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Poesia do Imaginado


Diana Markosian é uma artista americana de ascendência armênia que trabalha como fotógrafa documental, escritora e cineasta.

“Um amor feliz”

“Um amor feliz. Isso é normal,

isso é sério, isso é útil?

O que o mundo ganha com dois seres

que não veem o mundo?

Enaltecidos um para o outro sem nenhum mérito,

os primeiros quaisquer de milhões, mas convencidos

que assim devia ser — como prêmio de quê? De nada;

a luz cai de lugar nenhum —

por que justo nesses e não noutros?

Isso ofende a justiça? Sim.

Isso infringe os princípios cuidadosamente acumulados?

Derruba do cume a moral? Infringe e derruba, sim.

Observem estes felizardos:

se ao menos disfarçassem um pouco,

fingissem depressão, confortando assim os amigos!

Escutem como riem — é um insulto.

Em que língua falam — só entendi na aparência.

E esses seus rituais, cerimônias,

elaborados deveres recíprocos —

parece um complô contra a humanidade!

É difícil até imaginar onde se iria parar,

se seu exemplo fosse imitado.

Com que poderiam contar a religião, a poesia,

o que seria lembrado, o que, abandonado,

quem quereria ficar dentro do círculo?

Um amor feliz. Isso é necessário?

O tato e a razão nos mandam silenciar sobre ele

como sobre um escândalo das altas esferas da Vida.

Crianças perfeitas nascem sem sua ajuda.

Nunca conseguiria povoar a terra,

pois raramente acontece.

Os que não conhecem o amor feliz que afirmem

não existir em lugar nenhum um amor feliz.

Com essa crença lhes será mais fácil viver e morrer.”

Wislawa Szymborska

Wisława Szymborska foi uma escritora polonesa ganhadora do Prémio Nobel de literatura em 1996. Poeta, crítica literária e tradutora, viveu em Cracóvia.



“PARIS EM 1950”

para Robert Desnos

“Pequeno pequeno pequeno

ronronava a formiga de dezoito metros

aproximando-se dissimuladamente do Leão de Belfort

mas este fez orelhas moucas,

ele era não apenas de bronze

mas também cartesiano

e dizia para consigo que uma formiga de dezoito metros

não existe

não existe…

No que ele se enganava redondamente

o poeta a criou,

logo ela existe. Q.E.D.

Esteve ultimamente na Praça Denfer-Rochereau?”

Isabel Meyrelles

Escultora e poetisa surrealista portuguesa.

(1929, Matosinhos)

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