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“LUTOS” e “E agora Sara Tavares?” Bug Sociedade


Universo, Irene Vilar

“LUTOS” Bug Sociedade

São tantos... nos despedimos de coisas e pessoas o tempo inteiro e cada um deles deixa uma dor. No caso de pessoas então, a dor – seja por rompimento, morte, demissão – muitas vezes não vem de forma consciente. É como partir um osso – você sabe que algo não está mais “ligado normalmente”, mas é algo indefinível, uma falta que não se sabe dizer onde está.

A minha “xará” que faleceu no show da Taylor Swift nem pensou em clima extremo – não estamos acostumados a ter que colocar esse pensamento antes de tudo o que fazemos. Você vai à praia a que horas? Quantas horas de espera na fila do show? Tem água de graça, né?

Os produtores nem pensaram nisso. Iam vender água – se possível bem caro – e pronto. Nada mais é o mesmo no clima extremo. Os prefeitos nem pensam em árvores e remédios de cupim ou vitaminas que os evitem – mas vão ter que pensar. O prefeito de Salvador não plantou um único pé de árvore na Avenida Centenário: cimentou muita terra, fez até “parquinho de pet”. Mas não pensou em colocar mais sombra, mesmo “ouvindo dizer” que num lugar chamado Rio de Janeiro alguém morreu de insolação. Que alguém saudável teve uma parada cardíaca por causa do sol – e que bem antes do verão, a sensação térmica lá beirava os 60 graus.

Os políticos ainda vão se dizer “surpresos” porque caiu tempestade ao invés de chuva, o calor desértico veio do nada, a falta de água está anormal” naquela época do ano e se ofenderem quando o jornalista se espantar com a resposta? Há uns 20 ou 30 anos se fala sem parar que isso iria acontecer, afinal. A culpa vai ser da árvore que caiu? De São Pedro? De Deus?

Eles dizem isso e somem até a eleição. A nós caberão os lutos. Nesse sentido, parabéns (mais uma vez) ao Ministério da Justiça, que saiu do imobilismo das falas inúteis e obrigou os grandes espaços a oferecerem água gratuitamente – molhar as pessoas poderia ser uma outra boa ideia, como nas arenas de vôlei de praia. Apenas, por favor, não se digam hipocritamente surpresos com nada que tenha relação com o clima.

Ao ministro do desenvolvimento afirmo que o BNDES deve começar a planejar oferecer “aos que têm telhado”, a possibilidade de serem sócios do Brasil na oferta de energia solar – a nossa energia limpa é um trunfo que não podemos perder, mas depender tanto da água... talvez seja bom alguém tomar a dianteira. Minha sugestão é que se pague o preço de custo com o financiamento do BNDES e depois, por X anos, a energia vai em grande parte para a ANEEL. Nada de termoelétricas caríssimas. Somos abençoados pelo sol e não dá pra os mesmos lucrarem sempre em cima de tudo.

Nosso luto não precisa de lágrimas, mas de soluções. Nos ouçam. Senhores políticos, não dói ouvir. Se o Prefeito da minha cidade nos ouvisse, as mudas de árvores iriam pipocar nas calçadas, ao invés de cimento pra BRT, cimento em praça, cimento em quadra, cimento nas pranchas de abdominais, tijolos de cimento nas pistas de bike, numa cidade cinza, pintada com pistas vermelhas, mais quente e insuportável.

Nunca mais esqueceremos o “Fufuca” – sim, aquele desconhecido que não sabe nada de esporte e que tomou o lugar de Ana Mozer “com gula”. Há um limite, Sr Centrão, pra esse “me compra que eu gosto”. O limite é o luto, por exemplo.

Segue a vida, com guerras, mortes inúteis e perdas. Mas na eleição, se tirar árvore sem plantar cinco no lugar, é contra mim, é contra o planeta, é contra a vida - a nossa vida. Solução para o lixo, onde está? Educação ambiental nas escolas, onde está? Separação - pelo menos – de lixo orgânico e inorgânico, quando começa? Mas isso é pra ontem, é o atraso dos prefeitos. Chega dessa “carinha de fui surpreendido” quando todos sabemos o que mudou no planeta. A fazenda que fez a queimada na Amazônia agora tem que arcar com a enchente no Sul e os incêndios do Pantanal. Tudo interligado porque a mãe Terra é assim.

Enquanto isso, choramos, é o jeito.

Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV


“E agora Sara Tavares?” Bug Sociedade

Sara Tavares, letrista, compositora e cantora, morreu no domingo com 45 anos. A Sara, sem saber, me fez e me fará, muita companhia na vida. Podemos ser verdadeiramente quem somos, quem viemos ser. Precisamos de o fazer. Precisamos, o mais cedo que for possível, “vestir as roupas” que nos fazem sentir bem. Falar, fazer, construir, enfrentar, sentir, criar, o que realmente importa. A Sara podia ter ganho milhões se fizesse o que esperavam dela. Em outra área, eu também. Eu estive perto da “rampa de lançamento” para ter uma vida de sucesso superficial. Saltei fora. Não era esse o meu trilho. Não vim colecionar carros, filhos, prêmios, currículos, casas, terras, medalhas, amigos em quantidade.

Não teremos a sorte de conhecer pessoas como a Sara muitas vezes. E de recarregar nossas baterias emocionais nas suas palavras, ações, músicas, voz, no seu olhar e sorriso sinceros, claros, puros, reais.

Vivemos mergulhados em negócios, em preocupações de economia e ninguém é nada sem saber algo de marketing. Ouçam as músicas da Sara Tavares, ouçam suas entrevistas. Ela nos acena lá do outro lado do rio, nos lembrando de existir, nos lembrando do que é realmente importante.

“Eu quero é mesmo viver um dia de cada vez e curtir um dia de cada vez. Quero conhecer gente que me inspire porque a inspiração faz a gente sentir-se viva. Quero sentir que estou cá e que estou a tirar sabor da vida. (...) Vivo os momentos muito intensamente e sou assim meio desapegada do mundo. Vivo isto com se fosse uma passagem. Também me interessa chegar à outra margem.” Sara Tavares

“A cada um o que é seu. Tudo o que me aconteceu sempre me pareceu familiar quando tomei conhecimento. E ao contrário de me revoltar sempre pensei, porque não eu? Acontece todos os dias a alguém, por que não eu?” Sara Tavares

Ontem foi o dia da Consciência Negra, com imensas ações, vídeos, frases. Todas falam o que se deve fazer. Todas as pessoas querem aparecer como pessoas que querem a mudança. Mas nada se faz. Nada muda. Nada acontece. Até ao dia 20 de novembro de 2024. Só se fala o que está errado. Não se faz, não se muda, nem se coloca as pessoas em situações que as motivem a mudar. Séculos que nos mostram que não é esta a melhor forma. Porque insistimos? Para fazer de conta que queremos mudança? Porque não sabemos como fazer melhor? Não é possível que continuemos a fazer ações paliativas sabendo que são paliativas apenas. Se quisessemos REALMENTE mudar, mudávamos. Sara Tavares foi um exemplo estrondoso de alguém que iluminou e uniu a cultura caboverdiana, a cultura portuguesa, a cultura africana, que juntou pessoas, que mostrou que não se cala uma pessoa - uma mulher, quando ela quer e quando ela sabe o caminho certo contra o racismo, a homofobia, a xenofobia. E o fez com bondade, com graça, com pulsação, com ritmo.

Ana Santos, professora, jornalista

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