Voltar ao que fomos e onde fomos é doloroso, até quando é escrito.
Nunca saberemos quem somos, quem são os outros, nem como nos entenderemos...?!?!
A poesia também é essa busca, esse confronto.
1. Poesia indicada por Bug Latino
“Soneto Visita à Casa Paterna”
“Como a ave que volta ao ninho antigo,
Depois de um longo e tenebroso inverno,
Eu quis também rever o lar paterno,
O meu primeiro e virginal abrigo:
Entrei. Um gênio carinhoso e amigo,
O fantasma talvez do amor materno,
Tomou-me as mãos,—olhou-me, grave e terno,
E, passo a passo, caminhou comigo.
Era esta a sala... (Oh! se me lembro! e quanto!)
Em que da luz noturna à claridade,
Minhas irmãs e minha mãe... O pranto
Jorrou-me em ondas... Resistir quem há-de?
Uma ilusão gemia em cada canto,
Chorava em cada canto uma saudade.”
Guimarães Junior
2. Poesia indicada por Maria Lúcia Levert
“É tudo pueril
É tudo supérfluo
Não conseguimos abrir
As nossas cabeças aos outros
As nossas emoções
Os nossos medos
A solidão a pesar sobre os ombros
A angústia, o mal-estar a transtornar-nos o dia
É como um anel demasiado apertado no dedo
Que só talvez se aparte de nós
Quando a vida também o fizer
Provavelmente nada é partilhável
Talvez, sejamos todos
Tão diferentes de tão iguais
Tão isolados e tão estupidamente próximos
Náufragos de ilusões
Na nossa grande pequenez
De querermos ser alguma coisa com sentido
E ficarmos sempre aquém da meta
Ou pior, remetidos a uma imbecilidade satisfeita
De quem não se vê e se imagina grande
A encher os olhos dos outros com uma admiração
Que só existe na sua cegueira covarde
Se houvesse algo que pudéssemos partilhar
Nos ecos dos dias
Deixaríamos de ser estranhos
Empacotados em embalagens semelhantes
Nas prateleiras dispersas da mesma época"
Ana Wiesenberger
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