
É como um vício – basta começar e não se quer parar. Uma série delicada como poucas, de extremo bom gosto que, mesmo voltada para o público “teen”, é uma delícia em qualquer idade porque discute problemas humanos, relações, relações de poder e enorme imaginação e criatividade.
Uma fotografia irretocável, interpretações incríveis – Anne é uma grande atriz inserida num elenco magistral, que sabe dividir, compartilhar, “passar a bola para que o gol saia bonito” – além de um roteiro impecável, daqueles em que a gente torce, sofre e ri com as cenas.
Depois já de tantos meses de pandemia, Anne é como um refresco na tempestade de notícias ruins, no mundo. Há um momento em que a gente esquece as mentiras pervertidas que temos que consumir todos os dias porque estamos concentrados consumindo fantasia – talvez seja este o maior mérito do filme. Mas na fantasia explícita do filme se discute preconceito, gênero, arte, raças, o universo ao redor do amor, diferenças humanas e toda o sofrimento e tristeza que deixam ao redor de si – no filme, elas proliferam de toda parte. Há a bondade e ela é clara, há a maldade, há o “bullying”, questões relacionadas ao estúpido verniz social que evoluiu para a nossa incompreensível felicidade acondicionada em “selfies”, lealdade, falsidade – há ali seres humanos mostrando e apontando nossas idiossincrasias de uma maneira delicada, mas sempre muito objetiva.
É como voar no tapete do Aladim, tendo que nos segurar nas franjas pra não cairmos lá de cima. Não podemos impedir nada do que acontece como na vida real, mas observar e aprender a agir quando as coisas acontecerem na vida real nós podemos – e a série nos leva a inúmeras viagens emocionais a cada episódio.
Anne lembra de sua vida miserável, mas não se permite ser miserável. Deveríamos ser assim também, mas a humanidade prefere a amargura ao otimismo, por algum motivo.
Vejam com suas famílias, conversem sobre os comportamentos, compartilhem sentimentos, façam analogias com quem conhecem e sobretudo amem aos que estão ali convivendo com você – a série dá uma aula de humanidades.
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
O Bug ficou a saber deste seriado por um mero acaso. E que belo acaso! Fez recordar tanto da “Pipi das meias altas”, da “Casa da Pradaria” e de tantas histórias que procuravam mostrar soluções saudáveis para os problemas, para as dores, para as encruzilhadas da vida. Uma forma doce de ver a vida, de enfrentar as agruras sem desanimar, sem desistir. Aponta suavemente e sabiamente, durante as 3 temporadas, praticamente todos os traumas, medos, preconceitos, estereótipos sociais, familiares e humanos. E, o mais importante e inovador...dá caminhos, aconselha, esclarece, confronta os personagens com a necessidade de os ultrapassar para que todos possam viver a sua completa felicidade. Nossa!
Excelentes atores, excelente direção. Muita qualidade. Tardes de família fabulosas, numa história para todas as idades.
Como é bom ver um seriado ou um filme mostrando as coisas simples e tão importantes da vida. Falar sorrindo, conversar construindo. Expor as fraquezas e inseguranças considerando-as apenas uma parte de nós que precisa de atenção e aguarda mudança.
Como às vezes, dos lugares ou pessoas ou momentos mais inusitados se pode salvar tantas pessoas, se elas deixarem entrar um pouco de luz, de esperança.
Olhar a vida pelo lado florido e perfumado. Insistir em fazê-lo. Optar por acordar todos os dias e querer fazer coisas boas. E fazê-las. Sem hesitações. Escolher viver, escolher amar, escolher cuidar, escolher a verdade, a honestidade. Deixar que falem, que riam, que critiquem, que fechem as portas. Existe sempre um espaço verdadeiro para passar, para estar, para ser feliz. “Anne com um E” já sabe o quanto o lado sombrio da vida pode destruir. Escolhe, todos os dias a luz, a alegria, a esperança. Um exemplo maravilhoso que pode ajudar-nos muito nestas horas. A atriz Amybeth McNulty chega mesmo a agradecer à personagem pelo que aprendeu. Que tal, como ela, escolhermos enquanto podemos? A vida é um sopro. Muda num instante. Ter luz nas nossas vidas, levar luz às vidas dos outros, é tão importante...
Ana Santos, professora, jornalista
Informações sobre o seriado
https://www.imdb.com/title/tt5421602/
Criadora: Moira Walley-Beckett
Elenco: Amybeth McNulty, Lucas Jade Zumann, Geraldine James, Dalila Bela, ...
Sinopse: Depois de treze anos sofrendo no sistema de assistência social, a orfã Anne é mandada para morar com uma solteirona e seu irmão. Munida de sua imaginação e de seu intelecto, a pequena Anne vai transformar a vida de sua família adotiva e da cidade que lhe abrigou, lutando pela sua aceitação e pelo seu lugar no mundo.