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“ALGO NO AR” Bug Sociedade


Fotografia de Isabel Munoz

“ALGO NO AR” Bug Sociedade

Sempre existe algo no ar que podemos sentir, cheirar. Está na vitória e na derrota; muitas vezes o sabor da derrota, quando passa, deixa o valor verdadeiro da aprendizagem bem feita.

Da vida, temos algumas poucas certezas. Vamos viver e morrer, sem data marcada para partir; vamos ganhar e perder e precisamos aprender, treinar, exercer as duas coisas, teremos que negociar para perdermos menos, ou seja, ganharemos menos se quisermos perder menos.

Tudo isso o que vamos viver, que estamos vivendo, depende diretamente do que falamos. Se falarmos menos, piores negociadores e negociações, piores sensações, piores expectativas. Mais medo, mais ansiedade, depressão, culpa, vazio. Algo semelhante ao nosso mundo atual?

Os políticos nos confundem falando muito, mas não é confuso – só é muito. Muitas promessas e muitas palavras – desconfiem de quem fala palavras demais para se comprometer de menos. Há pregadores assim em todas as religiões. Há promessas demais.

Aprender a cobrar soluções com delicadeza firme é uma habilidade a ser desenvolvida por todos nós até a morte. Numa negociação, não seja a parte que fica choramingando, nem aquele que despe todas as necessidades, mas aquela que sabe se posicionar e mostrar os fatos com clareza. Quem comete crime, tem que pagar, a lei precisa ser uma para todos e todos devem respeitá-las, essa coisa de impunidade gera monstros e para todos os bolsos e status, a ansiedade e o medo de que algo não dê certo é a mesma. Resolver só isso já nos daria um pouco mais de segurança, uma pequena margem de respiração.

A falsa confiança dos que roubam, aviltam, desviam, esbarra no medo de ter sido descoberto agora! Não... agora! Portanto, quantos milhões não roubados vale o nosso sossego? Se o guarda, na rua, lhe para e você concorda de imediato que estava falando ao celular, pedindo a multa, lógico que fica estupefato quando ele chama o superior e diz: “ela não está se comunicando”. Isso quer dizer: “ela não sabe o que está dizendo ao confessar ou ela não quer entrar no jogo onde agora ela pergunta: não tem um jeitinho, seu guarda”?

Ou seja: se você quer melhorar as coisas para próxima geração, precisa mudar muitas regras de negociação. Não é mais viável apenas dizer: “as coisas são assim”. As coisas estão assim, mas não nasceram assim. Sempre se pode escolher entre fazer o certo e o errado; entre escolher ajudar uma pessoa ou passar direto e falar mal do governo, normalmente em frente a um copo. Mas é mais ético ajudar. Isso é uma coisa séria. Seu papel no mundo é um pouco ético, pelo menos? Você vai mesmo viver até o dia em que morrer; você vai mesmo negociar a cada momento; fará tudo isso com ou sem ética? O que vai escolher? Qual será a sua contribuição?

Lembre-se: rico, milionário, bilionário ou mendigo, não sabemos o que vai acontecer após a nossa morte. Possivelmente, vamos continuar negociando, justificando, explicando nossas atitudes às almas superiores, mas com uma diferençazinha – sem nenhum dinheiro – que ficou aqui, com os vivos. Portanto, as diferenças éticas certamente farão diferença, nem que seja depois da morte. O algo além, aquele algo que sentimos no ar, pode ser a ética. Pode ser a compaixão.

Há algo no ar e, dependendo de nós, das nossas escolhas, pode ser uma coisa boa. Não sofra demais, portanto. Talvez haja outras saídas.

Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV


“Coisas boas” Bug Sociedade

“Sempre comparamos o nosso interior com o exterior dos outros” – frase que o psiquiatra Robert Waldinger, ouviu um dia de um professor seu. Isso é muito claro nas redes sociais, diz. “Sempre comparamos as inconsistências e o caos que sentimos com a aparência dos outros.” Claro que isso nos faz sentir mal, piores, menores, incapazes. E aí, vejam bem o aviso de perigo que ele nos dá: se passamos a vida a olhar o “perfil” do Instagram dos outros – que é sempre perfeito e lindo – fazemos uma comparação em que quem está mal, e muito mal, somos sempre nós. Isto é o que ele chama de utilização passiva e nociva das redes sociais. Porque se as redes sociais servirem para socializar, para encontrar antigos amigos, para manter contato com amigos e família noutros continentes, países ou cidades, para melhorar e desenvolver teu trabalho, teu conhecimento, a utilização é ativa e benéfica. Supervisionar-se a si próprio a todo o momento, perceber o tempo que utiliza em cada escolha das redes sociais e dominar como gastar seu tempo, em vez de se deixar levar por essa hipnose doentia, catastrófica e vazia. Quem domina o nosso tempo somos nós ou não dominamos nada na nossa vida.


