“DA ENROLAÇÃO DA POLÍTICA E DA MÍDIA” e “Sentir o futuro mesmo com cheiro a veneno” Bug Sociedade
- portalbuglatino
- 29 de abr.
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“DA ENROLAÇÃO DA POLÍTICA E DA MÍDIA” Bug Sociedade
Eu venho pensando muito sobre isso. De todos os setores chega a ideia de que a direita e a esquerda polarizaram. Mas me parece que a incógnita ocultada de todos no mundo inteiro, de uma certa forma, é que muito mais do que direita e esquerda, a equação verdadeira é sobre democracias e ditaduras – tanto faz se de direita ou esquerda.
Ouvimos todos darem importância enorme à ideologia, mas o atacado – sempre à revelia – é o sistema. Portanto o Bug Sociedade de hoje, não vai falar de um assunto ou subassunto da cidade, estado ou país – vai falar DO ASSUNTO. O principal. Aquele que interessa ao mundo inteiro.
Eu tinha recém entrado na universidade, na década de 1980 e pipocavam assuntos pró-democracia. Houve o momento mágico das Diretas Já, que acabou não acontecendo, como mudança prática. Morrendo de medo de apanhar da polícia, fui a uma feira de livros na Av. Mem de Sá, no Centro do Rio e comprei com todos os trocados que tinha economizado em anos, o livro BRASIL NUNCA MAIS. Meu coração estava descompassado porque eu nasci e vivi num País onde apenas pensar em “liberdade” já era proibido. Querer era punido. Com a morte, muitas vezes. Mas havia uma energia de liberdade em toda parte, que eu via nos festivais de rock - ainda pequenos se comparados ao Rock in Rio, mas presentes nas apresentações dos Secos e Molhados, Elis, Tom, Chico, Caetano, Gal, Betânia, Taiguara, Edu Lobo, Vandré, Mutantes – eram tantos... O Maracanãzinho foi palco, o Canecão...
Aí veio a eleição indireta de Tancredo, que virou aquele tiro chocho chamado Sarney, mas depois veio a eleição de verdade e com ela, a Constituição de 1988 – a cidadã. Dr. Ulysses liderou um trabalho que queria ver o diabo, mas nunca mais uma ditadura – e é esse trabalho que nos vem salvando, atualmente. O discurso dele, foi inesquecível, histórico: “Traidor da Constituição é traidor da Pátria. Conhecemos o caminho maldito. Rasgar a Constituição, trancar as portas do Parlamento, garrotear a liberdade, mandar os patriotas para a cadeia, o exílio e o cemitério. Quando após tantos anos de lutas e sacrifícios promulgamos o Estatuto do Homem, da Liberdade e da Democracia, bradamos por imposição de sua honra. Temos ódio à ditadura. Ódio e nojo.” ...
Por tudo isso, o que vimos no 8 de janeiro foi o ultraje maior, já que passamos 4 anos sendo ultrajados, enfraquecidos e assassinados. A morte de Dom e Bruno, ainda durante a pandemia que estava levando centenas de milhares de nós, foi a minha gota d’água: passei a responder a altura a qualquer pessoa que falasse meia palavra a favor daquela miséria. Daquele flerte mórbido – outra vez – com a ditadura. Mas agora vejo que o sistema atacado sem parar não foi o ideológico, mas o democrático. Agora, por toda parte vemos democracias ruindo – inclusive a norte-americana, com Trump destruindo todos os sistemas de sustentação da democracia – Harvard que o diga. A “Ridícula” Harvard, a “vergonha” Harvard, a “sem rumo” Harvard– nas palavras do Trump. Quem é mesmo o ridículo e vergonhoso, aqui?
O Brasil viu “Ainda estou Aqui” e percebeu que a questão não envolvia direita ou esquerda, mas vida e morte de quem discorda do regime. Qual regime? O ditatorial. Que devolveu a democracia depois que tinha raspado e lambido o prato das nossas riquezas. E que aconteceu de novo com a venda do Pré-sal, com a coceira nas mãos para vender a escola pública paulista, a água, a energia elétrica e enriquecer. Mais, cada vez mais. Os ricos cada vez mais ricos. Campanhas para nos convencerem de que vender é bom, que o Brasil precisa vender tudo o que tem. Mas os ricos – muito ricos - vendem o que têm? Se desapegam e se oferecem para pagar um imposto maior porque são muuuito ricos e não precisam ganhar sempre - até em cima de um imposto que só atinge os multimilionários? Não. Claro que não.
Os políticos estão se acotovelando para votarem coisas do interesse do Brasil na segurança pública, saúde, educação, meio ambiente? Na verdade, estão berrando por anistia. Gente, anistia contra bandidos que tentaram dar um golpe de estado contra a nossa democracia. E também fazendo campanha contra as mulheres trans fazerem xixi no banheiro da gente - como se no banheiro feminino houvessem “orgias” e não apenas o xixi normal, sem graça, de todo dia. Ando farta de pagar para inúteis fazerem selfies e filminhos inúteis e lacrarem inutilmente, ao invés de tra-ba-lha-rem. Nada de “Xandão” pra baixo pra cima. Democracia, gente. Trabalho. Não basta se enrolar na bandeira e sair gritando. Se você paga um empregado seu e ele, ao invés de trabalhar, se enrola numa bandeira e sai gritando pela sua casa, você chama a polícia e interna.
