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“PL 1904/24 E O INFERNO” e “Conhecer para ajudar” Bug Sociedade


Emily Kame Kngwarreye (1910-1996)

“PL 1904/24 E O INFERNO” Bug Sociedade

Não é uma questão ideológica, nem tampouco partidária. O problema aqui é se o Brasil vai suportar essa gente que quer nos teletransportar pra idade média, de lei em lei. Também não é sequer uma coisa relativa ao feminismo, mas da sobrevivência respeitosa entre os gêneros, no Brasil. Atualmente, já tenho extrema dificuldade em me imaginar conversando com pessoas reacionárias, sem que a falta de paciência me assole. É pior: me sinto sem nenhuma paciência de vê-los aos berros, nem na TV.

Não é normal que homens hétero ousem se meter na vida do gênero feminino para “palpitar acerca de um suposto castigo para o aborto” porque cada aborto pra nós, é um castigo. A decisão de abortar - em qualquer circunstância – é dramática porque nenhuma fêmea “acorda entediada e se propõe a abortar para movimentar seu dia”. Essa percepção frívola, ignorante, é machista e reacionária. Daquele tipo de machista que finge que é sensível e humano apenas porque reza. Os papagaios também podem aprender a rezar como esses homens. Portanto, de uma maneira clara e direta: essa não é a nossa percepção do significado de abrir mão de um filho, não é assim que sentimos.

Isso já deveria ser motivo suficiente para que a discussão do aborto fosse respeitada e não cheia de histeria, gritos e ataques. Mas ainda é pior: uma mulher ultrajada por um estupro, altamente traumatizada pela invasão violenta de seu corpo, não apenas pelo órgão sexual em seus orifícios e partes sensíveis, mas também por objetos: cabos de vassoura, mãos, garrafas, socos, facadas, bofetadas, mordidas, fios, arames – individualmente ou tudo isso, grupalmente exercido.

Por uma decisão estúpida da Câmara Federal do Brasil quer nos impor, essa mulher, jovem ou criança precisa ter esse filho, olhar nos olhos dele e esquecer de ver, apagar o canalha que lhe aviltou a alma.

Isso tudo porque sim. Ou pior: Porque alguém disse que Deus mandou.

Se Deus mandasse no livre arbítrio humano, vocês acham que ele interferiria na hora da penalização da criança que aborta depois de 22 semanas ou na hora do estupro em si? Pois no Brasil, esses homens “ditos religiosos”, conferem um abuso jurídico desses a Deus.

Se a menina for menor e os pais permitirem o aborto, todos vão pra cadeia? Os outros filhos ficam onde? Jogados pela rua? Lotando mais ainda o sistema de acolhimento do Estado? Essa família – totalmente destruída por esta interpretação ignóbil da Bíblia – faz exatamente o quê?

E se ela, obediente, tem o filho do bandido, a família recebe a pena perpétua de olhar aquele menino e lembrar de um sofrimento que graças a eles – os deputados que batem no peito e chamam Deus a todo momento – classificam como reabilitador? Mas reabilitador de quem?

Estou exausta de ter que olhar para a vergonha nacional em que se transformou a Câmara Federal. O lugar que abrigou Ulisses e Tancredo, o lugar que criou uma Constituição autodenominada de cidadã virar esse ... que palavra usar... talvez esgoto a céu aberto.

Peço que todas as pessoas de respeito que não afrouxem a pressão no pescoço do presidente da casa e dos deputados de ultradireita que aceitaram votar nessa miséria. Eles esqueceram quem manda lá, a quem eles representam, mas estão sendo relembrados e precisam ser constantemente relembrados que eles existem apenas e tão somente porque nós – NÓS - existimos.

Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV

 

“Conhecer para ajudar” Bug Sociedade

Como se ajuda as pessoas? Sempre tive muitas certezas sobre como se faz, mas envelhecer, perceber que a vida não é controlável, ter de lidar com as limitações corporais que surgem no nosso corpo e nos corpos dos que amamos, me trouxe muitas dúvidas. Não é mais tão certo como “dois e dois são quatro”. As coisas perdem a lógica, as soluções deixam de ser óbvias. Ajudar com dinheiro é um pensamento habitual, mas não sei se é ajudar ou se é viciar em ajuda. Ou talvez seja as duas. E nem sempre temos esse dinheiro para nós quanto mais para ajudar os outros. Além disso, vamos aprendendo que os verdadeiros problemas não são resolvidos com dinheiro. Não é uma Megasena, ou o Euromilhões que vai resolver um problema de saúde, ou o racismo, ou a xenofobia, ou homofobia.

