
“TUDO ESTÁ NAS MARGENS”
“Tudo está nas margens – ela pensa, enquanto bebe pausadamente um chá de gengibre com mel. Ela descobriu essa mistura recentemente, mas gosta dela, coça, arranha a garganta, ainda não sabe para quê, mas sente que não pode ser nada ruim. Sua cor é mal compreendida. Mas é quase amarelada, de um branco sujo, como quase todos. Depende do mel, de sua cor ou nenhuma. Mexe o líquido com uma colher pequena e o vapor sobe até o nariz para antecipar o sabor picante. Ela espirra agora. O cabelo caiu um pouco para a frente, devido ao movimento rápido simultâneo ao espirro.
E se as margens estivessem distorcidas? – ela indaga.”
Lía Colombino
Paraguay
“MEUS BENS”
“Fecharam o parque,
pavimentaram o gramado.
Eu não tenho mais
do que aquilo que guardam
meus bolsos rasgados;
um par de abacates,
alguns limões,
um gato sem dono,
demasiados beijos…
E tu,
que vais com os ombros carregados
de acordes maiores,
de peixes sem nome
e ao final do dia
só tens as mãos
tuas mãos e suas muitas bolhas
e um inverno ameno
que não satisfaz
teu desejo de frio.
E nós,
que mesmo somando
nossos escassos bens
não somos nada além de pó,
dúvidas,
caixa de correio sem casa
parque fechado,
cabelo sem tranças,
poemas soltos,
techaga’u,
não sei.”
Camila Recalde
Paraguay
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