top of page
Buscar

Poesia, salvadora de almas

Foto do escritor: portalbuglatinoportalbuglatino

Na poesia nunca estamos sós. Quando pensamos que ninguém sente o que sentimos e não temos com quem desabafar, na poesia estão todas as dores. As nossas também. E encontrá-las é saber que alguém vê o que vemos, é ter companhia, é caminhar de braço dado na procura de um caminho onde o mundo possa ser mais justo para todos. Poesia, poesia, mar salgado salvador de almas.


1. Poesia indicada por Maria Lúcia Levert


“AO LONGO DA MURALHA"

“Ao longo da muralha que habitamos

Há palavras de vida há palavras de morte

Há palavras imensas, que esperam por nós

E outras frágeis, que deixaram de esperar

Há palavras acesas como barcos

E há palavras homens, palavras que guardam

O seu segredo e a sua posição


Entre nós e as palavras, surdamente,

As mãos e as paredes de Elsenor


E há palavras e nocturnas palavras gemidos

Palavras que nos sobem ilegíveis À boca

Palavras diamantes palavras nunca escritas

Palavras impossíveis de escrever

Por não termos connosco cordas de violinos

Nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar

E os braços dos amantes escrevem muito alto

Muito além da azul onde oxidados morrem

Palavras maternais só sombra só soluço

Só espasmos só amor só solidão desfeita


Entre nós e as palavras, os emparedados

E entre nós e as palavras, o nosso dever falar.”


MÁRIO CESARINY


2. Poesia indicada pelo Bug Latino


“Lição”


“Ensinaram-lhe na missão,

Quando era pequenino:

“Somos todos filhos de Deus; cada Homem

é irmão doutro Homem!”


Disseram-lhe isto na missão,

quando era pequenino.

Naturalmente,

ele não ficou sempre menino:

cresceu, aprendeu a contar e a ler

e começou a conhecer

melhor essa mulher vendida

̶ que é a vida

de todos os desgraçados.


E então, uma vez, inocentemente,

olhou para um Homem e disse “Irmão…”

Mas o Homem pálido fulminou-o duramente

com seus olhos cheios de ódio

e respondeu-lhe: “Negro”.”


Noémia de Sousa

Moçambique

In “Sangue Negro” (2001)

3. Poesia de Teresa Vilaça


“Velhice e luta”


“1-

O rei está nu

mas não está morto.

Organiza seu poder

entre burguesas elites

Odeia trabalhadores

Zomba de trabalhadoras

Diverte-se com ingênua

explicação do mundo

Explora e empobrece

2-

E nós , envelheceremos sem sabedoria?

Não haverá solidão maior!

Quando a velhice nos afasta da luta

a morte acelera seus passos

Tão pequenos , tão pequenas nos tornamos!

O universo do trabalho nos aguarda

com sábias palavras

necessários atos

sofrimento e espanto.

Aprendamos

3-.

Os trabalhadores enrugam a testa

As trabalhadoras atentam com seriedade

Jovens buscam caminhos

enquanto as crianças cheias de espanto

aguardam

Seiva sangue insurreição

Sentido de vida

Ao descobrirem suas próprias mãos

aprenderão a ler toda realidade

Serão

4-

Juntos entenderemos a construção:

atos do dia a dia, firme escolha

organização, saberes.

Seremos então eternamente presentes

Venceremos”


Teresa Vilaça

POEMAS DO DIA A DIA

Salvador, 09 de setembro de 2020

48 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

ความคิดเห็น


bottom of page