"O BRASIL DO ORGULHO" e “Por Favor, Não!” Bug Sociedade
- portalbuglatino
- 19 de ago.
- 6 min de leitura

"O BRASIL DO ORGULHO" BUG SOCIEDADE
Lembram da musiquinha de quando o Ayrton Senna ganhava a corrida, aquele punho fechado dentro do cockpit? Ta-ta-ta... Ta-ta-ta... Pois é... aquela sensação tinha nome: orgulho.
Quando o Washington Post publicou a entrevista com o Xandão – assim, com a intimidade que a gente tem com quem cumpre seu papel custe o custar – dizendo: “Alexandre de Moraes: o juiz que se recusa a ceder à vontade de Trump" – me veio na hora a mesma musiquinha: Ta-ta-ta...
Quem acreditaria que seríamos nós a ensinar aos Estados Unidos e ao mundo como defender as democracias? Justo nós: useiros e vezeiros em tentativas mal e bem sucedidas de golpes de estado, desde o nosso nascimento enquanto república... O Brasil é inacreditável nesses caprichos da vida. Passa despercebido mil vezes. Um milhão de vezes. Aparece nas notícias fazendo uma carreta de coisas que poderia passar muito bem sem fazer. De repente: Castro Alves. Drumond. Lispector. Jorge Amado. Garrincha. Pelé. Seleção de 1970. Saque do Bernard. Ayrton.
Tínhamos parado de torpedear o mundo com pessoas que realmente sabiam o que queriam na vida. Fomos, ao contrário, nos deixando invadir por sumários interesseiros, como o Tiranossauro Temer, seguido dele - o terror da democracia e da vida livre – Bolsonaro. Ele, cuspindo nas nossas dores, sempre – rindo das nossas desditas.
Comecei a desconfiar que algo estava de novo ia brotar quando Dino, ainda Ministro da justiça, veio com: “se você é SWAT, eu sou Avenger”. Gênio. Um drible seco, totalmente inesperado. Gol de placa. Mas ele jogava no ataque. Gênio mesmo seria fazer a mesma coisa, mas jogando na defesa.
Aí começaram bombas pra todos os lados. Bombas no posto de gasolina, ônibus incendiados, estradas paradas, repetidoras quebradas, gente maluca cantando hino pra pneu de caminhão, gente maluca tentando invadir a Polícia Federal, gente maluca marchando e rezando ao mesmo tempo, chamando exército. Mais do que isso: desfile de blindados “baleados” antes de votação importante no Congresso, discursos incendiários contra urna, contra voto, contra o Supremo. Discurso contra o Xandão. Mil discursos contra o Xandão. Mensagens receptadas contra o Xandão, plano para a morte, o aprisionamento, sequestro – tudo contra o Xandão. Roberto Jeferson joga granada, atira, acerta polícia.
Acerta muito mais quando tira o Xandão do distanciamento do título, nome e sobrenome – o Presidente do Supremo tribunal Eleitoral, Ministro Alexandre de Moraes - para jogar o Xandão nos braços do povo.
- Xandão, Xandão... o Jeferson gravou vários vídeos que começavam assim, lembram? Criou uma marca de qualidade. Se o cabra é corajoso, tem que ser Xandão. Se é desafiado, dobra a aposta.
Hoje, portanto, no Washington Post, lá estava o novo herói brasileiro. Os americanos podem ter The Flash; nós temos o Xandão, que sem titubear, sem desistir, sem nos trair e à justiça, depois de alguns anos – poucos – está conduzindo o julgamento dos quatro grupos participantes da tentativa de golpe de estado perpetrado em 8 de janeiro e continuado até hoje, de muitos modos. E na entrevista, ele, o Xandão, mete essa: "Faremos o que é certo: receberemos a acusação, analisaremos as provas e quem deve ser condenado será condenado, e quem deve ser absolvido será absolvido. Não há a menor possibilidade de recuar nem um milímetro”. Ta-ta-ta... Ta-ta-ta... Brasil-sil-sil...
O Trump não conhecia esse mistério brasileiro de fazer surgir algo totalmente inesperado do nada. Deveria ter acreditado quando Dino interrompeu as Big Techs na audiência para a regulação das redes; mas isso ele, na sua soberba, nem viu. Pois, as mãos do tiranossauro Temer fizeram o parto do grandioso Xandão, herói da democracia, marca de uma justiça que defende a lei. O resto é lenda.
... E assim, Maria Felipa, Maria Quitéria e Joana Angélica, que se entregaram em nome da nossa liberdade, aqui na Bahia, se uniram a alguém que não era do povo, era juiz; que nem parecia sensível; mas foi ele – ele – que está unindo o 2 de Julho ao 7 de setembro numa única independência – a nossa – a do Brasil.
