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“JORNALISMO DE CORAGEM – PRA INGLÊS VER, CLARO” e“Vivemos com pressa” Bug Sociedade


Eleonore Koch
Eleonore Koch

“JORNALISMO DE CORAGEM – PRA INGLÊS VER, CLARO” Bug Sociedade

                  Piers Morgan, jornalista e apresentador de TV britânico tarimbado, retrucou a Tzipi Hotovely, embaixadora de Israel no Reino Unido como ela pode achar irrelevante o dado de quantas crianças foram mortas por Israel nessa guerra com Gaza. Como matar mulheres e crianças pode ser um dado irrelevante? Como a falta de informações e cobertura jornalística pode continuar acontecendo, sem que haja uma suspeita clara de que foi adotada uma estratégia de afastar a imprensa da cobertura para que ninguém saiba quais são as verdadeiras perdas?

                  Em alto e bom som, Morgan perguntou: - Israel está matando crianças todo dia (...) O que você está tentando fazer é ser muito mesquinho com suas palavras. A verdade é que vocês estão matando muitas crianças. Isso é indiscutível.

                  Nós estamos vendo estarrecidos que falar em morte parece estar “colado” a uma justificativa atroz qualquer. Matamos crianças para alcançar terroristas do Hamas é só uma delas. Até agora, 50 mil crianças e mulheres – 50 MIL – foram mortas. 70% dos mortos dessa guerra, aliás, são de crianças e mulheres. Israel ousa falar em terroristas do Hamas escondidos? Onde? Atrás das mulheres e crianças?

                  Essa vilania não aparece só nas guerras. Ainda na semana passada aqueles senadores da república de sempre, tentaram defenestrar uma das maiores personalidades da política ambiental mundial: Marina Silva. Aliás, a direita brasileira caiu do salto de vez e faz papel ridículo com essas ofensas diárias, costumeiras e insuportáveis. Se há alguma dúvida de que a perseguição ao gênero feminino é uma forma de agir pré combinada, basta olhar para as discussões escolhidas: aborto, quando os homens nem sabem o que é uma cólica menstrual; proibição do uso do banheiro por mulheres trans – caso ainda mais misterioso porque sinceramente nenhuma mulher entendeu o que acontece de pecaminoso no banheiro masculino pra eles terem tanto medo do que acontece no nosso. Calma, seres: o banheiro feminino é tedioso! O máximo de emoção acontece, quando alguém lembra de pentear o cabelo! Ah, e política antidrogas, antinegros, antimulheres, antiLGBT. Mas nada, nadinha que tenha leis anti roubo, anti rachadinha, anti orçamento secreto, antiambientalismo, anti prevaricação e sobretudo: Nada de votação anti golpe de estado, anti anistia, anti perdão para golpistas, antidemocratas, anti vendedores das nossas matas, animais e madeiras nobres, ladrões das nossas riquezas, anti invasores de terras indígenas, ou anti planos de segurança pública que façam algo além de matar pobres e serem absurdamente violentos no dia a dia.

                  Anti essa incompetência profissional que tantos outros homens assimilam e pior – muitas vezes concordam. Roubar um ónibus e invadir com ele o local de trabalho da “ex”, consegue justificativas – da mesma forma que matar as crianças palestinas. Peguem os poderosos e os coloquem frente à verdade e o que acontece? Nada. Eles dão uma desculpa e somem. O atropelador do UBER – aquele do Porsche – já está solto pra beber e dirigir novamente, a mãe dele invadir a cena do crime e o guarda “normalmente” permitir que ele fosse “hospitalizado”. O UBER morto e o guarda - nada. Mas o atropelador...

                  Sinto vergonha. Da violência, dos homens, dos governos, dos políticos, das guerras, dos judeus, do Trump, das pessoas perderem a vida rodando o scroll do celular. Aliás, vergonha já faz parte da vida daqueles que foram criados para terem vergonha na cara.

                  VER-GO-NHA.

Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV


“Vivemos com pressa” Bug Sociedade

No Brasil não existia “jogo de apostas” de nenhum tipo. Era proibido. Existia e existe, apesar disso, o “Jogo do Bicho”, que entendo mal como funciona. Nas caminhadas diárias passamos todos os dias por dois pontos desse jogo. A pessoa fica ali, sentada numa cadeira, com uma mesa em frente, em plena calçada, sol e chuva são seus companheiros. Aparentemente você chega, diz que quer apostar num bicho, aposta, paga e depois o resultado não sei como se sabe. Mas também não interessa, nem eu vou ensinar a jogar algo que não sei e que é ilegal.

Em Portugal não existia este jogo, não sei se existe agora, mas o que existia e existe que pode ser parecido é a “raspadinha”. Você compra um papel, que raspa lá num lugar pré-determinado, e se acontecer algo que também não sei como é, a pessoa ganha. Temos depois a Lotaria, o Euromilhões, o Eurodreams, Totoloto, Totobola. Tudo jogos que te dariam a paz financeira que tanto desejas, se conseguisses ganhar.

No Brasil tem a Megasena que me parece semelhante ao Euromilhões e ao Totoloto.

