
Preparo o futuro
Nos instantes do agora
Pequenos mas eternos
“BAILARINA”
“Dança, no palco da minha retina,
Tímida, triste, quase transparente,
Na melodia desta tarde quente,
Somente uma lágrima bailarina...
Com suas vestes, cobre de neblina
Esgazeada, todo o ambiente.
Não há plateia. Ela salta silente
Interpretando a dor que me alucina.
E no lusco fusco do fim do dia,
Morre nos sonhos desta nostalgia.
Fecho os meus olhos: cerro a cortina.
Vai se esgueirando para os bastidores
Onde, sem pressa, se despe das dores
Pondo um véu de flores e de purpurina”
Helenita Scherma
“Retrato de uma princesa desconhecida”
“Para que ela tivesse um pescoço tão fino
Para que os seus pulsos tivessem um quebrar de caule
Para que os seus olhos fossem tão frontais e limpos
Para que a sua espinha fosse tão direita
E ela usasse a cabeça tão erguida
Com uma tão simples claridade sobre a testa
Foram necessárias sucessivas gerações de escravos
De corpo dobrado e grossas mãos pacientes
Servindo sucessivas gerações de príncipes
Ainda um pouco toscos e grosseiros
Ávidos cruéis e fraudulentos
Foi um imenso desperdiçar de gente
Para que ela fosse aquela perfeição
Solitária exilada sem destino”
Sophia de Mello Breyner Andresen
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