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Contos de momentos diferentes


Conto “ERA UMA VEZ”


Meu Deus, como é difícil tecer uma história para as crianças. “Era uma vez uma formiga que prendeu os pezinhos na neve, Era uma vez um gato xadrez, Era uma vez uma princesa linda que tinha a pele branca como a neve”...


Hum, hum – lá vamos nós!


Era uma vez uma criança que queria que todos lhe fizessem as vontades. Não importava o certo e o errado, mas o que ela queria. Sempre.


Servia chorar, se esconder debaixo da cama, amuar, torcer o nariz para o jantar.


E era uma vez uma papi e uma mami que viam a criança fazer isso tudo e se perguntavam o que era melhor fazer. Devemos lhe dar umas palmadas, coloca-la de castigo, conversar, lhe fazer as vontades?


Um dia, estavam todos num clube especial, cheio de pessoas diferentes, de outros países. Havia lá uma família japonesa, conversando com amigos japoneses e jogando jogos genuinamente japoneses. Mami olhava tudo e não entendia nada. Nada do que diziam, do motivo pelo qual riam, conversavam.


Mas, lá estava a semelhança – a criança japonesa começou a se jogar no chão, fazendo malcriação porque queria alguma coisa japonesa. Ah, disso Mami entendia muito bem! O menino se jogou no chão, berrou, amuou, chutou. Seu pai o viu - e ali ela viu uma luz – o colocou sobre a mesa, diante de todos os amigos japoneses. Logo todos eles “assistiam” todas as malcriações – e opinavam, cochichavam, apontavam para o menino japonês malcriado.


Ele? Bem, ele ficou com vergonha daquela atenção toda e parou. Primeiro parou de chutar e fazer malcriação. Depois parou de gritar e depois, por último, parou de chorar. Tudo parou.

Mami era só olhos.


Todos se calaram e ficaram olhando o menino. O ar parou de correr por ali porque não havia barulho, reação, briga. Não havia nada, a não ser o menino, seu embaraço e os olhos dos adultos. O pai então o pegou no colo com toda a naturalidade dos pais calmos e japoneses, o colocou no chão com as outras crianças, lhe deu as costas e voltou a conversar com seus amigos – tudo muito incompreensivelmente evoluído.


Mami se iluminou como os budistas – Então é isso? Basta dar atenção total ao fato, olhar detidamente e esperar que tudo se mostre com clareza? “Hora de fazer o dever, filho” – arrematou. “Com choro ou sem”! E era pura calma nessa hora...

Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV



Conto “A batata”


Olhava a plantação de batata, generosa mas caseira. Sempre ouviu falar que era frequente aparecerem joaninhas por ali e ela queria tanto ver uma ou duas. Tinha visto como eram nos livros de histórias. Eram bonitas e tão diferentes que achava que não existiam de verdade. Pareciam inventadas. Não era possível existirem umas coisinhas redondinhas, gorduchas e ainda por cima com uma cor de vermelho forte com pintas pretas. Tudo parecia fantástico e pouco real. Imaginava um feijão a voar, uma fava a voar. Como isso seria possível? A pessoa que inventou e desenhou a joaninha não sabe o que é voar.


Como se não bastasse ainda existia uma canção que todos cantavam que dizia mais ou menos: “Joaninha voa voa, que o teu pai foi a Lisboa...” Nossa...porque razão um inseto tem que voar porque o pai foi a Lisboa? Se o meu pai for a Lisboa eu também vou ter de fazer alguma coisa? Nadar, voar, correr? A família fala que meu pai esteve 4 anos da vida dele em Lisboa. Quem precisou de “voar” enquanto ele foi, ficou e voltou? Meus irmãos mais velhos? Mas eles não têm asas...


Esperou um bom tempo que joaninhas aparecessem, mas nada. Joaninha? Tu existes? Na real? Ou é só imaginação? É que és muito bonita para ser verdade.


- Ana, onde andas filha? Anda cá cumprimentar uns senhores de Lisboa que chegaram.

- Coitados...

- Coitados de quem Ana?

- Dos filhos...

- Ana, pára com essas tuas histórias e conversas que ninguém entende e vem já!!!

Ana Santos, professora, jornalista


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