“Este vai-se, aquele vai-se,
e todos, todos se vão:
Galiza sem homens ficas
que te possam trabalhar.
Tens, em troca, órfãos e órfãs
e campos de solidão;
e mães que não têm filhos
e filhos que não têm pais.
E tens corações que sofrem
longas ausências mortais.
Viúvas de vivos e mortos
que ninguém consolará.”
Rosalía de Castro
(1837-1885)
Tradução de Ernesto Guerra da Cal
"13"
"Sant´Antônio bendito,
daí-me um homem,
ainda que me mate,
ainda que m´esfole.
Meu santo Sant´Antônio,
daí-me um hominho,
ainda que o tamanho tenha
d´um grão de milho.
Daí-mo, meu santo,
ainda que tenha os pés coxos,
tortos os braços.
Uma mulher sem homem...,
santo bendito!,
é corpinho sem alma,
festa sem trigo,
pau viradouro
que onde quer que vá
quebra que quebra.
Mas, tendo um hominho,
Virgem do Carmo!,
não há mundo que baste
pra alguém folgar.
Pois mesmo cambaio,
sempre é bom ter um homem
pra remediar.
Eu sei dum que cobiça
causa em quem o mira,
esbeltinho de corpo,
vermelho e encarnado,
carninhas de manteiga,
e palavras tão doces
quão mentirosas.
Por ele peno de dia,
de noite peno,
pensando nos seus olhos
cor de céu;
mas ele, já douto,
de namoricos entende,
de casar: pouco.
Fazei, meu Sant´Antônio,
que pra junto de mim venha
para casar comigo,
moça solteira
que levo de dote
uma colher de ferro,
quatro de buxo,
um irmãozinho novo
que já tem dentes,
uma vaquinha velha
que não dá leite...
Ai, meu santinho!:
fazei que tal suceda
qual vos peço.
Sant´Antônio bendito,
daí-me um homem,
ainda que me mate,
ainda que m´esfole,
pois mesmo cambaio,
sempre é bom ter um homem
pra remediar.”
Rosalía de Castro
(1837-1885)
Tradução de Henriqueta Lisboa
Comments