Quero mais democracia e menos escracho. Menos ameaça e beeem mais trabalho. Todos ganham muito bem. O povo do Brasil paga regiamente – com seu trabalho, seu esforço, seu sacrifício – a todos os seus funcionários. O nosso caso aqui, não é direita e esquerda, anjo e demônio, gay e hétero. Envolve poder. Poder de mandar, banir, matar, supliciar. Poder de mandar no que quer que seja. Será que existem brasileiros bobinhos que desejam perder a liberdade de “se enrolarem da bandeira e saírem gritando por aí”?
Sem anistia. Sempre com democracia.
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
“Sentir o futuro mesmo com cheiro a veneno” Bug Sociedade
Procuro sentir o futuro. Meu, mas também o futuro de todos. Sim eu sei, pensar só no futuro é viver ansiosa. Mas também é o lugar para onde aponto quando atuo no presente. E o que decido, escolho, recuso, no presente, determina o “trilho” em que vou circular e o lugar para onde me dirijo. Se erro nas escolhas, nas decisões, nas recusas, em vez de ir para aquele lugar que desejo, poderei chegar a um lugar a muitos quilómetros de distância. Em muitas situações é possível fazer essa correção no “desvio”, mas em outras situações não.
Vamos decidindo e vendo o resultado. Fazemos correção de rota ou mantemos tudo igual. Algumas decisões podem mudar tudo. Algumas decisões não mudam muito. E algumas que aparentemente não parecem mudar nada, mudam tudo.
Quantas vezes a vida nos propõe situações em que, seja qual for a decisão que tomamos, nenhuma é boa? E quantas vezes a situação parece boa e se torna um horror? E quantas vezes a vida coloca pessoas no nosso caminho que parecem a “salvação”, mas quando olhamos melhor, mais perto, com mais cuidado, na verdade são armadilhas? As armadilhas modernas são cada vez mais sofisticadas. Surgem no meio de sorrisos, palavras bonitas, propostas de trabalho reluzentes. O mundo do comércio, do empresariado, da política, do esporte, tem mais manhas e buracos do que um pântano.
As pessoas falam, propõem trabalho, negócio, parcerias, pactos, aliciam, seduzem, entusiasmam. Quantas vezes estivemos perto de alguém que não é nada do que nos disse que era? Que nos prometeu imensas coisas, mas que nunca pensou em cumprir? Que nos convence que vai proporcionar isto e aquilo, mas desaparece depois de ter conseguido o que queria? Ou desaparece porque percebe que nunca terá o que queria? As pessoas falam mais nas “entrelinhas” do que nas respostas às perguntas que fazemos. Nas perguntas que fazemos elas respondem o que deve ser respondido – mentindo descaradamente muitas vezes. Mas nas “entrelinhas” se revelam.
Aprendi uma expressão em Portugal: “Negócio é negócio, conhaque é conhaque”. Eu acho que significa que vale tudo nos negócios, mas depois a amizade fica intacta. Você atropela o amigo nos negócios, mas depois está tudo ótimo ao ponto de terem uma amizade que implica passarem noites bebendo conhaque juntos – o símbolo das amizades nobres, de sangue azul. Não podia estar em mais desacordo. É absolutamente e totalmente o oposto do que é certo.
Não sei se já lhe aconteceu, nem sei o quanto o afeta, mas que é um enorme impacto quando nos desiludimos com alguém nos negócios, lá isso é. Talvez pior do que nas amizades. Porque pode acabar com a sua vida. Pessoas que dizem coisas, assumem coisas, prometem coisas, e afinal era tudo uma farsa para tirar vantagem de você no negócio, ou de alguma forma te deixar dependente daquele negócio. Para te controlar, para que você passe a ficar sob suas ordens. Parece algo fácil de fugir. Parece. Tanta gente que em determinado momento tomou uma pequena decisão, aparentemente inócua, e vai penar a vida toda. Onde não dá mais para corrigir a rota. O mundo está preocupado em avisar sobre os hackers – e bem – mas não pode nunca esquecer os “hackers” da vida real.
O sofrimento nos dá uma sabedoria, um olhar e uma postura. Fique atento a quem conta o sofrimento que passou como se fosse algo animador. Tem algo de errado nisso. Normalmente quem enriqueceu, vindo da miséria, nem gosta de falar nisso. É algo sagrado, privado.
Fique atento a muita bondade que demora a acontecer, ou que nunca acontece. Muita promessa, com prazos sempre depois de você fazer algo: “não deu agora, mas depois de você fazer a segunda ou terceira ou quarta coisa, vai acontecer, não se preocupe.” Fique atento “aos seus próprios passos” e evite se colocar nas “mãos” de outros. “Assine o contrato mesmo assim. Essas palavras que estão aí são padrão, não significam nada.” Fique atento, quando algo só acontece se você fizer, sempre, primeiro. Ui, ui.
Eu venho do mundo do funcionalismo público, do mundo da educação, do mundo do esporte, do mundo da psicologia. É um susto este mundo dos negócios, quando chegamos e piora quando começamos a abrir os olhos. Tem muita armadilha, muito perigo, muita adversidade.
Laura Roldán, com autismo, se transformou numa etóloga colombiana que treina cachorros de serviço para melhorar a vida de pessoas “neurodivergentes”. Veja aqui como ela nos ensina a passar pelos “pingos da chuva” fazendo coisas boas. Como nos ensina a focar no que realmente precisa ser feito. Sem vaidades, artimanhas, inferioridades. Todos somos capazes e ninguém cala ninguém.
Ana Santos, professora, jornalista




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