Tudo parece fazer sentido e nada parece fazer sentido. Tudo desanda e tudo rima. As respostas nem sempre batem com as perguntas. A vida é tanta coisa e coisa nenhuma.
1. Poesia indicada pelo Bug Latino
Porquê este desânimo e tristeza,
quando a vida está mesmo aí,
à espera e à espreita
do nosso alento e firmeza?
Porquê esta vontade contida
se sabemos que o tempo é finito,
que a existência é fugaz e ligeira
para ser mal estimada e vivida.
Porquê este brando sorriso,
quando o Sol nos aquece e acalma
nos dias mais frios e sombrios,
sem dor ou juízo?
Porquê esta frágil ousadia
nesta consciência dum tempo
que nos alerta e lembra
para uma escolha tardia.
Porquê este sentimento de covardia
quando desejas a felicidade,
o conforto de um simples toque
e um olhar de valentia?
Será a mente tão tortuosa
para esta constante tormenta?
Será esta a dor que alimenta
esta existência tão generosa?
Será este o porquê de tal inquietação
de tanto tumulto e desalinho?
Será este o nosso eterno choradinho,
Que nos forja e turva a visão?
Não quero a sombra de um corpo curvado,
ou o sentir de uma lágrima reprimida.
Não quero um ser subjugado
numa existência rendida.
Não quero o calafrio de um temor
num momento de distracção.
Quero a paixão de um amor,
sem regras ou ponderação.
Quero a energia de um abalo
num momento de desalento.
Quero a emoção dum doce embalo,
em cada mágoa ou sentimento.
João Paulo Pimentel
Maio, 2021
@jpaulopimentel62
2. Poesia indicada por Maria Lúcia Levert
As fontes
"Um dia quebrarei todas as pontes
Que ligam o meu ser, vivo e total,
À agitação do mundo do irreal,
E calma subirei até às fontes.
Irei até às fontes onde mora
A plenitude, o límpido esplendor
Que me foi prometido em cada hora,
E na face incompleta do amor.
Irei beber a luz e o amanhecer,
Irei beber a voz dessa promessa
Que às vezes como um voo me atravessa,
E nela cumprirei todo o meu ser."
Sophia de Mello Breyner Andresen, em "Poesia I", 1944.
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