
JURANDO EM FALSO, PRA VARIAR
A campanha vai começar! À falsidade normal de vermos os políticos andando pelas comunidades com “a intimidade de um gorila comendo lagosta de garfo e faca”, soma-se agora a histeria e o descontrole de homens que gritam, se exaurem, pedindo a morte, a excomunhão, o inferno, para depois pedirem dinheiro. Um rio de impropérios antes de “me segue no canal” virou coisa normal. Mas não é normal.
As mulheres, mal levantam a voz e são tachadas de descontroladas; esses homens específicos – acho que todos sabem de que homens estou falando – berram, espumam, juntam saliva no canto da boca, xingam, ameaçam e parece que apontar arma é uma coisa natural. Só que não. Gritos e ameaças para marcar o 7 de setembro – mas na real – vamos perder de comemorar os 200 anos da nossa independência para sair e enfrentar essas tais ameaças tresloucadas de algumas pessoas, na rua. Ou seja: QUE NOJO! Estou com sérios problemas com todos os símbolos nacionais que foram surrupiados e sabotados. Tipo estresse pós traumático, mesmo.
Na TV – podem esperar – vamos ter enormes dificuldades em ouvir planejamentos de governo completos e decentes, já que esse governo nos faliu. Sem essa paixonite idiota que querem nos impor, mas com a razão absoluta de que estamos muito, mas muito mais pobres do que há 3 anos e meio atrás. Como isso vai ser equacionado? Através de que plano de governo? Senhores candidatos: podem começar a se coçar porque é só isso que interessa agora.
Salvador é uma das pátrias dos sem teto, no Brasil. Quem vai melhorar a vida dessas pessoas? Com qual plano? Estou à espera de que os candidatos sejam claros. Não me venham com ideias faraônicas porque estou cansada delas. Precisamos melhorar a qualidade do ensino: o Bug Latino pode contribuir, eu posso contribuir, Ana Santos pode contribuir e tem uma fila de pessoas que podem fazê-lo. Por que não nos chamam? Apenas parem de inventar, que a calçada tátil do prefeito passado está sendo totalmente destruída para que a calçada “não tátil” do atual prefeito apareça – e são do mesmo partido, o que só aumenta a minha sensação de estar sendo feita de idiota com o pagamento deste IPTU altíssimo. O ex prefeito agora quer ser governador e eu fico com medo de perguntar o que ele vai querer trocar, se for eleito. O lugar para as pessoas andarem na rua virou um mixer de bicicleta, caminhos tortuosos e muretas – os idosos vão acessar o caminho tortuoso, depois de escalarem as muretas? Tem engenheiro nessas obras?
E muitas promessas virão. Criancinhas no colo deveriam lhes fazer xixi por cima, mas a vida real nem sempre se mostra nesses poucos minutos de contato.
Preconceito contra tudo, temos de sobra – numa terra de gente mestiça, como é o Brasil e a Bahia, veremos uma população “branquinha”, que vai prometer mundos e fundos. Nós vamos fingir que acreditamos e votar neles, de novo? Estou mesmo exausta de gente que só põe os pés fora do carro na época de pedir voto. E, simples assim: não voto neles. Não voto em gente violenta porque o mundo já está impróprio de tão agressivo. Não voto em candidato que troca planejamento por ofensa. Não voto em quem não sabe colocar em palavras o que pensa porque esses caras vão ter que negociar melhorias pra nossa vida. Quero saber em todos os detalhes o que vai ser feito com a educação e o motivo pelo qual a população não pode contribuir. Quero, exijo, prontuário médico online em todo o setor público municipal e estadual.
Podem começar.
