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Contos de Liberdade


Conto "EU VI A DITADURA SONHANDO LIBERDADE"


As pessoas vivem olhando pra menina inquieta: “Essa daí não sossega”! - As tias diziam. Os avós. Veja, mas a menina nem os ouvia ao falarem. Porque o mundo tinha pintinhos que morriam e que “a gente poderia enterrar – e amanhã desenterrar”! Porque havia janelas a pular todos os dias e muros e bicicletas para se andar – “ai que droga de pneu furado”!


Todos falam de liberdade, mas poucos lutam para saírem da ditadura das casas. Você vai colocar vestido, vai prender bem esse cabelo – “Ai, ta me arrancando o couro”...


Bem, ela nem viu que havia uma ditadura porque estava focada em ser livre.


E ela cresceu. Estudou uma mistura de coisas que fazem todo o sentido pra si mesma, mas que fez os olhos da “sociedade das caixinhas” se arregalarem. “Você se formou em área de saúde, muito bem! Oops, não admite que as pessoas adoeçam; Ooops, detesta jalecos de rendinhas; Ooops quer impedir as pessoas de adoecerem; Oops, vai atender muitas pessoas por vez; Ooops pode fazer isso através da Tv. Causa pânico até hoje.


A Ditadura olhava pra ela e já tremia. –“Eu sou a Liberdade. De ser, de ser natural, de ser eu mesma, você mesmo, não importa se a câmera está ligada ou desligada”.


LIIIVREEEE! ASSIM COMO A BRISAAAA....


O País onde ela vive, tem medo de ser livre, mas ela segue em frente, tentando que cada pessoa sinta a magia de ser livre na vida real e na TV, tanto faz se o REC está apertado ou não. Ser você mesmo deveria ser fácil, mas todos parecem ter medo de ralar o joelho, levantar e ir em frente. Ir em frente. Então se preenchem de muitas inutilidades.


Um dia os portugueses enfiaram um cravo na pistola e resolveram ralar os joelhos. Era o dia 25 de abril. Há dias em que o Brasil acorda e as pessoas imaginam: “É hoje o dia, da alegria! E a tristeza, nem pode pensar em chegar”!


Pode até ter gente mais feliz do que eu na avenida, mas a liberdade de ousar sair das caixas nós temos que ter. Eu tenho, ela tem, nós temos e eles precisam ter também.


Ditadura é caixa boa de cuspir. Liberdade é ter frio, mas amar pode escolher nenhuma caixa e se esquentar no corpo de quem você adora.


Os políticos rugem e ganem conforme a situação, meu país agora apenas geme e chora seus mortos, mas isso também vai passar. O que não pode passar é a coragem de ralar os joelhos. É hoje o dia, da alegria! Dia de olhar pra caixa e dizer “não”. Sem estresse, com coragem. “Não”. Não quero mito nenhum. Não quero que me impeçam de pensar. Não quero ouros que não possa levar, quando morrer.


Ser livre então é o muito que todos podem ter, tendo menos e todos juntos - A melhor medida é o termos juntos. É ver o sol e respirar, sem ter medo de morrer; é poder falar você está certo ou errado olhando direto nos seus olhos; é ser, é estar, é perceber que o espaço vazio está cheio de aaaarrrr... e isso é muito... é tudo, é vida, é sua vida de novo...

Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV


Conto “Livre”

Era uma vez um menino, bem pequenino. Não queria fazer nada com ninguém, nem com a família. Não queria falar com ninguém. Decidia com quem falava. Decidia com quem vivia. Decidia com quem brincava. Decidia com quem sofria. Brigava com o mundo porque ele nem sempre lhe dava o que ele queria. Viveu sem viver mas julgava ser livre.


Era uma vez uma mulher que fazia tudo direitinho. Ela até flores colocava todos os dias no jarro do corredor do apartamento. Era um relógio, era um exemplo, era intocável, era competente. Tinha momentos dignos em todas as situações. Nunca fazia nada errado. Tudo era cronometrado. Tudo era adequado. Cada hora tinha uma tarefa, uma função, um objetivo. Viveu? Foi livre?


Era uma vez uma pessoa que nada tinha. Emprego, dinheiro, respeito, família, lugar. Perdeu grandes e velhos amigos. Perdeu o medo. Perdeu a vontade de agradar. Aprendeu o vazio, o silêncio, o pouco, o tudo. Parecia ser livre.


Era uma vez todos nós. Todos querendo. Todos perdendo. Todos gostando. Todos desejando. Todos sonhando. Todos sofrendo. Todos fingindo. Amedrontados, espantados, desorientados, apalermados, dizimados. Quando vamos aprender a ser livres?

Ana Santos, professora, jornalista

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