Ta-ta-ta... Ta-ta-ta...
ANA RIBEIRO, diretora de teatro, cinema e TV
“Por Favor, Não!” Bug Sociedade
Nunca sentiu que a sua vida é demasiado complexa? Parece não ter saída? Sem solução, que pelo menos você conheça ou tenha capacidade? No esporte a gente chama a isso de “desafio”. Pensamos que temos um desafio perante nós que exige que pensemos de forma diferente da que pensamos até aquele momento. Que tenhamos mais esperança do que alguma vez tivemos. Que sejamos capazes de acreditar que o desconhecido que vamos começar a atravessar, pode ser bom, se o desejarmos, se nos entregarmos a isso, se soubermos utilizar o conhecimento e a experiência que adquirimos até aquele momento. Mas, para além disso tudo, se fizermos o mais importante – se não desistirmos. Os grandes da história não desistiram, fossem quais fossem as condições, as respostas do mundo, as dificuldades. Não falo de teimosos e cegos, que apenas querem insistir na sua vontade, sem saber o que fazem. Chamo de iluminados, de visionários.
Caminho pela vida há quase 60 anos e uma das minhas causas é que qualquer pessoa acredite que tem dentro de si essas mesmas qualidades. Não interessa onde nasceu ou o dinheiro que tem. Todos somos visionários e iluminados. Todos. Mas todos precisamos de “ligar esse botão”. Todos precisamos de mergulhar fundo nessa vontade, nessa intenção, nesse querer. Todos precisamos desligar o volume do som que entra na nossa cabeça e fragiliza nossos pensamentos, das vozes da sociedade – do que é certo, do que se espera, do que te vai dar dinheiro, fama, felicidade. É uma escolha. Um passo. A escolha entre duas portas: a porta onde te formatas e fazes parte, sendo alguém que vai na manada ou a porta onde deixas crescer o gigante fogo da vontade de viver e de fazer coisas boas para todos e por todos. Sabemos todos que não interessa o nível de dificuldade - basta lembrar Nelson Mandela, por exemplo. Também não existe limite de tempo, nem de idade – pensemos na idade em que Cora Coralina escreveu seu primeiro livro, por exemplo. Uma amiga querida daqui de Salvador, é uma das Chefes de Cozinha mais incríveis que conheço. Faz comida e todo o protocolo dos eventos, para mil pessoas tranquilamente. Sua avó tinha no antebraço a marca de escrava. A travessia que fez até hoje é inimaginável. Quem a conhece fica deslumbrado pela sua graça, doçura, generosidade e bondade. Ela acendeu o seu fogo. Tinha todas as razões para acender sua raiva e outros sentimentos destrutivos, mas não o fez. Salvou sua vida e de cada vez que alguém tem a oportunidade de comer sua comida, sente-se salvo. Foi assim que a conhecemos – comendo sua comida num evento, há uns anos atrás. Não era só comida, não era só comida de preceito. Era Jaciara, a Deusa da comida que te salva.
Para finalizar, aconselho este pequeno vídeo da psicóloga, Aidda Pustilnik. Aidda fala: “A ordem produz a vida. Se eu não estou organizada eu não consigo ocupar o meu lugar na vida. Não lembro quem era, mas um palestrante foi falar para jovens que estavam se formando e começou por dizer: “eu estou aqui para vos orientar e ajudar, para que se possam colocar na vida e encontrar o seu lugar. Primeira tarefa: arrume a sua cama diariamente.” Todos riram e ele prosseguiu: “Você arrumou a sua cama em dois minutos, mas começou o seu dia com uma sensação interna de ordem. Isso é muito importante.”” Ela é maravilhosa e tem muitos outros ensinamentos, mas este, o da disciplina e ordem interior, somado a essa decisão de sermos o ser iluminado que está dentro de cada um de nós, quem sabe acendem o seu fogo? Repito o pedido que venho fazendo: precisamos de entrar nas redes sociais, precisamos ocupar espaço público, precisamos sair do nosso silêncio porque as pessoas que não são bondosas estão tomando conta de todos os espaços e de todos os poderes. Não podemos ficar mais dizendo que não somos pessoas de “circular nas redes”, de “armar confusão”, etc. Temos de nos manter boas pessoas, acender nosso fogo e nossa luz, organizar o mundo e ocupar os espaços generosamente. Senão os espaços vão continuar a ser ocupados desordenadamente, gananciosamente e agressivamente. Não. Por favor, não.
Ana Santos, professora, jornalista




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