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
"As Promessas" Bug Sociedade
Parece que vivemos nas nuvens. Não sei onde aprendemos que isso era o melhor mas a verdade é que todos, em algum momento da vida o fazemos – fazer acreditar as crianças que tudo vai passar; que o bem vence o mal; que o Pai Natal / Papai Noel existe; que se as crianças, se portarem bem, merecem chocolates, sorvetes, prendas, viagens; que homem não chora ou que uma pessoa “forte” não chora; que comprar resolve problemas; que existe um príncipe encantado aguardando a donzela e que serão felizes para sempre; que a vida é fácil para os que merecem; etc; etc; etc. Poderia ficar aqui uma vida inteira aumentando a lista com clichês, pré-conceitos, “certezas” humanas de humanos que permanecem no erro, naquilo que não resulta, naquilo que faz sofrer, naquilo que nada constrói.
Agora chegou o tempo das promessas eleitorais, das promessas dos políticos, dos que dizem que tudo conseguem e que de tudo são capazes. Antes de serem eleitos, tudo eles sabem, tudo eles prometem, tudo eles ajudam, apoiam. Depois, depois precisam descansar porque se cansaram muito na campanha, depois precisam mandar embora pessoas que são contra eles, dar emprego a pessoas que são a favor deles, aquecer o cargo, a cadeira. E quem sabe, nos últimos seis meses, um ano, antes das próximas eleições, trabalhar duramente de novo para manter o lugar, prometer o mesmo ou ainda mais. Alguns fazem algumas coisas, na verdade constroem algumas estruturas – pontes, estradas, hospitais, escolas, praças, etc. Coisas. Que também são importantes, estamos de acordo. Mas onde nenhum consegue avançar, e cada vez é pior, é em melhorar comportamentos e hábitos sociais, melhorar qualidade de vida, melhorar educação, facilitar o acesso à saúde, facilitar o acesso ao conhecimento confiável, estimular a independência e autonomia social. Estamos todos encafuados nas cidades e isso só é bom para o sistema. Não vemos nem percebemos que estamos cada vez mais dependentes de serviços, não se engane, não é você que está feliz porque onde mora tem serviços para tudo não! Um dia, talvez tarde demais, vai entender que afinal tinha sido melhor você mesmo levar seu cachorro para passear, você mesmo lavar seu carro, você mesmo fazer sua comida, você mesmo limpar sua casa, tratar da sua roupa, gastar sua energia nos afazeres do dia a dia sem necessitar de ir para a academia para sua hora diária de “hamster”, etc. Gostava de estar enganada mas talvez eu já não esteja cá para lhe ver o sorriso de satisfação, ao final do dia, por estar cansada/o fisicamente, mas realizada/o emocionalmente.
Promessas que os outros nos fazem valem muito pouco se nos tiram cada vez mais o estímulo e a liberdade de saber fazer, de poder escolher, de poder dizer não ou sim, de acordo com o que sentimos que é bom para o nosso corpo – que é afinal o que somos nós aqui neste mundo – o nosso corpo.
O Coach formado em 3 meses, com 25 anos que nos diz como levar a nossa vida; o professor de Pilates, Yoga, Academia, de 25/30 anos que tem todas as soluções para o nosso corpo só porque seu corpo ainda está todo afinado. O político que, dentro do seu terno/fato impecável nos fala com a soberba de quem considera que visitou o Olimpo e aí julga ter recebido todas as qualidades e mensagens para tocar e “limpar” o mundo. Sabem tudo, têm as respostas todas, tudo parece fácil nas suas bocas. Eles vivem em que mundo? Eles olham para nós? Eles nos veem? Ou falam para as nuvens? É que o Brasil está num lugar cada vez mais perigoso e o que não tem aqui de certeza absoluta são nuvens.
Ludwig Wittgenstein nos recorda que “as fronteiras da nossa linguagem são as fronteiras do nosso universo”. Aprenda sempre um pouco mais, a ser, a saber e a fazer, de todos os pontos de vista para não cair na primeira mentira que lhe contam. O mundo é complexo, não é esse mundo cor de rosa que tentam nos vender a todo o instante. E o futuro nunca será o que imaginamos. Ninguém conhece o futuro porque ele ainda não existe...ou alguém já tem a capacidade de ir ao futuro e voltar?
Ana Santos, professora, jornalista
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