“SALVADOR NA COP30 É NONSENSE” e “Pare de apertar minha mente, desgraça” Bug Sociedade
- portalbuglatino
- 11 de nov.
- 7 min de leitura

“SALVADOR NA COP30 É NONSENSE” Bug Sociedade
Parece que poucos sabem, mas a COP30 trata da questão climática por causa do aquecimento global, por causa da nossa poluição enquanto mundo, por causa da nossa incapacidade de pensar nisso na hora de construirmos algo cotidiano.
COP30 trata da sobrevivência humana, diante de problemas que antigamente nem eram problemas, no Brasil. Paraná com tornado EF3? Uma cidade completamente destruída, com cenário de guerra?
Um problema nunca visto como este, deveria estar na pauta central do COP30. Deveria estar na pauta de todas as Prefeituras, todas as Câmaras Municipais do Brasil porque aqui, como nós não tínhamos esses problemas, vai ser algo grandiosamente terrível, devastador – muito mais devastador do que na Dinamarca ou Holanda, creiam.
Li com espanto que Salvador vai apresentar trabalhos lá: Gestão de Resíduos Sólidos e Grandes Eventos e Ação Climática. Como isso é possível, se ainda sequer conseguimos um lugar sem perigo de atropelamento, onde se possa caminhar? Ainda no final de semana, quase fui atropelada por um patinete elétrico, em Ondina. A culpa foi do garoto do patinete? Infelizmente não. A culpa é da Prefeitura que não prevê que as pessoas precisam de uma calçada para poderem caminhar e priorizou a pista de bikes e patinetes, em detrimento da calçada. Não apenas isso. O recapeamento asfáltico das ruas ignorou a altura entre o meio fio e o asfalto – pelo menos na minha rua. Resultado: quando a chuva cai forte, de açoite, a água agora invade as calçadas. Não está na COP30, mas deveria estar, vocês não acham? Ou ainda: os bueiros da minha rua foram construídos; há galerias pluviais feitas, portanto. Mas foram aterrados depois, por algum motivo que não alcanço. Resultado? A chuva que desce da minha rua, alaga a rua perpendicular à minha porque ela é mais baixa. Obras de esgotamento de água modernos deveriam fazer parte da COP30, Salvador poderia ter descoberto algo urbano e cotidiano porque a Prefeitura é vista como a gerente da cidade, certo? Mas não.
O plus do espantoso é a Câmara estar passando leis que estão mudando todo o gabarito de prédios das ruas próximas ao mar – zona nobre da cidade. Pouco a pouco, o prefeito vem trocando árvores, por cimento e asfalto – tudo voltado para carros, nunca pessoas – e agora, com o novo gabarito, virá o sombreamento da praia. Você sai de casa, chega na praia e toma banho de sombra. Sombra de prédio, de shopping, de galerias comerciais, de escritórios. Vai para o ponto de ônibus e de lá as árvores desapareceram e você vê aquelas filas estranhas de pessoas que se amontoam na linha da sombra dos postes. E sem que eu me esqueça: a prefeitura põe grades e muros em tudo o que faz – o que também não está na COP30, mas deveria estar porque Portugal é um país pequeno que dá a impressão de ser imenso porque ninguém economiza no espaço das praças. Mas aqui, na Vasco da Gama, se criou um espaço gradeado entre uma pista e outra por causa do VLT ou na entrada do viaduto do Dique, que tem muretas por todos os lados. Fora as muretas do Rio Vermelho, ou as que apertam o povo no carnaval e que podem acabar causando um pisoteamento terrível, ou não haver um plano de emergência para escapar com uma pessoa passando mal em Ondina, no carnaval... Mas nada disso está na COP30. Lá falaremos sobre Gestão de Resíduos Sólidos e Grandes Eventos e Ação Climática, lembram-se? Minha rua só aguenta chuva porque moro no alto, por sorte - qualquer ação climática "mixa" demonstra claramente que todos os bueiros da minha rua foram tapados e que é muito difícil reclamar do que quer que seja, se o telefone a chamar foi o 156 – não por acaso, o da Prefeitura da cidade. Enquanto nos debatemos, ele quer vender todas as áreas verdes alegando que “estão ali vazias”, afinal. Por este parâmetro, o Pará sofre perigo iminente com a visita de Salvador porque a Amazônia também é vazia... Tem floresta nativa, não de engenharia de espigões.
