
Pra quem, como eu, trabalha fazendo mapas com a direção da edição do que vocês assistem no Bug Latino, roteirizando ideias, dirigindo pessoas, programas ou tudo isso junto, assistir 1917 e ver nos créditos que o filme perseguiu a mente do diretor, autor e produtor (que são a mesma pessoa) é sensacional. Muitas vezes uma ideia persegue a sua vida e torna-la realidade é tudo o que lhe fará feliz – e ele conseguiu.
Há planos ali que me confundiram toda. Como a câmera não oscila? Como parece que ela tem duas frentes? Tudo balança ao redor da lente, mas ela fica estável passando entre as personagens, trincheiras, buracos, dentro da água, cachoeira abaixo. E com os planos que tem!
Cenas realistas. O suficiente pra gente tomar um sustinho, mas o diretor não quer ninguém com os olhos fora da tela. Por isso os cavalos mortos têm moscas, há corpos em todas as direções, mas tudo feito através de plano indireto porque a guerra não é o foco. Incrível você fazer um filme de guerra, no “front” de batalha/na frente da batalha e a guerra não ser o foco. O roteiro foi mesmo incrível em iludir os espectadores que vão assistir um drama familiar, achando que os tiros e os soldados são as coisas principais.
Uma maravilha de cor, nitidez, atuação. Ana saiu do cinema falando em como os atores precisaram trabalhar atleticamente para aguentarem correr, se esgueirar, rolar, nadar. E falar. Textos e textos sem cortes e, portanto, sem esquecimentos, sem “corta”, sem volta. A história não é, por assim dizer, emocionante, mas tem uma técnica apuradíssima, atuações impecáveis e uma história palpitante. Se nada disso convencer você a ir ao cinema, pense que deve conquistar alguns Óscares, que é um filme histórico – só alguém muito especial opta por planos sequência, quando o mundo inteiro corta e cria movimento.
Achar um irmão do outro lado – o lado alemão – enfrentando todo tipo de perigo – até um avião cai em cima deles – é criar um cenário emocional dentro do cenário da guerra – esse sim riquíssimo em detalhes. Claro que existe a opção de não ver o filme, mas quem não for ver, vai perder, podem acreditar.
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
Para quem ama, estuda e faz cinema, é um filme absolutamente obrigatório.
Veja como se pode fazer um filme de uma forma quase mágica, para não dizer inacreditável. Você se perde tentando imaginar como foram possíveis aquelas tomadas ou planos de filmagem. Simplesmente impressionante. Um filme de duas horas, quase sem cortes. Com mudanças de cena sem cortar. A mesma cena nas valas da guerra, passa para a escuridão das trilhas, dentro de água, no meio da lama. Quem assiste se perde tentando entender como é possível filmar assim.
Tomadas (tempo de gravação seguido, sem cortes) de mais de oito minutos, no mundo cinematográfico onde por vezes se grava repetidamente um ou dois segundos, é impressionante.
A produção e a capacidade financeira necessárias para fazer um filme destes é inimaginável para quem faz os milagres que o Bug Latino ou outras pequenas produções fazem.
Eu não estava com muita vontade de ver o filme pela sinopse, por ser um roteiro já comum em muitos dos filmes que se fizeram das duas grandes guerras. Fui mais pela forma de fazer o filme e realmente vale a pena. É incrível. Uma forma nova de fazer filmes, de fazer cinema.
O filme reforça também o quanto significa o compromisso da nossa palavra em relação aos amigos, o quanto é importante o comprometimento quando alguém nos pede algo, mesmo que seja difícil ou até aparentemente impossível. Para amigos, para colegas, para profissionais em cargos superiores. Principalmente quando a vida, a saúde de outras pessoas depende do que nos comprometemos fazer. Do que significa para os outros o nosso gesto ou esforço.
Por tudo isto, mas principalmente pelo início de uma nova forma de fazer cinema, não perca.
Ana Santos, professora, jornalista
Informações sobre o filme
https://www.imdb.com/title/tt8579674/
Circuito de Cinema Saladearte
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