Tempos (verdadeiramente) estranhos estes...
Já não basta um gajo prevenido, quase em registo de hipocondria, e mesmo assim não remediamos a coisa.
O raio do “bicho” pegou-nos de surpresa e sem aviso prévio. A altura não poderia ser mais conveniente agora que todo o SNS está em ruptura e exaustão. É mesmo de um descaramento total, sem direito a contemplações ou elaboradas conjunturas.
Este é daqueles que ataca de mansinho, sem que o possamos detectar qual Lucky Luke “mais rápido que a sua própria sombra”.
Será este o presságio para o próximo milénio? Ter a capacidade de antecipação para perceber o futuro que nos espera antes de o mesmo acontecer? Ter a resiliência para aceitar esse futuro como algo de inevitável?
Disse Agostinho da Silva “O futuro deve ser de tal maneira que nenhuma criança ao nascer se sinta torpedeada pela vida de maneira que julga que tem que desistir de ser para existir apenas como aquilo que a vida obriga a ser.”
Hoje somos cilindrados a cada segundo por uma catadupa de informação, (não conhecimento!), que nos enfrenta como uma enorme vaga que tudo varre no seu percurso. E lá andamos nós, muitas vezes, no seu rebolar... umas vezes bem ritmado outras de forma descontrolada. Como aquela onda que nos apanha desprevenido e nos surpreende com grande estardalhaço e estrondo e nos deixa de “pernas bambas”, com uns grãozinhos de areia nos locais mais constrangedores e tantas vezes com a intimidade exposta.
Desde muito cedo ouvimos “... nunca vires as costas ao mar!” e rapidamente aprendemos também os efeitos de o não levar em conta. Na maior parte das vezes sem grandes consequências ou sequelas, mas apesar de tudo com o respeito e temor que se impunha.
Sempre adorei o Mar e a sua energia.
Relembro até hoje uma viagem pelo interior do Alentejo mais profundo que após o quinto dia, e apesar da beleza das vastas paisagens, me deixou completamente inquieto e desejoso da sua visão.
E lá fomos, apressadamente, em direcção à costa....
Pés em areia fina, a serem gentil e suavemente afagados pela maresia de uma maré baixa... nada de melhor. E depois a vastidão das águas naquele manto infinito, que nos embala, adormece e faz sonhar com infindáveis histórias. O vai e vem das suas águas que se faz sentir e nos lembra que tudo, (ou quase tudo), tem o merecido retorno.
Olhar o seu poder, o seu vigor e pensarmos que um dia fomos capazes de o abraçar e com ele atingir outros limites.
Hoje apetecia-me sentir o seu cheiro e o sabor das suas águas, deixando alma e espírito mergulhar no seu bálsamo regenerador e tranquilizante.
Que levasse o “bicho”, que nos fizesse reencontrar com a vida desejada, com quedas, rebolões, momentos constrangedores e até uma areiazinha para impor algum respeito.
Que nos fizesse enrijecer, sentir a sua autoridade e força, as nossas limitações, mas sermos verdadeiramente nós.
E depois ficar a olhar o infinito, aconchegados numa suave e reconfortante toalha com odor a sal, deixando a mente vaguear pelas lembranças de uma vida cobiçada.
Hoje queria ser um Lucky Luke dos mares...
João Paulo
26 Janeiro 2021
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