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Poesia da igualdade


Todos somos iguais

Todos somos miseráveis

Todos somos espantosos

Tentemos ser o melhor de nós

Valorizemos o tempo

Os instantes...


1. Poesia indicada pelo Bug Latino


“Quem sou eu?”


“[...]Eu bem sei que sou qual grilo

De maçante e mau estilo;

E que os homens poderosos

Desta arenga receosos

Hão de chamar-me — tarelo,

Bode, negro, Mongibelo;

Porém eu que não me abalo,

Vou tangendo o meu badalo

Com repique impertinente,

Pondo a trote muita gente.

Se negro sou, ou sou bode

Pouco importa. O que isto pode?

Bodes há de toda a casta,

Pois que a espécie é muito vasta.

Há cinzentos, há rajados,

Baios, pampas e malhados,

Bodes negros, bodes brancos,

E, sejamos todos francos,

Uns plebeus, e outros nobres,


Bodes ricos, bodes pobres,

Bodes sábios, importantes,

E também alguns tratantes

Aqui, nesta boa terra

Marram todos, tudo berra;

Nobres Condes e Duquesas,

Ricas Damas e Marquesas,

Deputados, senadores,

Gentis-homens, veadores;

Belas Damas emproadas,

De nobreza empatufadas;

Repimpados principotes,

Orgulhosos fidalgotes,

Frades, Bispos, Cardeais,

Fanfarrões imperiais,

Gentes pobres, nobres gentes

Em todos há meus parentes.

Entre a brava militança

Fulge e brilha alta bodança;

Guardas, Cabos, Furriéis,

Brigadeiros, Coronéis,

Destemidos Marechais,

Rutilantes Generais,

Capitães-de-mar-e-guerra,

— Tudo marra, tudo berra —

Na suprema eternidade,

Onde habita a Divindade,

Bodes há santificados,


Que por nós são adorados.

Entre o coro dos Anjinhos

Também há muitos bodinhos...[...]”


Luiz Gama (1830-1882)

Salvador – Bahia


Poema popularmente chamado de “Bodarrada” (significava Bode, Mulato, Negro)


“Jornalista, poeta, advogado e um ativista incansável na luta contra o regime escravocrata.” Citação retirada de: https://estadodaarte.estadao.com.br/luiz-gama-heroi-liberdade/



2. Poesia indicada por Maria Lúcia Levert


"Explicação da Eternidade”


"devagar, o tempo transforma tudo em tempo.

o ódio transforma-se em tempo, o amor

transforma-se em tempo, a dor transforma-se

em tempo.

os assuntos que julgámos mais profundos,

mais impossíveis, mais permanentes e imutáveis,

transformam-se devagar em tempo.

por si só, o tempo não é nada.

a idade de nada é nada.

a eternidade não existe.

no entanto, a eternidade existe.

os instantes dos teus olhos parados sobre mim eram eternos.

os instantes do teu sorriso eram eternos.

os instantes do teu corpo de luz eram eternos.

foste eterna até ao fim."


José Luís Peixoto

in "A Casa, A Escuridão"


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