Lembro de meu pai jogar ao Totobola, quando eu era bem menina, tentando prever o resultado de alguns jogos de futebol – quem empataria, quem ganharia, quem perderia. Lembro dele contar a história de um senhor que recebeu uma raspadinha de alguém e não quis. Deu a um pobre e o pobre quando raspou percebeu que tinha ganho 20 mil euros. Lembro de mil e uma histórias mais, como de um senhor que trabalhava no campo, guardando vacas, depois de ganhar uma fortuna no Totoloto, nunca mais quis trabalhar, comprou carros luxuosos, pagava tudo a toda a gente e contam que ficou com menos dinheiro do que tinha antes de lhe sair essa fortuna. Esse eu conheci e vi seus carros, seu jeito.

Um dia li uma notícia no jornal, quando já era bem adulta, que me espantou. Dizia que quase todas as pessoas – mas é uma percentagem de mais de 90% - ficam com menos dinheiro do que o que tinham, depois de ganhar um destes prêmios.

Quem acompanha a vida de alguns jogadores de futebol, dos anos 60, 70, 80, 90, por aí, via isso acontecer muito. Faziam um contrato maravilhoso, mas perdiam a mão, perdiam a cabeça, perdiam o dinheiro, perdiam-se. Muitos jogadores têm hoje em dia pessoas que os ajudam a aprender a manter o dinheiro, a investir, a gerir a sua vida pensando no futuro. No mundo do basquetebol da NBA também circula muito dinheiro e na maioria das vezes cuidam do seu dinheiro, inclusive pensam em primeiro lugar, em dar condições melhores à mãe, ao pai, aos irmãos – Kevin Durant por exemplo. No Futebol também – Cristiano Ronaldo por exemplo.

Quando o dinheiro custa a ganhar parece ser mais cuidado ao gastar. Quando chega fácil, parece desaparecer mais fácil.

Quando você não tem nada e consegue algum dinheiro, ele voa porque tem muito “buraco para tapar”.

Aprendi com a sociologia que as classes sem recursos têm muita dificuldade em sair desse “buraco” porque nunca conseguem dinheiro para “ganhar” tempo, para poder investir em formação, para prever o futuro, para uma oportunidade, para uma urgência, para guardar. Tudo o que os ricos podem fazer – e por isso ficam mais e mais ricos. Tudo o que se aconselha as pessoas a fazerem para melhorarem a sua vida – mas que quem aconselha não tem nenhuma noção do que é fazer milagres com vinte reais, ou 5 euros, do que é não ter e não ter por onde conseguir.

O Brasil, com uma quantidade absurda de pessoas passando fome, ou tendo apenas uma refeição por dia, ou trabalhando, mas em que o dinheiro não é suficiente para pagar as contas e cuidar de filhos, ou ganhando razoável, mas tendo de apertar as economias todos os meses, estimula muito a esperança de ter sorte, de ter um filho que vai dar jogador, de fazer fortuna nas redes sociais, de fortuna fácil e ou rápida. O desejo do filho virar jogador de futebol de sucesso, atleta de modalidades que pagam bem, ator, cantor, influencer. Tudo profissões que exigem talento, sorte, “amigos”, entre outras coisas. Mas não exigem estudo nem formação, não exigem que a pessoa se enriqueça culturalmente, não exigem que melhore seu carácter, que seja justa, que pense em ajudar os outros. As habilidades exigidas estão mudando e as pessoas não “perdem tempo” em “investimentos e sacrifícios” que demoram e não são certos – você pode reprovar na prova, os cursos demoram anos a fazer.

Mas como posso convencer uma pessoa a deixar de investir em comportamentos e habilidades que elas sabem que lhes vão dar dinheiro para comer? E que as habilidades de estudo, depois vão exigir a habilidade “amigos que indicam”?

Tenho visto níveis elevadíssimos de empreendedorismo em jovens que se associam em pequenos negócios. São máquinas incríveis de fazer dinheiro. Pode pensar, como eu pensei, que tem alguma coisa errada. Mas não tem. Jovens, educados, organizados, com gente em todos os níveis do negócio, inclusive na rua te sugerindo uma forma barata de resolver seu problema. Impressionante. A quantidade de clientes que têm por hora é absurda. São baratos, eficazes, rápidos, e fazem tudo na sua frente. Tem os caras que fazem o serviço, os que vão buscar as peças novas, os que tiram dúvidas, os que desmontam, os que ficam na rua circulando, angariando clientes. Um negócio de sucesso, com pessoas sem formação, sem riqueza cultural, sem tempo livre para jantar fora ou ir a uma festa. Impressionante mesmo. Sem tempo para desperdiçar em jogos, em sonhos que chegam com sorte. Com sorte que nunca chega. Com desejos de fortuna que levam ao caos, à desgraça, à humilhação, à vergonha, ao fundo do poço. Poderiam estar a fazer o mesmo numa empresa, ganhando um salário mínimo subjugados a um chefe autoritário. Ali, são eles os chefes, suaves, claros, destemidos. Parecem a “roda da fortuna” das vendas do acarajé – que sustentam famílias inteiras e bem.

Você não os vê nos shoppings, não os vê no corredor da vitória. Você os veria nas ruas por onde você nunca passará. As ruas onde vive uma cidade do Salvador que os ricos, os poderosos e os políticos nunca pisaram. E é uma pena. Porque ali pulsa uma cidade que vale a pena. Que impressiona. Que nos dá esperança.

Ana Santos, professora, jornalista

 
 
 

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