A proximidade da história com o que o mundo assiste meio perplexo, já transforma o conceito do filme num momento especial porque envolver o que os refugiados têm passado atualmente é muito tocante. Saber que a história é real aproxima ainda mais o nosso sentimento do que devem sentir essas pessoas. A dor e o sofrimento são muito bem desenhados e, embora não mostrem nada propriamente cruel, lá está ela, a crueldade, fazendo parte de tudo e nas menores coisas: os piratas que pedem dinheiro para transportar as pessoas, a burocracia, a perda da própria história, o não uso ou mesmo o uso inapropriado dos talentos desenvolvidos no País de origem – tudo aponta para a falta de inteligência e desinteresse das Nações do mundo, que poderiam usufruir muito melhor das mentes, da formação acadêmica, física, desportiva das pessoas que fogem da morte, da fome e da falta de perspectiva.
Todo esse retrato, embora leve, causa impacto, afeta fortemente. Nos noticiários apenas trocamos de desgraça a cada instante, mas ao dar um roteiro, transformar uma notícia em história, constrói-se o corpo dramático que nos falta na hora do jornal. E vale demais à pena ver para sentir. Não apenas empatia, mas ir além e se perguntar se há algo que nós podemos fazer, se há pessoas que possamos ouvir, ajudar a encurtar algum caminho, ajudar.
Não é um filme que se espere na disputa de um Oscar, mas quem precisa ver só filmes que concorrem a ele? Por isso, vale sonhar o sonho das atrizes e usufruir de seu extremo talento.
São filmes preciosos como esse que nos fazem perguntas incômodas e eu tive muitas que me assaltaram. Espero que vocês também.
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
É arrepiante assistir a este filme e perceber que nada melhorou. Pessoas que fogem da morte e aceitam enfrentar o que for necessário para poderem ter uma vida. Mas não basta as dificuldades da situação, ainda têm de lidar com imprevistos, traficantes, mafiosos, ainda têm de lidar com as burocracias, com as dificuldades de aceitação e de organização dos países que vivem em “paz”. É um filme obrigatório.
Bons atores, boa produção, boa direção, num filme biográfico e de exposição de uma sociedade doente que apenas se salva pontualmente, com um ser humano, aqui e ali, fazendo pequenas bondades, pequenos milagres. Estamos doentes, muito doentes. Metade do mundo em guerra, metade do mundo em festa ou em turismo.
O filme também nos fala dos verdadeiros atletas, os atletas da vida. As pessoas que arriscam a vida para ter uma vida comum, que arriscam a sua vida pelos outros, muitas vezes pelos outros que nem conhecem – como o treinador de natação. Bajulamos tanto os atletas famosos, que têm uniforme novo de cada vez que treinam ou jogam, que não têm nada para se preocupar, para além de marcar golos, que nada falam de interessante, mas bajulamos todas as palavras sobre esforço, coragem, determinação, que saem das suas bocas cheias de dentes de marfim. Precisamos acordar e perceber que meninas como estas irmãs são verdadeiras atletas, verdadeiros seres humanos que devem ser ouvidos, apoiados.
É horrível perceber como são pequenas as nossas inquietações, os nossos problemas, as nossas queixas, perante os verdadeiros problemas da vida.
Precisamos acordar. Precisamos ver este filme e outros para reavaliar a nossa postura e em que dedicamos o nosso tempo e as nossas lutas.
Ana Santos, professora, jornalista
Sinopse: Cheias de coragem, duas jovens irmãs deixam a Síria devastada pela guerra e embarcam em uma viagem arriscada rumo às Olimpíadas do Rio em 2016.
Direção: Sally El Hosaini
Elenco: Matthias Schweighöfer, Ali Suliman, Manal Issa.
Trailer e informações:
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