Poesia para Os que Virão
- portalbuglatino
- 16 de abr.
- 2 min de leitura

“PARA OS QUE VIRÃO”
“Como sei pouco, e sou pouco,
faço o pouco que me cabe
me dando inteiro.
Sabendo que não vou ver
o homem que quero ser.
Já sofri o suficiente
para não enganar a ninguém:
principalmente aos que sofrem
na própria vida, a garra
da opressão, e nem sabem.
Não tenho o sol escondido
no meu bolso de palavras.
Sou simplesmente um homem
para quem já a primeira
e desolada pessoa
do singular – foi deixando,
devagar, sofridamente
de ser, para transformar-se
– muito mais sofridamente –
na primeira e profunda pessoa
do plural.
Não importa que doa: é tempo
de avançar de mão dada
com quem vai no mesmo rumo,
mesmo que longe ainda esteja
de aprender a conjugar
o verbo amar.
É tempo sobretudo
de deixar de ser apenas
a solitária vanguarda
de nós mesmos.
Se trata de ir ao encontro.
(Dura no peito, arde a límpida
verdade dos nossos erros.)
Se trata de abrir o rumo.
Os que virão, serão povo,
e saber serão, lutando.”
Thiago de Mello
Nascido em Barreirinha (interior do Estado do Amazonas), no dia 30 de março de 1926, Thiago de Mello conquistou reconhecimento nacional e internacional, tornando-se um dos mais expressivos poetas contemporâneos do país. É autor de livros reconhecidos mundialmente, como “Faz escuro, mas eu canto”, “Silêncio e palavra”, “Manaus, amor e memória”, entre outros. Além de escritor, exerceu o jornalismo e serviu no Itamaraty como adido cultural no Chile, onde cultivou uma grande amizade com Pablo Neruda e Salvador Allende.
“OS INGÊNUOS”
“Com as saias longas os tacões altos lutavam.
De modo que, ao sabor do terreno ou do vento,
as meias — e isso bem que era um divertimento —
ocultas quase sempre, às vezes se mostravam.
Também, às vezes, sob os ramos, se uns insetos,
pousando-lhes no colo, as belas surpreendiam,
uns súbitos clarões de alvas nucas se viam,
e isso nos regalava os olhos irrequietos.
Caía a tarde, tarde outonal e adequada.
E, pelo nosso braço, as belas, divagando,
iam tais cousas, tão sutis, nos sussurrando,
que desde então nossa alma ainda treme, espantada.”
Paul Verlaine




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