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Foto do escritorportalbuglatino

Poesia da Integridade


Fotografia de Lisa Kristine - @lisakristinephotography

“Meu poema”


“eu tenho 25 anos

mulher negra poeta

escrevi um poema perguntando

preto você pode matar?

se eles me matarem

isso não vai parar

a revolução


eu fui roubada

me parece que eles sabiam

que eu ia ser atingida

eles levaram minha tv

meus dois anéis

minha pintura africana

e minhas duas armas

se eles tirarem minha vida

isso não vai parar

a revolução


meu telefone está grampeado

meu e-mail está aberto

eles me colocaram contra

todas as minhas velhas amizades

e contra todos os meus novos amantes

se eu odiar todas as pessoas negras

e todos os pretos,

isso não vai parar

a revolução


eu tenho medo de dizer

pra minha colega de quarto pra onde eu estou indo

e pavor de dizer

pras pessoas se eu vou mesmo

se eu me sentar aqui

pro resto

da minha vida

isso não vai parar a revolução


se eu nunca mais escrever nenhum poema

ou conto

se eu reprovar

a graduação

se meu carro for apreendido

e meu toca-discos

não tocar

e se eu nunca vir

um dia de paz

ou tiver uma atitude preta significativa

isso não vai parar

a revolução


a revolução

está nas ruas

e se eu ficar

no 5º andar

ela vai continuar

se eu nunca fizer

nada

ela vai continuar”

Nikki Giovanni

poeta, escritora, comentarista, educadora e ativista norte-americana.



“Integridade”


“a qualidade de ser completa, intacta, íntegra

Uma paciência selvagem me trouxe até aqui


como seu eu precisasse trazer a costa

um barco com um motor de popa espasmódico

suéteres velhos, redes, livros manchados

jogados na proa

um pouco de sol queimando minhas omoplatas.

Respingando nos remos. Queimando.

Seus antebraços podem se queimar, lambidos de dores

em um sol manchado como raiva muda

atrás de uma neblina casual.


A duração da luz do dia,

aqui no norte, no

quadragésimo nono ano da minha vida

é crítica.


A luz é crítica: de mim, desse

longo sonho, pouso involuntário

nos braços desse mar interno.

O brilho do cardume

empobrecido nas sombras

Eu vejo: a barraquinha de pinhos

realmente preto-violeta, verde como no antigo cartão postal

mas realmente eu não tenho nada além de mim

para passar; nada

permanece no reino da necessidade

exceto o que minhas mãos podem segurar.


Nada além de mim?….De mins.

Depois de tanto tempo, essa resposta.

Como se eu sempre soubesse

Eu conduzo o barco, simplesmente.

O motor morrendo nas pedrinhas

cigarras zumbindo

caídas no silêncio.


Raiva e ternura: meus eus.

E agora eu posso acreditar que elas respiram em mim

como anjos, não polaridades.

Raiva e ternura: a genialidade da aranha

que gira e tece no mesmo movimento

de seu corpo para, qualquer lugar –

mesmo em uma teia partida.


A cabine da barriquinha de pinos

ainda está a venda. Eu sei. Eu conheço a impressão

do último pé, a mão que bateu e trancou a porta,

e parou para cheirar as trepadeiras pisadas na chuva

caídas da treliça

por culpa de ninguém exceto delas mesmas.

Eu conheço o quadro pregado na parede

a chaleira gelada ocupando a boca do fogão.

A mão que martelou aqueles pregos

que esvaziou a chaleira pela última vez

são estas duas mãos

que pegaram o bebê pulando

com pernas trêmulas

e elas trabalharam o aspirador de pó

e acariciaram as têmporas suadas

e conduziram o barco através desta quente

machada, luz crítica

queimando imperceptivelmente

a pele que essas mãos também vão salvar.”

Adrienne Rich

Feminista, poeta, professora e escritora dos Estados Unidos


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