Um filme muito difícil. Não de entender, mas de engolir. No entanto, lá está a aprendizagem com o nosso pai e o cuidado que precisamos ter para compor algo que não se transforme numa armadilha, numa ratoeira para nossa vida inteira. Per foi capturado pelo “amor que tortura” de seu pai, que “para mostrar o caminho certo”, é emocionalmente nocivo e pernicioso – exatamente igual ao que ele se transformou.
Esben Smed, interpretando um gênio com zero de inteligência emocional ou algo assim, sofreu e fez sofrer. Pelo tempo do filme, nós assistimos sua personagem bater cabeça e derrubar pessoas maravilhosas. Não era o caso de ser propriamente desonesto; o caso era mesmo de não saber para onde, nem como ir. Katrine Greis-Rosenthal é soberba sendo apenas boa – nessa altura, na vida real, ela pode ser uma até boa bisca - eu não seria mais capaz de vê-la dessa maneira.
UM HOMEM DE SORTE mostra vícios sociais que não adianta mais apontar – toda a sociedade precisa mudar seu padrão de frequência, fazer diferente. Dar espaço a quem tem ideias, traz novidades. E olhe que a família Salomon, diante de seu dinheiro e poder, até tinha a cabeça aberta – mas são necessários dois lados e o lado de Per não permitia mais do que dor, orgulho e vaidade.
Ah, ele é o vilão – não. Como na vida real, as pessoas são vilãs de si mesmas e se enrolam em coisas que se parassem para entender, não seriam assim.
A generosidade de Jakobe, sua atitude de amor e de entrega valem toda a trama ao redor de sua relação com Per.
É como a grande maioria dos filmes que indicamos no Bug, pois vale demais você ver e depois conversar um pouco, tentando explicar/entender a personalidade destrutiva dentro de um gênio insaciável. Há talvez melhores formas de lidarmos com o que aprendemos. De qualquer modo, não se contente nunca com uma forma de fazer; se desafie, se pergunte. Pode ser a resposta que salvará o destino de todos.
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
A pobreza, a riqueza. Não ter acesso a nada, ter acesso a tudo. A ambição. O talento. A ideia que se tem da vida dos outros. Infâncias duras e traumatizantes que deixam lastros destruidores na construção da vida e na forma como tratamos as outras pessoas. Um filme importante. Nos alerta como o passado e a aprendizagem podem ser castradoras, destruidoras e impedir a felicidade, se permanecermos na mágoa.
Um homem talentoso, sofrido, deixa terra arrasada em todos os lugares onde tenta se tornar alguém, criar família, ter sucesso, ser admirado, respeitado. Os caminhos e as oportunidades surgiam mas para ele nunca era suficiente. Um filme muito interessante pela abordagem social e sociológica de famílias, de pessoas, de infâncias, de ambições, de relações entre pessoas, de honestidade, de pobreza, de riqueza.
Excelentes atores, particularmente Katrine Greis-Rosenthal. Intensidade, emoção, ou não fossem atores que também são atores de teatro. Excelente dramaticidade.
Um filme de época, com excelentes cenários, figurinos, paisagens de tirar o fôlego. A não perder.
Ana Santos, professora, jornalista
Sinopse: Um engenheiro talentoso foge de suas raízes austeras para buscar riqueza e sucesso entre a elite de Copenhague, mas o orgulho que o impulsiona ameaça ser sua ruína.
Diretor: Bille August
Elenco: Esben Smed, Katrine Greis-Rosenthal, Benjamin Kitter.
Informações e trailer: