“Marielle, a protetora do Brasil” Bug Sociedade
Que revelação, surpresa, domingo de Ramos, resposta, justiça. Que traição, essa do chefe de polícia. Um monstro, um psicopata insensível. Termos votado na democracia, que trouxe Lula, que trouxe Flavio Dino, que devolveu honestidade e perseverança ao trabalho da Polícia Federal e que encontrou as pontas que esse Rivaldo do mal tentou à toda prova esconder. Um resumo curto de um dia intenso. Mas há lições: Não podemos admitir que a falta de escrúpulos que nos levaram a conviver com tanta violência diária nos alicie, no sentido de nos tornar passivos, letárgicos. Quem aceita a violência é refém dela; essa história de que bandido bom é bandido morto é mentira. Somos reféns da nossa insegurança, temos medo de tudo e isso não tem cor, status, emprego. Nossa única saída é a exigência e a cobrança constantes de qualidade dos políticos e suas políticas: Isso é exigir planejamento para tudo e não “favores particulares”. Precisamos decidir se queremos que o Brasil cresça ou se desenvolva. O Brasil que cresce, cresce ao léu, pode ser bom ou mau – nós conhecemos esse Brasil muito bem, desde sempre: a gente vai sobrevivendo como pode, mesmo que sem respeito pra todos, mesmo que fugindo de tiros, com educação ruim, com medo de bandido, de polícia, da justiça. Porém, o Brasil que se desenvolve – e que pra nós é ainda um sonho - tem planejamento, direção, ideias, o nosso consentimento e um caminho a seguir. Tem problemas, mas tem confiança de que tudo pode ser solucionado e não comprado – e sobretudo – não vendido, não corruptível. Esse País não tem ideologia, nem partidos. Tem princípios. E tem a nós, seu povo.
- Ninguém toca na democracia! Respeito é pra todo mundo! Quem erra cai fora.
Aí você vai dizer que é impossível e eu vou insistir: não é.
Nós temos – e foi o Nordeste quem buscou isso com unhas e dentes, na eleição passada: o passe sagrado da democracia. Nos ofereceram promessas, dinheiro, carteirada, quando tudo falhou vieram blitzes, polícia – nada disso adiantou. De alguma forma, aqui, todos entendemos profundamente que era uma luta e que cada pessoa só tinha uma arma, que era o seu voto.
Um voto só que pode funcionar como uma “bomba atômica de democracia” ou como um “traque” do “se vire e ande armado como um troglodita”. Um voto só e todos são iguais – ricos e pobres. Um voto só e todos temos o mesmo poder nas mãos. Mas é um voto só pra cada um.
Marielle, sem nunca ter pensado nisso, pode vir a ser a libertadora do Brasil, nos colocando diante do desenvolvimento, finalmente. Nada de crescer como mato. Nunca mais olhar ao redor e ver coisas patológicas, asquerosas. Marielle morreu e a junção de pessoas tão díspares: ela, Flavio Dino, Ministro Xandão, Polícia Federal e Lewandowsky apontaram juntos a brecha na parede da corrupção, o rato que pode roer as vestes dos verdadeiros reis do Rio – bicheiros, milicianos e traficantes.
Seria a glória, a vitória inusitada! A negra, favelada, lésbica que deveria ir para a parte nublada da história coloca luz na história toda - que preferiu sempre a neblina do crime. Vem então a “pobre”, morre no meio da rua e assim, na sua ausência, no seu sangue derramado no bairro do Estácio, desbarata toda uma organização criminosa: Estado, Instituições, pessoas, cargos, todos os vendidos – caem sob o poder dos pobres! Dia 24/03 – ou 14/03 deveria ser um dia de homenagem: o dia em que, ao morrer, alguém ressuscita a vida como ela deveria ter sido sempre – coletivamente respeitosa.
- Se alguém quer matar-me de amor, que me mate no Estácio!
Nós podemos fazer isso. Um voto só. Todo o poder do mundo nos dedos de cada um.
O seu será bomba ou traque?
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
“Confiar...no novo mundo” Bug Sociedade
Vinicius Jr., tem 23 anos. Um jovem jogador de futebol com uma personalidade impressionante. Massacrado constantemente pelos racistas que pipocam a cada esquina, na Europa e no mundo, dá a cara por todos os que sofrem como ele, estuda o assunto, tenta resolver, tenta compreender, tenta solucionar. Como é possível que pessoas mais velhas do que ele, com mais anos de futebol - como torcedores, como jornalistas, como atletas, como treinadores, como dirigentes - não se mexam para tentar mudar seus comportamentos? Não se disponham a aprender, a estudar, a enfrentar seus próprios preconceitos? Vini é o meu Pelé, do século XXI e desejo que ele consiga seguir o caminho que está fazendo. Cada um de nós fica destruído por ouvir alguém dizer mal de nós, falar da gente injustamente. Imaginem-se com 23 anos, com multidões fazendo isso, todos os dias, por todo o lado, apenas por maldade, diversão, apenas demonstrando sua podridão, com a sociedade permitindo – uma sociedade que lamenta muito mas incapaz de punir, de impedir, de fazer o que é certo. Vini poderia ter 1 minuto de aplauso, com a torcida de pé gritando seu nome, no início do jogo de hoje. Fazem-se tantos minutos de silêncio - e bem - um minuto de aplausos agradecendo a Vini pela forma como enfrenta tudo isto, era bem legal. E justo. Seria um bonito gesto, num amistoso, que está incluído na campanha da CBF, “Uma só pele, uma só identidade”, no estádio do Real Madrid - Santiago Bernabéu. Vini precisa ouvir constantemente que tem gente que o admira, que agradece o que ele faz, gente que lhe dê forças. Porque a energia negativa do que lhe fazem é muito destrutiva. E não podemos ficar apenas olhando. Assista à entrevista emocionante de Vinicius Jr., aqui e se nunca o viu a jogar, hoje é um bom dia.
Domingo foi um dia muito intenso e os próximos tempos também serão. Marielle Franco foi atraiçoada, sua família e amigos também. Não é só por ter sido assassinada de forma calculada e fria. Não é só ter sido vigiada por espiões inseridos no seu partido, fazendo-se passar por pessoas de confiança. Não é só porque o diretor de polícia, naquela época, mentia descaradamente dizendo que era uma questão de honra descobrir os culpados, com abraços e palavras de conforto falsas, mantendo-se sempre próximo para estar a par das informações. E mais e mais. Não é só por tudo isso. É também porque precisamos aceitar que vivemos e trabalhamos junto de sociopatas, psicopatas. Pessoas que não sentem remorsos, que são capazes de fazer o que for preciso para atingir seus objetivos. E se uns mentem, atraiçoam, são agressivos e essas estratégias são suficientes para chegarem onde desejam, outros enfrentarão pessoas como Marielle. Enfrentarão as “Marielles” da vida e elas precisam estar atentas, precisam se cuidar, precisam perceber que os “lobos maus” se vestem regularmente de capuchinho vermelho. Dizem aqui na Bahia que o Brasil não é para “meninos”. Eu diria que a vida não é para “meninos”, principalmente quando você se entrega totalmente a causas sociais difíceis e amarradas a preconceitos, a poderes, a egos, a invejas. Por isso, todos, e principalmente, todas as que quebram barreiras sociais, precisam estar muito atentas, precisam saber muito bem em quem confiar, precisam proteger religiosamente sua intimidade, precisam vigiar “suas costas”. Tem gente capaz de tudo. E infelizmente isso não acontece só com pessoas incríveis como Marielle Franco. Se cuide.
Vejo muitos homens partindo para a porrada, defendendo a sua “honra”, porque alguém lhes deu um empurrão, lhes passou na frente, de carro, lhes disse algumas palavras “pesadas”. E muitos outros homens os defendem. Mas uma mulher que é estuprada, parece nem ter o direito de ser respeitada, nem de obter justiça. Penso que é preciso olhar de forma séria para a proteção que se dá a atletas famosos, a homens famosos. Eles merecem mais proteção do que as outras pessoas? Penso que precisamos olhar para a alta competição e rever até onde pode ir e se comportar, alguém que é o melhor do mundo no seu trabalho. Essas pessoas podem tudo? Os que lideram e gerem clubes e seleções percebem o que fazem, ao acobertar, ao perdoar, ao permitir “demasiado espaço” às estrelas? Existe muito, demasiado a corrigir. E tudo isto serve para o filho que é bom aluno, para o marido que é um empresário de sucesso, para qualquer pessoa que conseguiu cumprir parâmetros elevados na sociedade. Isso não os deve transformar em superiores, muito menos em gente sem limites.
Ana Santos, professora, jornalista
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