“ESTAMOS EMBURRECENDO” e “Carta ao Pai Natal e ao Papai Noel” Bug Sociedade
- portalbuglatino
- 10 de dez. de 2024
- 5 min de leitura

“ESTAMOS EMBURRECENDO” Bug Sociedade
Sem medir consequências, as pessoas acham que “denunciar” é uma coisa que pode ser feita por qualquer motivo. O celular está na mão, mesmo... O menino não come salada e eu posso “denunciar a mãe por maus tratos”, por exemplo. Não. Simplesmente porque a ação de discordar ou concordar, não necessariamente precisa ser denunciada. Portanto, a moça que postou a "denúncia" contra a passageira que havia comprado exatamente aquela poltrona tem que saber que, certa ou errada, ela estava no seu direito de dizer "não quero trocar". Por ter postado erradamente, culpando a dona da cadeira de "falta de empatia", a “denunciante” vai ser processada por injúria e danos morais.
Resumindo: Você dorme sem pendência judicial e antes de dormir de novo, se lenhou.
Sem medir consequências, a polícia “acha” que tem o poder de justiçamento. Por causa dessa ilusão – alimentada ou não pelos políticos, não importa - um policial arremessou um cidadão do alto de uma ponte. Ele não tinha feito nada a não ser fugir da polícia. Mas quem atualmente não tem medo da polícia, no Brasil? Sem mentira, pode falar. Pois é. Ele, como 200 milhões de outros cidadãos brasileiros, tentou se esconder da polícia e foi jogado de cima da ponte. Ele estava errado em ter medo?
Meu conselho de milhões é: Antes de reagir, experimente refletir. Não é possível que a nossa falta de atenção se estenda ao ponto de perder a paciência por não saber analisar uma situação. Sim, a moça do avião, se a poltrona foi comprada por ela, pode definir se vai aceitar ou não qualquer proposta de troca. E digo mais: fazer isso sem a aquiescência da tripulação do avião é uma temeridade porque, caso ele caísse, o lugar marcado garantiria a identificação do corpo.
Não. Nada, absolutamente nada justifica o policial tomar para si o papel de “justiceiro”. É bárbaro, é brutal e inaceitável.
Estamos emburrecendo.
Você tem se achado menos analítico? Acredita nas manchetes e não procura saber se é verdade ou mentira? Tem reparado que as pessoas andam mudando o peso das palavras pra te enganarem melhor? Ninguém mais é mentiroso no Brasil, já reparou? Todo mundo agora faz a sua própria “narrativa” da coisa, mas ninguém mais mente”! Você por acaso desconfiou – antes de eu contar – que isso está acontecendo com muitas palavras?
Pois é, estamos emburrecendo e caindo como patinhos. Você acredita em tudo o que os seus grupos de Zap postam? Cai na conversa de “ganhar crédito de jogos” como se fossem brindes? Aceita mais uma bebida, mesmo quando não quer mais? Aceita beber, mesmo quando está dirigindo? Nunca se questiona sobre as pessoas que dependem de você, se dirigir depois de beber? O que você tem se perguntado? Quando você vê, já reagiu? Bateu? Gritou?
Antes de reagir, refletir. Analise. Pense.
O policial precisava ser denunciado. Mas a moça do avião afinal...