Assim, deixo aqui meu pequeno protesto. O prefeito deveria estar aqui. Ele deixou muitos problemas que poderiam estar fazendo a prefeitura brilhar, mas por causa da gente, do nosso bem estar, da cidade organizada, sem árvores caídas, bueiros entupidos, ruas cheias d’água, ratos. Nenhuma campanha de educação para a separação do lixo. Trabalhos serão apresentados na COP30 e nem separamos o lixo, ainda!
Vamos nos unir ao Bug Latino? Falar sobre o assunto? Por que nem sequer falamos do assunto, aqui? Vamos esperar o tornado EF3 arrancar a cidade do lugar pra fazer OOps? Me bata um abacate...
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro, TV
“Pare de apertar minha mente, desgraça” Bug Sociedade
De vez em quando me sinto cansada, talvez farta, talvez castelando, de calundu, virada nos azeites. A vida nunca dá sossego. Você sai de uma para entrar em outra. Resolve um problema com a internet, vem um problema com a água, resolve um problema da água, vem um problema com a geladeira. Isto quando não se acumulam os problemas todos. Quantas vezes a gente está tentando encontrar um tempo “livre” para resolver um dos problemas e surge outro, e outro, e outro e a gente sem encontrar o tempo “livre”. Além disso, nosso chefe sempre piora seu comportamento nos dias em que a gente está com a cabeça virada tentando encontrar soluções para o tal tempo “livre”, os problemas do filho na escola, o dinheiro voando, o cansaço pesando.
“Pare de apertar minha mente, desgraça”
Nos meus tempos da faculdade, para além de toda a novidade acadêmica e do que implica sair de casa dos pais aos 18 anos, era atleta profissional de voleibol. Tinha tanta coisa para fazer que nem pensava muito nisso, para não perder mais tempo. Ia fazendo, fazendo, fazendo, mas por vezes sentia que o mundo me asfixiava. Como se fosse um corredor com uma única saída que eu iria encontrar na minha frente. Só caminhando, seguindo, a iria encontrar. Perdi muitos hábitos que tive de recuperar anos mais tarde. Ler um livro que não fosse acadêmico, era impossível. Ler ao deitar mais impossível ainda, porque adormecia em segundos. Não sabia cozinhar e nunca tinha tido vontade de aprender, mas depressa percebi que teria de o fazer – as cantinas, as papas de cerelac, papas de nestum com mel, pães com queijo, tangerinas, laranjas e maçãs começaram a ser insuficientes para o meu amor por comer comida gostosa. Nessa época aprendi o valor do tempo, aprendi o valor e os limites do corpo, aprendi que aquilo que sonhas é possível, mas têm um preço – ou treinava ou estudava. Não existia na minha vida espaço para relaxar, ficar sem fazer nada, sair com amigos, ir à praia, a festas. Ficava informada do mundo pelos jornais de papel que encontrava nos cafés onde estudava. Isso e ouvir as pessoas no ônibus, no trem, na rua, nos pontos de ônibus. E nas conversas com amigos, familiares, colegas de faculdade e de time.
Existia informação selecionada, tratada, oferecida às pessoas, e as pessoas a consideravam confiável. Era? Parecia. Talvez fosse. Ou talvez fosse um ponto de vista. Um ponto de vista em cada tipo de jornal. Depois vieram vários canais de televisão, com eles vários tipos de ponto de vista. Agora, com as redes sociais, multiplicaram os pontos de vista e não temos mais tempo para saber tudo. Ler todos os títulos de todos os assuntos, gente, nem isso é mais possível. A não ser que digamos ao chefe que não vamos trabalhar e deixemos nossos problemas aumentarem. E que deixemos nossos filhos se educarem pela “vida”.
