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Poesia para Os que Virão


Christina Motta
Christina Motta

“PARA OS QUE VIRÃO”

 

“Como sei pouco, e sou pouco,

faço o pouco que me cabe

me dando inteiro.

Sabendo que não vou ver

o homem que quero ser.

Já sofri o suficiente

para não enganar a ninguém:

principalmente aos que sofrem

na própria vida, a garra

da opressão, e nem sabem.

Não tenho o sol escondido

no meu bolso de palavras.

Sou simplesmente um homem

para quem já a primeira

e desolada pessoa

do singular – foi deixando,

devagar, sofridamente

de ser, para transformar-se

– muito mais sofridamente –

na primeira e profunda pessoa

do plural.

Não importa que doa: é tempo

de avançar de mão dada

com quem vai no mesmo rumo,

mesmo que longe ainda esteja

de aprender a conjugar

o verbo amar.

É tempo sobretudo

de deixar de ser apenas

a solitária vanguarda

de nós mesmos.

Se trata de ir ao encontro.

(Dura no peito, arde a límpida

verdade dos nossos erros.)

Se trata de abrir o rumo.

Os que virão, serão povo,

e saber serão, lutando.”

 

Thiago de Mello

Nascido em Barreirinha (interior do Estado do Amazonas), no dia 30 de março de 1926, Thiago de Mello conquistou reconhecimento nacional e internacional, tornando-se um dos mais expressivos poetas contemporâneos do país. É autor de livros reconhecidos mundialmente, como “Faz escuro, mas eu canto”, “Silêncio e palavra”, “Manaus, amor e memória”, entre outros. Além de escritor, exerceu o jornalismo e serviu no Itamaraty como adido cultural no Chile, onde cultivou uma grande amizade com Pablo Neruda e Salvador Allende.

 

“OS INGÊNUOS”

“Com as saias longas os tacões altos lutavam.

De modo que, ao sabor do terreno ou do vento,

as meias — e isso bem que era um divertimento —

ocultas quase sempre, às vezes se mostravam.

 

Também, às vezes, sob os ramos, se uns insetos,

pousando-lhes no colo, as belas surpreendiam,

uns súbitos clarões de alvas nucas se viam,

e isso nos regalava os olhos irrequietos.

 

Caía a tarde, tarde outonal e adequada.

E, pelo nosso braço, as belas, divagando,

iam tais cousas, tão sutis, nos sussurrando,

que desde então nossa alma ainda treme, espantada.”

Paul Verlaine

 
 
 

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