Já aconteceu mil vezes. A gente se aproxima da TV, vê um programa como o American Idol e não dá grande coisa por ele, fala mal. Mas nesse filme, você percebe porque as franquias existem e fazem sucesso em todos os lugares do mundo.
Pensaram American Idol? Pensem na Palestina. Quem pode ser feliz num País todo destruído? Quem pode sonhar num lugar que não tem 4 paredes juntas de pé no mesmo cômodo? A beleza do sonho é exatamente assim. Pois em um País como a Palestina havia um menino, que tinha, uma voz e um sonho. Que por ele fez de tudo, até atravessar clandestinamente da Palestina para o Egito, até escalar o prédio do teatro do concurso, até cantar no banheiro, ganhar o bilhete que lhe permitia disputar contra todas as chances, sofrer e insistir.
Levantar e cair, levantar e cair. Nos lembra de nós mesmos no Brasil, tantas vezes. Nos lembra o sucesso das Ganhadeiras, dona Edith do prato, Ivone Lara, Cartola – tantas pessoas improváveis para o sucesso, mas que o tinham dentro de si e do seu destino.
Talvez, se não estivéssemos em casa, eu não tivesse reparado no filme. Mas, mesmo sendo de 2015 foi tão bem feito, continha tantas verdades, tantas coisas retiradas da vida real – o filme é baseado em fatos reais, como o Bug ama – que vimos e amamos.
A voz do menino é vestida de dor, como toda a voz do Mundo Árabe. Cada vez que ele canta, o mundo se abre, se quebra, racha. Só isso vale o filme. Mas a história é envolvente e quando a gente vê Gaza com a voz dele dando o comando da cena é mágico. Como a tragicidade da destruição pode ser bela pelo detalhe da voz, como somos arremessados para a injustiça daquilo, das pessoas que vivem ali, que são gente como todas as pessoas, mas são tratadas como um povo sem terra, sem raça, tendo milênios de história como os israelenses, como? A nossa perplexidade fica ali e a voz do cantor rodopiando, tremendo, emocionando.
Um grande filme por tudo o que a gente olha de realidade, de exemplo pra uma Nação inteira, da capacidade de criar alegria num povo que foi perdendo os espaços de felicidade, desde o final da II Guerra. E que vai servir pra você passar na frente da TV - quem sabe? – olhando aquelas pessoas na fila do “Idol” e sabendo que cada uma delas tem uma história que merece ser contada, como a de Mohammed – hoje, embaixador das Nações Unidas porque uniu o coração de um povo. Exatamente o oposto do que estão tentando nos fazer, aqui no Brasil e que deve nos servir de aviso contra a intolerância que os palestinos conhecem tão bem.
Adorei. Tá no Telecine. O sinal está aberto. É só ir lá ver!
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
Um filme que conta a vida de Mohammed Assaf, um menino que nasceu e viveu em Gaza e que venceu o concurso “Ídolos” dos países árabes, em 2013. Uma história que deve ser conhecida por todos nós porque é um exemplo de vida fantástico. Meninos que nascem num lugar que trava os sonhos de qualquer um, mas que em Mohammed, também estimulado pela irmã “guerreira da vida”, não conseguiu destruir a vontade de cantar, de ser ouvido e de ser famoso cantando.
O seu percurso de vida é muito difícil, muitas vezes perturbador, angustiante e desesperante. Mas a sua persistência muito baseada no seu amor pela irmã e pelo efeito que tinha nas pessoas quando cantava, não o fez desistir. Parece realmente um conto de fadas. Quando percebe que pode ganhar o concurso e a dimensão social que isso representa, vem o medo de um menino simples e pobre e sente um abalo física e psicologicamente. Quando novamente percebe que pode ser o exemplo, para todos os que sofreram e sofrem como ele, de que a vida pode também trazer coisas boas, volta de novo a equilibrar-se e se transforma até hoje num exemplo fantástico – num ídolo.
Foi nomeado Embaixador da Boa Vontade da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA), desde que venceu o concurso. É um sucesso mundial, uma voz dos deuses e a voz dos refugiados e dos que resistiram a ideia de que alguns nunca poderão realizar os seus sonhos.
Na sua vida tudo parecia dar errado para os sonhos e seria mais um menino que viveria do que fosse possível. Mas felizmente não foi assim e assistir ao filme ou aos vídeos do youtube da final do concurso impressiona pela forma como movimentou tantas pessoas (82 milhões de visualizações) e o mundo árabe de pé assistindo e dançando, vibrando com a sua vitória. Mesmo em espetáculos ao vivo, após concurso, arrepia pela voz e pelos milhões de pessoas que o admiram e que tentam se apoiar na sua força. É realmente impressionante. Uma voz e um ser humano que dá esperança a milhões e milhões de pessoas no mundo árabe. Mágico e estimulante para qualquer um.
Os atores meninos e meninas são espetaculares. Sensacionais. As cenas e conversas entre Mohammed, a irmã e os amigos quando eram novos, lembram muito as nossas infâncias também. A sinceridade, a inocência, os sonhos, as brincadeiras, as desilusões, as brigas. Isso é muito interessante porque novamente o cinema nos mostra como somos parecidos em qualquer parte do mundo. Também mostra como 3 amigos em meninos se transformam em 3 adultos com interesses totalmente diferentes e opostos. Mostra imagens de Gaza, dos tuneis, da vedação que os isola, da destruição dos edifícios, das feiras, dos casamentos e sutilmente mostra como a mulher “existe” numa sociedade como a árabe. Mostra o luxo e a destruição de prédios no Líbano, o luxo do Egito. Assistir ao filme é importante. Tente ver.
Ana Santos, professora, jornalista
Informações sobre o filme
https://www.imdb.com/title/tt4686692/
Nome original
“Ya tayr el tayer”
Diretor do filme
Hany Abu-Assad
Elenco
Tawfeek Barhom...Mohammed Assaf; Kais Attalah...Mohammed Assaf (younger) (as Qais Attallah); Hiba Attalah...Nour (as Hiba Attahllah); Ahmad Qasem...Young Ahmad (as Ahmad Qassim); Abdel Kareem Barakeh...Young Omar (as Abdalkarim Abubaraka); Teya Hussein...Young Amal; Dima Awawdeh...Amal; Ahmed Al Rokh...Omar (as Ahmad Rokh); Saber Shreim...Ahmad; Amer Hlehel...Kamal; Manal Awad...Mohammed's Mother; Walid Abed Elsalam...Mohammed's Father (as Waleed Abd Elsalem)
Sinopse
Mohammed Assaf é um cantor de casamentos que vive em Gaza. O único objetivo de sua vida é quase impossível: competir no programa Arab Idol. Escapando de Gaza para o Egito contra todos os obstáculos, Mohammad começa a jornada mais importante de sua vida.
Telecine (atualmente gratuito)
https://www.telecineplay.com.br/programacao
Circuito de Cinema Saladearte
Espaço Itaú de Cinema - Glauber Rocha