezes você se vê arremessada pra sua própria vida e procura respostas pra todos os que se viram assim. Suas tentativas de escapar de um destino de invisibilidade são silenciosamente ruidosas e intensas, transformando “A Esposa” num filme que envolve inúmeras questões que precisamos abordar: a terceira idade fez coisas na juventude que são incompatíveis com a sociedade em que vivemos. Poderíamos rever, se estivéssemos preocupados com o assunto, mas quem está preocupado com isso? A mulher aceitava e via algumas ações como únicas possibilidades de mostrar e viver seu talento, vocação. Por quê isso ainda precisa ser repetido agora? Uma sociedade machista precisa ser eternizada? Veja que a palavra eternizar significa que nunca vamos conseguir mudar esse status. Tínhamos que começar a falar sem parar. A comunicação entre as pessoas existe para aproximá-las umas das outras, de suas experiências, conhecimentos, sentimentos. Estamos trocando experiências ou mostrando a troca de carro, o prato de comida, a vitrine da loja, a porta do museu, a boca do jacaré, o botox, o preenchedor, a proteína, a bomba, corpos falsos... clic,clic,clic... Afff, isso me aterroriza.
Todas as mulheres deveriam ir para verem-se envelhecendo e se apropriando de quem são. É lindo envelhecer. Todos os homens deveriam ir para aprender a fugir da armadilha do machismo, que é perturbadoramente redutora de suas inteligências. Todos deveriam ir e conversar depois em casa, tentar explicar e principalmente – tentar entender.
QUEM NÃO FOR, PERDE!
Ana Ribeiro
Diretora de teatro, cinema e TV
As vidas e os segredos. Os segredos não são mais do que prisões que julgamos que nos vão ajudar, mas afinal nos prendem, nos limitam. E um dia, serão descobertos. Sempre são descobertos. Todos. Aquilo que fazemos em determinado momento da vida porque é mais fácil ou porque é a aparente solução ou porque achamos que ninguém saberá. Cedemos às questões sociais para não criarmos problemas, para evitar rupturas. Fingimos e juramos com mentiras em cima de mentiras que aquela mentira é a verdade. Mentimos aos filhos porque são pequeninos e como não vão entender fica mais fácil. Não precisam saber. Mas eles crescem. Nós envelhecemos, ficamos frágeis. Valeu a pena? Porque quando precisamos dos que amamos de verdade e com a verdade, eles podem se sentir defraudados e perdemos o lugar especial que tínhamos com aquelas pessoas. Tudo um dia volta e tudo se descobre e aí tudo se pode desmoronar, se desorganizar.
O filme apresenta uma situação real, verdadeira. Um momento de gloria pode ser afetado pela descoberta de segredos.
O que se faz quando se tem um talento mas esse talento não é aplaudido vindo de você? O que se faz quando esse talento te pode dar o sustento para a tua vida e a vida dos teus filhos, se não estiver o teu nome nele? Quantas pessoas sofreram isso? Quantas ainda sofrem? Como somos capazes de fazer estas coisas, ou de as deixar acontecer na nossa frente? Como aceitamos estar no lugar dos outros e receber os aplausos que deveriam, quem sabe, ser para outros melhores do que nós?
A vida pintada num quadro a óleo...
Tenha coragem de tirar as camadas de óleo de cima que tentam mostrar uma beleza aparente, para que a real beleza ou dureza possa ser vista à luz do sol. Porque é a verdade e a verdade quem sabe nos salva...
Os quadros da pintora portuguesa Paula Rego são um pouco isso. Quem não os conhece, procure conhecer.
Glenn Close. Sempre grandiosa.
Ana Santos, jornalista e professora
Informações sobre o filme
https://www.imdb.com/title/tt3750872/
Site da Saladearte
Excelente conmentarioQ