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
“Carta ao Pai Natal e ao Papai Noel” Bug Sociedade
Tento manter a sensação mágica do Natal que me acompanha desde criança. Tento, no meio de tanta guerra, tanta coisa errada. Não resta outra saída saudável, equilibrada, serena, que me faça viver esta vida da melhor forma possível. Ouvir “Last Christmas”, dos Wham, me faz sempre voltar a essa boa sensação. Ou Mariah Carey, com “All I Want for Christmas Is You”. Ou as “Old, Old Songs” de Natal, vivas e lindas como sempre, que me recordam os desejos de menina, desejos esses nascidos do que via na TV e que eram inalcançáveis numa pequena aldeia, agora Vila, chamada Barroselas, no norte de Portugal – meu lugar, onde nasci e me tornei quem sou. Só em adulta vi neve, por isso as imagens, as roupas e letras dessas canções, falavam de algo que me parecia nem existir. Depois comecei a entender que essa neve tão falada, existia noutros locais do mundo. E depois entender que nem todos os Natais são assim, na neve, nem o lugar destinado para mim. Talvez mais bermuda, pé descalço, banho de chuveiro várias vezes ao dia, transformava-se súbita e estranhamente no meu “sonho de consumo” no Natal. Como a vida nos prega partidas, hein? E que deliciosas partidas. Vai-se perdendo hábitos que pareciam obrigatórios dessas épocas, alguns cada vez mais difíceis por serem muito pesados financeiramente, vai-se adquirindo outros, mais suaves, mais descontraídos. E o menos fica parecendo tão “mais”, tão pleno. E não é mais a preocupação de fazer todas as tarefas que se tem de fazer, mas mais a alegria de deixar o tempo fluir com simples confortos, ações, refeições, relações. Talvez seja isso amadurecer? Será? Seja como for, é bom.
Comprar prendas para todas as pessoas, aquela árvore cheia de caixinhas embrulhadas debaixo da árvore de Natal, aquela ânsia de menina querendo saber o que ia ganhar, parecia tudo na vida. Agora penso que tudo isso é uma forma do mundo e da sociedade viciar a todos em compras, em desejarmos obter coisas, em ficarmos felizes por termos em vez de estarmos felizes por ser e por poder estar perto dos que amamos, sem brigas, sem guerras, tendo uma refeição saudável para comer juntos. Sentir verdadeiramente e apreciar o valor de acordar, de respirar sem sofrimento, de não ter dores corporais constantes, de conseguir interpretar o mundo e as pessoas, de saber falar o que se sente e o que se deseja. Tão simples, tão fácil e tanto. Basta deixarmos de olhar para essa atração consumista, atração de ser capaz de cumprir os deveres dessa época. Que deveres? Nada disso. Temos outros deveres, bem mais importantes, mais valiosos e é bom aproveitar antes de não termos mais tempo para os concretizar.
Continuar a brigar ao ponto de colocar milhões de pessoas sem casa, sem cuidados de saúde, sem comida? Pessoas que nada fizeram de mal? Guerras, enclaves, situações de aperto, mentiras, corrupção, frieza. Prisões que mais podiam se chamar de matadouros humanos, como a prisão de Saydnaya, na Síria, com pessoas sofrendo o inimaginável. Os palestinos sendo vigiados 24h e executados por drones – são lançadas bombas pelo drone e depois, nesse caos, o senhor drone desce e executa crianças, jovens e mulheres. A lista de guerras, problemas, é cada vez maior. A insensibilidade também. O choro depois de atirar alguém de uma ponte abaixo, ou filmar uma situação num voo, parece de filme. Matar alguém que apenas mexe no retrovisor do carro da polícia, ou que tenta roubar sabão, parece pesadelo. Está estranho, estamos estranhos.
Minha carta para o Pai Natal, conhecido no Brasil como o Papai Noel, é pequena. Pede apenas que me ajude sempre - a mim e a todos se possível – a saber escolher os caminhos adequados em cada momento, a não parar muito em locais que atrasam minha chegada ao “alto da montanha da minha alma”. A não ver nos outros a causa dos meus problemas. Saber que meus problemas são meus e sou eu que tenho de os resolver. E recusar a ideia de que estamos em competição uns com os outros. Não estamos. Estamos em competição conosco. Tentando ser melhores do que ontem. Aumentar a distância com as pessoas que nos impedem de crescer, de melhorar e nos tentam levar para essa dança horrorosa de estarmos uns contra os outros, de nos irritarmos, de perdermos o controle, de deixarmos o caminho bom da nossa vida. Conseguir melhorar o mundo com o Bug. E...conhecer Jakub Józef Orlinski, cantor de ópera, contratenor e dançarino de breakdance, breaking ou b-boying).
Ana Santos, professora, jornalista




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