“Ensine um homem a pescar e ele se alimentará por toda a vida”, antigo provérbio chinês, de Lao-Tsé. Muito conhecido e muito sábio. Mas ele faz sentido nos dias de hoje? Será que com a IA (inteligência artificial), será mais: “Ensine um ser humano a programar e ele se alimentará por toda a vida?”  Nerea Luis, doutora en IA, diz que podemos passar a olhar as circunstâncias da seguinte forma: o que preciso fazer? Posso fazer melhor e mais rápido com a colaboração da IA? Então vou fazê-lo. Umas vezes posso fazer tudo através da IA, outras vezes apenas por mim e outras vezes por mim e pela IA. O que interessa é fazer e fazer bem, no menor tempo possível, com o menor gasto. É um ponto de vista que torna tudo mais simples. Isso deixa de nos colocar estas sensações de que já não somos capazes de fazer isto ou aquilo, de que perdemos habilidades, de que deixamos de controlar. Segundo ela, somos igualmente capazes, apenas o fazemos de outra forma.

Será que muitas pessoas se recusavam a fazer fogueiras, quando se descobriu o fogo, só pela sensação de estarem a recorrer a algo estranho, perigoso, que não conheciam? E outras não queriam aproveitar a invenção da luz elétrica? Com medo de perder o controle da sua vida?

O novo e desconhecido assusta nos primeiros embates. Depois flui.

Nerea Luís fala de inovações na área da saúde, como ALPHAFOLD, invenção da empresa DeepMind, que estudam com a IA, quantidades gigantescas de informação das proteínas do nosso corpo e com isso podem prever, detectar e enfrentar patologias. Existe atualmente o maior banco de dados de sempre sobre proteínas – reais e artificiais – utilizado para investigação, por deep learning, biomedicina e bioquímica. Outra coisa incrível são os exoesqueletos –. Veja este pequeno vídeo. É sensacional o quanto pode ajudar as pessoas com limitações, ajudar pessoas saudáveis a não desgastarem tanto seu corpo nos trabalhos mais “pesados”. Eu conheci um senhor que a sua profissão era carregar e descarregar sacos de cimento de caminhões/camiões. E ele era tão bom que carregava dois sacos de 50kg de cada vez. Passado uns 20 anos, vê-lo a caminhar era de partir o coração. Isso vai poder ser evitado no futuro. Porque máquinas farão a tarefa ou porque o trabalhador tem um apoio fenomenal do exoesqueleto. Trabalhos de enorme risco, como condução de empilhadeiras, já são executados, em algumas empresas, por controle remoto – desde uma sala da empresa ou de uma sala do outro lado do mundo. Ou empresas em que apenas um ser humano pode supervisionar empilhadeiras autônomas e, se for necessário, corrigir remotamente algum problema com um simples botão. Caminhões/Camiões e táxis poderão funcionar remotamente – ônibus, trens/comboios, barcos, aviões, serão os próximos. A Marsi Bionics também é sensacional – consulte o site aqui. Desenvolve exoesqueletos de marcha. As pessoas que perdem autonomia na marcha, por acidente, velhice ou doença, podem ter esperança. Que maravilha! E sabem quem desenvolveu o primeiro exoesqueleto? Elena García Armada. Uau. Uma mulher.

Mais boas notícias descritas por Nerea Luís: nos hospitais estão recorrendo a robôs para acompanhar as crianças que precisam de tratamentos prolongados, de reabilitação, etc. Esses robôs funcionam como amigos, como iguais. Nos idosos, os robôs têm sido utilizados como animais de estimação, proporcionando companhia e apoio. Criação de vozes sintéticas para pessoas com dificuldade em falar. Análise e avaliação das conversas nas redes sociais, para detectar problemas mentais, comportamentos criminosos. Esta parte julgo que ainda está muito lenta para o que nós humanos sem IA, desejamos.

Joy Adowaa Buolamwini é uma cientista da computação e ativista digital canadense-americana. Tem vindo a atuar numa área “chocante”. Muitas das inovações tecnológicas implementadas no mundo não funcionam, ou funcionam mal, quando o sensor precisa de “ler” pele mais escura – imagine você que isto acontece até nos sensores para lavar as mãos nos aeroportos. Joy, está nessa luta terrível, inqualificável e que tem nome – luta contra o racismo estrutural. Que loucura...

Por último, Nerea deixa um aviso. Nunca permita que o seu cadastro/ identificação, seja efetuado através da sua irís. Nunca, nunca. Porque a irís é a parte do seu corpo que nunca mudará e isso significa que não pode ser alterada como uma senha, por exemplo. O que isso significa? Que quem tiver acesso à sua irís, terá acesso a tudo seu e você não poderá mudar o acesso mais.

Quem te avisa, teu amigo é... Olha...uma forma de ajudar sem ser com dinheiro. Viu?

Ana Santos, professora, jornalista

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