“Pare de apertar minha mente, desgraça”
Não temos tempo. De novo essa sensação de asfixia. Será que é porque gosto de saber de tudo um pouco? Ou porque gosto de estar “a par” ou “ao corrente” do que se passa no mundo? Mas como faço isso? Gasto o tempo olhando a desgraça que sucedeu no Paraná e entro em pânico? Ou Ligo para a Embasa e reclamo a razão do aumento inesperado deste mês? Um aumento de três vezes mais o consumo habitual? Não consigo fazer as duas coisas. Aprendemos a estar informados, mas não sei mais o que isso é e o que significa. Deveria assistir aos problemas dos outros porque isso quer dizer que me preocupo, quer dizer que sinto empatia, quer dizer que se um dia sofrer uma infelicidade tão horrorosa, o mundo estará comigo. Mas e o que faço com a Embasa? Deixo à solta? E se no próximo mês vier assim tão elevada ou mais ainda? A empresa vai perceber e vai corrigir? Vai corrigir porque eu estou gastando o tempo olhando o que acontece no mundo? Se eu não reclamar, empresas gigantescas não têm tempo de verificar esse tipo de erros. Ou você se mexe ou nada acontece. Como na faculdade. Ninguém ficava aplaudindo minha vida porque não havia nada para aplaudir, mas sim muito que fazer. Diariamente a vida nos coloca muita prova de vida, prova de capacidade, prova de coragem, prova de ousadia, prova de tomada de decisões, prova de honestidade, de equidade, de justiça.
“Pare de apertar minha mente, desgraça”
O que aconteceu no Paraná, o que tinha acontecido no Rio de Janeiro, o que está acontecendo um pouco por todo o mundo, com guerras ou eventos climáticos, com pobreza e ou doenças e incapacidades, me trouxe de novo as sensações do tempo da faculdade. Não temos mais o tempo para apoiarmos os que sofrem. Não temos tempo para nos queixarmos, nem para ficarmos perdendo tempo, nem para fazermos experiências, nem para nos acharmos melhores. Muito menos para nos sentirmos confortáveis.
“Pare de apertar minha mente, desgraça”
A vida e seus dias e momentos melhores não é algo que vem até nós. Nada disso vem até nós. Nada do que é bom vem até nós. Repito, nada. Ou nós, nossos pés, nossas mãos, nosso coração, nossa mente fazem acontecer, ou nada acontece. E não existe melhor sensação do que conseguir agir e fazer acontecer. Não existe melhor sensação, acredite. Mas para isso, não podemos passar os dias abobalhados a olhar o celular, lendo que Shawn Mendes ficou na casa de Ivete Sangalo. Gente, isso interessa para quê?
“Pare de apertar minha mente, desgraça”
Trocar a vida que nos espera e que nos deixará felizes, pelo esforço e entrega que colocaremos, trocar isso por admirar fotos que mostram o que “parece” que é a vida dos outros, é atrair problemas e doenças. E o problema da geladeira e da água já chegam. Enquanto não chegam outros. Porque eles rondam. Os meninos famosos e os problemas. Quais são mais importantes e quais são urgentes de resolver?
“Pare de apertar minha mente, desgraça”
Ana Santos, professora, jornalista
Nota:
Castelando/ Castelano: o mesmo que refletir, filosofar, colocar os pensamentos em dia.
Tá de calundu: estar zangado, fazendo birra.
Imagem: Andrea del Verrocchio
Terça-feira, dia de escrever sobre o que acontece no dia a dia. De crítica, de conselhos, de admiração, de espanto, de encontrar caminhos melhores para todos.
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