Bia, Beatriz Haddad Maia, contrasta totalmente de Thiago Seyboth Wild. Ambos fizeram história no Torneio de Roland Garros este ano, mas enquanto Thiago é um excelente jogador, pelo que a comunicação social informou, é também um péssimo ser humano. Já Bia, dá valor ao seu time, acredita em cada um apesar de ser a primeira vez que todos vivem esta experiência de chegar às meias-finais de um Grand Slam. Bia é Bia dentro de campo e fora de campo – gentil, verdadeira, honesta, educada. Bia percebe e respeita a diferença entre a pressão de um matchpoint e a pressão de milhões de brasileiros para conseguir comida para viver – tem essa consciência. Bia e seu treinador, Rafael Paciaroni, buscam conhecimento, conselhos, aprender com a experiência e o saber de outros. Bia sofre todos os dias, vive uma vida desconfortável para que o desconforto competitivo dos grandes momentos possa ser um dia algo “confortável”. Bia é um ser humano tentando fazer da melhor forma possível o seu trabalho.

Bernardo Silva, jogador português do Manchester City que esta época venceu a Liga dos Campeões Europeus, a Premier League, a FA Cup, fala bem, é educado, culto. Um ser humano que faz parte do mundo, que dedica a Liga dos Campeões ao Avô, que nos faz sentir que o mundo tem sentido. Karim Benzema, um excelente jogador - acusado de tentativa de extorsão a um colega; acusado junto com outros 3 jogadores da seleção francesa de Futebol, de contratar garotas de programa, menores de idade – depois de ser contratado para jogar na Arábia Saudita, faz o seguinte comentário: “Escolhi este time porque é cheio de valores....e gosto da ambição e do caráter dos fãs...” É assim a vida, cheia de altos e baixos, de beleza e feiura, de alegrias e tristezas, de honra e vergonha.


“História que não se conta, história que não existe” lembra Isabel Munoz, fotógrafa espanhola sensacional que faz mais com suas fotos que muitos líderes mundiais. Para além de fotografar tudo o que se faz de errado com o ser humano pelo mundo – principalmente com as mulheres - de fotografar as diferenças culturais, a dança e os corpos, também está em busca de formas menos poluentes de fazer fotografia, como platinotipia ou nacarotipia – esta uma técnica inventada por si e por Manolo Gordillo, com restos de corais, tintas pigmentadas, técnicas de serigrafia, utilização de Tórculo. O mundo em movimento, o ser humano proativo.


“Sobrevivemos sem comida durante 3 semanas, sem água 3 dias, mas sem respirar, até 3 minutos. Respirar é o que fazemos sem parar desde que nascemos até morrer e não lhe damos nenhuma importância.” Quem nos lembra disso é Ai Futaki, recordista mundial do Guinness em Apneia – Double Freediving - e Embaixadora Oceânica do Ministério do Ambiente, Governo do Japão. Ouça esta breve palestra de 8 minutos, onde Ai Futaki, nos choca com a verdade dos oceanos, dos animais, do mundo e como saber respirar nos conecta com os outros seres.


IKIGAI, é a palavra japonesa para a razão por que você se levanta da cama todos os dias. NIKSEN é a palavra holandesa que significa "não fazer nada", para reduzir o estresse. HYGGE é a palavra dinamarquesa para aconchego, para saborear as coisas simples da vida – como por exemplo a ideia de estar no sofá, em frente da lareira, lendo um bom livro, coberta sobre as pernas e um chá ou café quente do lado. Waldinger nos diz para perceber e escolher como gastamos o tempo. Bia nos diz que mesmo o mais difícil é possível. Bernardo nos dá esperança em mundos demasiado poluídos. Isabel nos ensina a olhar e apreciar a beleza, a olhar e a agir contra a dor, o sofrimento e a injustiça. Ai Futaki nos lembra que de cada vez que expiramos, vivemos o momento – e é só isso que temos; nos lembra que os animais quando nos olham, nos olham com honestidade e verdade. Por último, Jacob Collier, que parece ter isso tudo dentro dele, para além de um talento e uma genialidade impressionantes. Este é o mundo em que é bom viver. Boa semana e até terça-feira.

Ana Santos, professora, jornalista

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