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A dor na poesia

Cada um de nós pede ajuda da forma que é a sua. Como lhe é possível. Quantas vezes sente necessidade. Se as pessoas insistem que sentem essa dor, que sabemos que existe e que é injusta, por que não ouvimos? Por que não ajudamos a resolver?
1. Poesia indicada por Maria Lúcia Levert
“Amar!”
“Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: Aqui... além...
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente
Amar! Amar! E não amar ninguém!
Recordar? Esquecer? Indiferente!...
Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!
Há uma Primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!
E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder... pra me encontrar...”
Florbela Espanca
2. Poesia indicada pelo Bug Latino
“Vozes-mulheres”
“A voz de minha bisavó
ecoou criança
nos porões do navio.
ecoou lamentos
de uma infância perdida.
A voz de minha avó
ecoou obediência
aos brancos-donos de tudo.
A voz de minha mãe
ecoou baixinho revolta
no fundo das cozinhas alheias
debaixo das trouxas
roupagens sujas dos brancos
pelo caminho empoeirado
rumo à favela.
A minha voz ainda
ecoa versos perplexos
com rimas de sangue
e
fome.
A voz de minha filha
recolhe todas as nossas vozes
recolhe em si
as vozes mudas caladas
engasgadas nas gargantas.
A voz de minha filha
recolhe em si
a fala e o ato.
O ontem – o hoje – o agora.
Na voz de minha filha
se fará ouvir a ressonância
o eco da vida-liberdade.”
Conceição Evaristo
Escritora de Minas Gerais, Brasil
Poemas da recordação e outros movimentos (2008)
3. Poesia de Gal Perdigão
“Racismo em cena”
Em plena quarentena
O racismo vira tema...
Faz tanto tempo,
Nunca saiu de cena!
A cor da pele escraviza
Gerações e gerações,
Envergonha as nações.
Pele negra luta
Por uma igualdade merecida,
Um direito à Vida !
Sem distinção de cor!
Gal Perdigão
Escritora
Do livro “Poemas na quarentena”