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“7 de setembro” Bug Sociedade

“ERA FESTA? NÃO ME CONVIDARAM”
A festa certamente não deveria acontecer, apoiada que está pelo uso descarado dos nossos símbolos nacionais, mas fomos usurpados mesmo. É um fato. Mas também é fato que o nosso bicentenário de independência – pelo menos aqui na Bahia – acontecerá no dia 2 de julho de 2023. E isso – carmicamente – é muito mais justo do que o 7 de setembro. A guerra aqui foi popular, envolveu inúmeras mulheres/heroínas que - ignorando o machismo, o patriarcado e o que os homens inventaram historicamente para nos interromper a travessia – lutaram como loucas e usando todas as armas: espada, oração, sedução, ervas, luta corporal.
O sangue dos verdadeiros brasileiros – nós, os mestiços – foi colocado sobre a terra, aqui. Pela via torta da vilania, nos está sendo roubada a possibilidade de comemorarmos a nossa independência no dia 7; mas, pensando bem, 7 de setembro nunca foi o nosso dia de comemorar mesmo – afinal tirar uma fitinha do chapéu não interrompeu o fluxo de nada.
Povão na rua lutando e 200 anos depois comemorando e fazendo festa de independência na mesma rua tinha que ser no dia de 2 de julho – com fé com a nossa democracia assegurada, defendida de novo pelo povão. NÓS.
Como no 2 de julho, muitos de nós morreram, todos nós perdemos alguém importante, a morte foi lugar comum na nossa vida no meio das pragas e da falta de apoio, de comida. Há os que ainda acreditam que vacina não cura; há os que vão pular de um dos “lados da terra plana”; há os que vão acreditar em falsos profetas, ao invés de lutarem pela democracia com a gente, mas vamos vencer o totalitarismo, a presunção da verdade absoluta, a subversão do uso da justiça - de novo.
Sempre faremos isso. Somos um povo assediado, escravizado, humilhado, revistado, aprisionado pela pobreza que esses poucos – com aqueles velhos sobrenomes, conhecidos de muitos carnavais – não querem deixar de explorar. Mas olhando em frente, temos no presente, a tarefa de plantar futuros. O que queremos que aconteça? Liberdade, liberdade, afinal? Democracia? Você sabe o que fazer. Dia 7 chegamos ao ponto de termos a nossa festa sequestrada por uma campanha eleitoral. Isso é liberdade, liberdade? Isso é certo? Existem dois Brasis?
Firmem seus pés nesse chão que acolheu os 700 mil que morreram sem quererem morrer. Que morreram sem precisarem morrer. Firmem seus pés no chão e caminhem para o posto de saúde. Tem 18 vacinas lá esperando por seus filhos, seus netos. A luta também usa essas armas. Levante a cabeça e semeie o futuro. Semeie ao votar. Olhe pra frente. Não pense em discussões menores do que: Ser livre, num País livre é melhor ou você prefere a prisão, o silêncio, o não acesso ao pouco que temos acesso?
Temos um encontro na rua, na nossa festa, no dia 2 de julho do ano que vem. E A NOSSA FESTA DE INDEPENDÊNCIA VAI SER A MAIS LINDA, VESTIDA DE ALEGRIA! Essa, do dia 7, foi corrompida pelos oligarcas. Não é nossa. Nossa luta é sem armas, sem tiro, só no dedinho, na alegria, no voto.
Sem medo. Viva a democracia.
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
Uma semana inquietante. O Brasil está fervendo. Acusações, intimidações, manipulação da informação, jogos de palavras, todos mexendo seus cordelinhos. Acordos, mediações, promessas, combinações. O “sistema solar” brasileiro está a todo o vapor. A semana do 7 de setembro de 2022 que todos, ou quase todos, desejam que decorra com o máximo de serenidade, parece uma panela tapada/tampada que aparenta estar fria, mas quando se levanta o testo/tampa parece azeite fervendo.
Convencer os indecisos, os desiludidos, os arrependidos, os recuperados, vale todo o tipo de comentário. Uma competição onde parece valer tudo. E isso assusta muito. Estou com muito medo, ao mesmo tempo que estou muito esperançada. Também preocupada pelo que poderão fazer de errado os discípulos de Bolsonaro, se/quando perderem.
Vejo que Angola está dando passos espantosos, ao fim de 50 anos, com uma imensa população jovem determinada a colaborar em direção a uma democracia, lentamente, mas finalmente. Tenho esperança que os jovens deste país possam fazer a diferença nestas eleições, com seu voto, suas opiniões, sua coragem, sua vivacidade. Quem sabe, finalmente, os jovens entendam que eles são o presente, para além do futuro. O país adoeceu e necessita de cuidados, mas também da vossa assertividade e impetuosidade. Quanto mais se fala que a corrupção precisa terminar, mais ela aumenta. Quanto mais se fala nos direitos da população negra, da população indígena, da mulher, da população LGBTQ..., mais são maltratadas/os, invisibilizadas/os. Mas existe uma esperança: que todas as pessoas e famílias que são maltratadas, que sofrem, que são pobres, que não têm oportunidades, percebam que precisam ter sempre esperança, que precisam continuar a lutar, como sabem fazer tão bem e que além disso, invistam em estudo, em formação, em aprendizagens nacionais e internacionais – quando tudo falta, o youtube é uma baita escola - e procurem brechas. Sempre existe uma brecha, se não for para si, será para seu filho, seu neto, seu bisneto, seu vizinho, seu amigo. Não para corrupção, mas oportunidade para quem tem capacidade. O Brasil um dia terá justiça, equidade, oportunidade para todos. Um dia será o país que merece ser.
Cansa ver, cansa saber, cansa assistir, bem na frente dos nossos olhos a pessoas da mesma família em lugares poderosos, com nomes diferentes para ninguém perceber. Cansa ver como alguns conseguem empregos incríveis, sabendo nós que essas pessoas são tudo menos incríveis. Cansa, cansa, cansa.
Nesse momento precisamos lembrar de investir em estudo, na criatividade, trabalho, trabalho e trabalho e procurar as brechas. Procurar sem parar.
Neste momento a brecha é tirar da presidência uma pessoa sem qualificações para o cargo e todos os que estão em cargos para os quais não têm qualificações. Invista nas suas qualificações, mesmo que não tenha espaço para ocupar os lugares que merece. Acredite, seja o que for que vá fazer, será diferente, será bom para todos, fará a diferença.
Ana Santos, professora, jornalista