Saber que o filme foi baseado em fatos reais criou em mim o vácuo da decepção. No fundo, todos nós sabemos que os idealistas sonham em vencer, mas sonhamos que sejam dominados por ideais de melhorias para o mundo e a humanidade. Antes, nós tínhamos pena dos cavalos que comiam lixo; agora, os ursos polares é que estão à beira das sarjetas com neve, comendo lixo, e o mundo olha com estranha naturalidade para o lugar onde ainda ontem tinha apenas ursos, focas e gelo. Todos ainda se lembram disso.
Nos meus devaneios – em algum lugar deles – Thomas Edison e George Whestinghouse melhoraram a humanidade porque a vida era vivida às escuras, não havia meios de iluminar nossas cenas diárias. Assim, baseado em dúvidas, perguntas e o desejo de ajudar partiram para a luta e construíram nomes que são como castelos indestrutíveis. Mas afinal, era mesmo só dinheiro, vaidade e poder.
Muitas vezes é a história que, ao derrubar nossa ignorância, derruba você junto. Foi exatamente o que aconteceu comigo, no filme. Há enganados e enganadores, há cobiça, desejo de construir impérios e monopolizar o mercado, com o objetivo de enriquecer. Só isso mesmo.
E o filme foi impecável nessa narrativa, com atuações carismáticas, fortes, cheias de golpes furtivos, maledicências e traições. Todas as denúncias estavam ao redor de destruir a credibilidade dos dois nomes, hoje imortalizados e o mal-estar entre as duas linhas de pensamento constrói o filme.
Mas, na minha ficção particular, eu adoraria ver um filme onde Thomas Edison e George Whestinghouse se tornaram sócios para revolucionarem o mercado da eletricidade e de mil aparelhos nascidos do fato de haver energia elétrica na vida das pessoas. Porque todo o material que o mundo e os nossos corpos nos fornecem são exemplos de competição e compartilhamento. Por quê achamos indispensável apenas o pedaço competição, individualismo, egoísmo e vaidade?
Há alguma coisa no mundo que precisa ser revista imediatamente, antes que não haja mais gelo suficiente para que os ursos polares se apoiem nele para comer lixo, antes que não haja mundo, vida e nós – para narrarmos histórias humanas que poderiam ser exemplares, mas que foram apenas mais do mesmo, mais de nós, infelizmente.
Assistam, é um bom filme. Mas percam tempo analisando as falhas - não do filme - mas de caráter.
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
Saio do filme com a pobre e triste confirmação de que as guerras de poder, de fama e de vaidade, sempre existiram e continuam nos dias de hoje, prejudicando a evolução do mundo e impedindo a colaboração e partilha. Não interessa de que país, quem é, nem o que faz, o ego insiste em ser o protagonista, proporcionando brigas históricas, investimentos económicos avultados e destruição.
O filme se debruça sobre a época da muitas invenções que ainda hoje influenciam o mundo tremendamente – a energia elétrica / a eletricidade. Depois de ver o filme entendo melhor porque a cerca elétrica que existe nos muros da casa onde vivo no Brasil tem energia intermitente. Incrível como momentos entre 2 ou 3 pessoas decidem a vida de milhões, do mundo inteiro. Na verdade, o filme também é uma aula sobre o assunto, mas tem alguns diálogos que me pareceram muito rápidos e complexos para o comum mortal. Retrata a verdadeira realidade das brigas sobre corrente elétrica, entre gênios e poderosos da economia do Estados Unidos. Mostra que o caráter nem sempre acompanha a genialidade dos seres humanos, por muito que isso seja triste.
Edison, Tesla, Westinghouse, 3 gênios que teriam ajudado muito mais o mundo se tivessem unido forças. Muito lhes devemos mas tenho pena de existir aqui ou ali, falta de caráter. Os confrontos servem de estímulo para os seres humanos se desafiarem, mas existem limites de educação, de caráter, de bondade, no pensamento humano. E, Edison comenta isso no filme, teriam tanto mais para inventar se não tivesse perdido tanto tempo com misérias humanas.
O filme vai e vem, misturando épocas, momentos, câmera muito viva, excelentes atores, Scorsese como diretor executivo. Eu sempre prefiro ver filmes que abordam o lado emocional dos gênios, sua infância, os momentos que mudaram suas vidas. Mas isso sou eu. O filme é bem diferente e nos mostra de novo o quão importante a cidade de Chicago foi na vida de hoje no mundo. Uma cidade sensacional.
Amei o pormenor da filha de Edison se comunicar por código Morse quando queria falar apenas para o pai.
Importante o momento em que o filme diz claramente que por muito que sejamos capazes de inventar, resolver, nada podemos contra a morte.
Para quem gosta de saber sobre histórias de vida determinantes para a vida de hoje, não perca.
Ana Santos, professora, jornalista
Informações sobre o filme:
https://www.imdb.com/title/tt2140507/
Circuito de Cinema Saladearte