“Meu poema”
“eu tenho 25 anos
mulher negra poeta
escrevi um poema perguntando
preto você pode matar?
se eles me matarem
isso não vai parar
a revolução
eu fui roubada
me parece que eles sabiam
que eu ia ser atingida
eles levaram minha tv
meus dois anéis
minha pintura africana
e minhas duas armas
se eles tirarem minha vida
isso não vai parar
a revolução
meu telefone está grampeado
meu e-mail está aberto
eles me colocaram contra
todas as minhas velhas amizades
e contra todos os meus novos amantes
se eu odiar todas as pessoas negras
e todos os pretos,
isso não vai parar
a revolução
eu tenho medo de dizer
pra minha colega de quarto pra onde eu estou indo
e pavor de dizer
pras pessoas se eu vou mesmo
se eu me sentar aqui
pro resto
da minha vida
isso não vai parar a revolução
se eu nunca mais escrever nenhum poema
ou conto
se eu reprovar
a graduação
se meu carro for apreendido
e meu toca-discos
não tocar
e se eu nunca vir
um dia de paz
ou tiver uma atitude preta significativa
isso não vai parar
a revolução
a revolução
está nas ruas
e se eu ficar
no 5º andar
ela vai continuar
se eu nunca fizer
nada
ela vai continuar”
Nikki Giovanni
poeta, escritora, comentarista, educadora e ativista norte-americana.
“Integridade”
“a qualidade de ser completa, intacta, íntegra
Uma paciência selvagem me trouxe até aqui
como seu eu precisasse trazer a costa
um barco com um motor de popa espasmódico
suéteres velhos, redes, livros manchados
jogados na proa
um pouco de sol queimando minhas omoplatas.
Respingando nos remos. Queimando.
Seus antebraços podem se queimar, lambidos de dores
em um sol manchado como raiva muda
atrás de uma neblina casual.
A duração da luz do dia,
aqui no norte, no
quadragésimo nono ano da minha vida
é crítica.
A luz é crítica: de mim, desse
longo sonho, pouso involuntário
nos braços desse mar interno.
O brilho do cardume
empobrecido nas sombras
Eu vejo: a barraquinha de pinhos
realmente preto-violeta, verde como no antigo cartão postal
mas realmente eu não tenho nada além de mim
para passar; nada
permanece no reino da necessidade
exceto o que minhas mãos podem segurar.
Nada além de mim?….De mins.
Depois de tanto tempo, essa resposta.
Como se eu sempre soubesse
Eu conduzo o barco, simplesmente.
O motor morrendo nas pedrinhas
cigarras zumbindo
caídas no silêncio.
Raiva e ternura: meus eus.
E agora eu posso acreditar que elas respiram em mim
como anjos, não polaridades.
Raiva e ternura: a genialidade da aranha
que gira e tece no mesmo movimento
de seu corpo para, qualquer lugar –
mesmo em uma teia partida.
A cabine da barriquinha de pinos
ainda está a venda. Eu sei. Eu conheço a impressão
do último pé, a mão que bateu e trancou a porta,
e parou para cheirar as trepadeiras pisadas na chuva
caídas da treliça
por culpa de ninguém exceto delas mesmas.
Eu conheço o quadro pregado na parede
a chaleira gelada ocupando a boca do fogão.
A mão que martelou aqueles pregos
que esvaziou a chaleira pela última vez
são estas duas mãos
que pegaram o bebê pulando
com pernas trêmulas
e elas trabalharam o aspirador de pó
e acariciaram as têmporas suadas
e conduziram o barco através desta quente
machada, luz crítica
queimando imperceptivelmente
a pele que essas mãos também vão salvar.”
Adrienne Rich
Feminista, poeta, professora e escritora dos Estados Unidos
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