“Ozimandias”
“Ao vir de antiga terra, disse-me um viajante:Duas pernas de pedra, enormes e sem corpo,Acham-se no deserto. E jaz, pouco distante,Afundando na areia, um rosto já quebrado,De lábio desdenhoso, olhar frio e arrogante:Mostra esse aspecto que o escultor bem conheciaQuantas paixões lá sobrevivem, nos fragmentos,À mão que as imitava e ao peito que as nutriaNo pedestal estas palavras notareis:“Meu nome é Ozymandias, e sou Rei dos Reis:Desesperai, ó Grandes, vendo as minhas obras!”Nada subsiste ali. Em torno à derrocadaDa ruína colossal, a areia ilimitadaSe estende ao longe, rasa, nua, abandonada.””
Percy Bysshe Shelley
(1792 – 1822), publicado em 1818
(tradução de Péricles Eugênio da Silva Ramos, 1989)
“Um friozinho faz cócegas na nuca,
é impossivel ver de imediato:
também a mim me corta o tempo como
a ti se desgasta e camba o salto.
A si mesma se vence a vida, o som
derrete pouco a pouco, falta sempre
qualquer coisa, até falta o tempo
para ter qualquer coisa que se lembre.
Dantes era melhor, é bem verdade;
esse velho sussurrar de outrora
em nada se pode comparar,
ó sangue, ao teu sussurrar de agora.
Pelos vistos não é gratuito
este leve mexer dos lábios,
e abanam, mexem-se os ramos
que condenaram a ser cortados.”
Óssip Mandelstam (1891 – 1938)
1922
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