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Poesia nos valha!


Inhaminho

A pandemia, foi e é brutal e longa. Mas, para além dela, veio o aumento do desemprego, a falência de inúmeros negócios e serviços, as doenças indiretas, a menor eficácia dos serviços de saúde frente a tantas necessidades humanas, a pobreza, a fome, o desespero. E veio o que piora tudo isto – o silêncio, a vergonha e a falta de soluções.


1. Poesia indicada pelo Bug Latino


“As Coisas do mundo”


“Neste mundo é mais rico o que mais rapa:

Quem mais limpo se faz, tem mais carepa;

Com sua língua, ao nobre o vil decepa:

O velhaco maior sempre tem capa.

Mostra o patife da nobreza o mapa:

Quem tem mão de agarrar, ligeiro trepa;

Quem menos falar pode, mais increpa:

Quem dinheiro tiver, pode ser Papa.

A flor baixa se inculca por tulipa;

Bengala hoje na mão, ontem garlopa,

Mais isento se mostra o que mais chupa.

Para a tropa do trapo vazo a tripa

E mais não digo, porque a Musa topa

Em apa, epa, ipa, opa, upa.”


Gregório de Matos



2. Poesia indicada por Maria Lúcia Levert


“AS PESSOAS SENSÍVEIS”


"As pessoas sensíveis não são capazes

De matar galinhas,

Porém são capazes

De comer galinhas

O dinheiro cheira a pobre e cheira

À roupa do seu corpo

Aquela roupa

Que depois da chuva secou sobre o corpo

Porque não tinham outra

O dinheiro cheira a pobre e cheira

A roupa

Que depois do suor não foi lavada

Porque não tinham outra

“Ganharás o pão com o suor do teu rosto”

Assim nos foi imposto

E não:

“Com o suor dos outros ganharás o pão.”

Ó vendilhões do templo

Ó construtores

Das grandes estátuas balofas e pesadas

Ó cheiros de devoção e de proveito

Perdoai-lhes Senhor

Porque eles sabem o que fazem."


Sophia de Mello Breyner Andresen

In “Livro Sexto”

Editorial Caminho



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