O maior problema do filme não é exatamente ele não ter ação, nem objetivo, nem ganchos – eu adoraria dizer que era uma falha imperdoável – mas não. O maior problema de JÁ NÃO ESTOU AQUI é que ser assim retrata exatamente o que a sociedade oferece de opções para seus segmentos mais fragilizados – nada. Nada em lazer, nada em escola, nada em educação, nada em princípios. O convívio social está preso ao grupo e quando ele perde o grupo, fica preso dentro da cabeça dele, que não tem nada para substituir o grupo que perdeu. O grupo também não é nada além de uma gangue mexicana, com pequenas experiências com roubos e uso de drogas, mas nada importante – apenas viver naquele tédio cria uma demanda por experiências quaisquer.
Em comum, o amor pela dança e um apego cultural que nunca foi aproveitado por ninguém. Em comum, é você saber-se sub. Sub tudo. Subempregado, sub-colega, sub-gente, sub-tudo. Uma vida sem amarras pode deixar de ser vista como uma vida livre e sim uma vida solta, perdida. Não porque se é bandido, traficante ou terrorista – porque isso é alguma coisa. Mas você ser completamente invisível. Invisível.
Pra conseguir isso, é necessário um filme fazer um esforço enorme. E JÁ NÃO ESTOU AQUI conseguiu. O filme acaba e é como se aquela escuridão sem saída, sem suspense, tivesse parado de insistir ser vista – é quase como um alívio.
Olhamos ao redor e o Brasil está assim, sem capacidade, talento e criatividade para atrair seus adolescentes para a aula. Sem políticas e, claro, sem políticos visíveis. São borrões que tentam se distinguir a cada eleição. México, Brasil, X, Y, Z – os nomes se misturam na mesmice de décadas.
Portanto, o problema do filme não é ser monótono. O problema é que ele precisa ser monótono para contar essa história.
Vale ver e sobretudo vale pensar no assunto, antes de votar.
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
Tantas subculturas existem no mundo... Este filme nos relembra isso e nos obriga a pensar sobre isso. Cada um de nós procura seu lugar no mundo, mas quanto mais fora da norma for essa busca mais problemas vai precisar resolver. E se não os resolver, aumenta os problemas e a revolta começa a ganhar muito espaço.
Um problema fez com que um ser humano tivesse de mudar de país. No seu país, ele já era bem diferente da norma, mas quando chega a um país com outra linguagem, outra cultura, outras leis, tem dificuldade em se adaptar. Não sabe o que deve fazer, o que aprender e principalmente, não reconhece essa necessidade, por isso não aprende, não sai da mágoa, do isolamento, do vazio.
Um filme muito interessante para quem tem curiosidade por outras subculturas menos conhecidas e por sociedades que ainda preservam a riqueza indígena nas suas danças e formas de estar. Um pouco lento, sem grande chama, mas muito interessante do ponto de vista social e psicológico. Aconselho.
Ana Santos, professora, jornalista
Informações sobre o filme
Diretor: Fernando Frias
Sinopse: Em Monterrey, México, uma jovem gangue de rua passa os dias dançando para diminuir o ritmo da cumbia e participando de festas. Depois de uma confusão com um cartel local, seu líder é forçado a migrar para os EUA, mas logo deseja voltar para casa.
Elenco: Juan Daniel Garcia Treviño, Xueming Angelina Chen, Sophia Metcalf