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Jorro de poesia

As palavras são desabafos, carinhos, abraços. Podem ser o faz de conta ou o que somos. Ninguém precisa saber. Dois poemas com palavras inteiras, fundas, verdadeiras. Poesia, uma forma de partilhar as dores, os medos, as alegrias que achamos serem só nossas. Todos em casa e todos sofrendo juntos aguardando o momento de tudo voltar de novo.
1. Poesia indicada pelo Bug Latino
“Despedida”
“Por mim, e por vós, e por mais aquilo
que está onde as outras coisas nunca estão,
deixo o mar bravo e o céu tranquilo:
quero solidão.
Meu caminho é sem marcos nem paisagens.
E como o conheces? - me perguntarão.
- Por não ter palavras, por não ter imagens.
Nenhum inimigo e nenhum irmão.
Que procuras? - Tudo. Que desejas? - Nada.
Viajo sozinha com o meu coração.
Não ando perdida, mas desencontrada.
Levo o meu rumo na minha mão.
A memória voou da minha fronte.
Voou meu amor, minha imaginação...
Talvez eu morra antes do horizonte.
Memória, amor e o resto onde estarão?
Deixo aqui meu corpo, entre o sol e a terra.
(Beijo-te, corpo meu, todo desilusão!
Estandarte triste de uma estranha guerra...)
Quero solidão.”
Cecília Meireles
2. Poesia indicada pelo Bug Latino
“SE EU QUISER FALAR COM DEUS”
“Se eu quiser falar com Deus
Tenho que ficar a sós
Tenho que apagar a luz
Tenho que calar a voz
Tenho que encontrar a paz
Tenho que folgar os nós
Dos sapatos, da gravata
Dos desejos, dos receios
Tenho que esquecer a data
Tenho que perder a conta
Tenho que ter mãos vazias
Ter a alma e o corpo nus