Utilizamos quase sempre as mesmas palavras nos nossos dias de rotina. No primeiro poema de hoje, relembre palavras, procure o significado de palavras que não conhecia ou que já nem recordava. E conheça um dos poemas mais famosos de Portugal.
No segundo poema, se sinta acompanhado. Quando sofremos achamos que estamos sós mas todos passamos pelo mesmo, de uma forma ou de outra. E não se aflija...
1. Poesia indicada por Maria Lúcia Levert
“PEDRA FILOSOFAL”
Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos,
como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.
Eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma, é fermento,
bichinho álacre e sedento,
de focinho pontiagudo,
que fossa através de tudo
num perpétuo movimento.
Eles não sabem que o sonho
é tela, é cor, é pincel,
base, fuste, capitel,
arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral,
contraponto, sinfonia,
máscara grega, magia,
que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa-dos-ventos, Infante,
caravela quinhentista,
que é Cabo da Boa Esperança,
ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor, passo de dança,
Colombina e Arlequim,
passarola voadora,
pára-raios, locomotiva,
barco de proa festiva,
alto-forno, geradora,
cisão do átomo, radar,
ultra-som, televisão,
desembarque em foguetão
na superfície lunar.
Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida.
Que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.”
ANTÓNIO GEDEÃO
Português, Século XX
Rómulo Vasco da Gama de Carvalho, português, foi um químico, professor de físico-química do ensino secundário no Liceu Pedro Nunes e Liceu Camões, pedagogo, investigador de História da ciência.
2. Poesia indicada pelo Bug Latino
“Não te aflijas”
“Não te aflijas: a beleza
Voltará a encantar-te
Com a sua graça
Tua sensação de tristeza
Se trocará por um
Jardim de rosas
Não te aflijas: o teu mal
Será trocado pelo
Bem
Não te detenhas
No que te inquieta,
Pois o teu espirito
Conhecerá de novo
A paz.
Não te aflijas:
Uma vez mais a vida
Voltará ao teu jardim
E breve verás, oh
cantor da noite,
uma coroa de
rosas na tua frente.
Não te aflijas se, algum dia,
As esferas do Cosmos
não giram
segundo teus desejos,
Pois a roda do tempo
não gira sempre
no mesmo sentido.
Não te aflijas se,
Por amor,
Penetras no deserto
e os espinhos
te machucam.
Não te aflijas,
alma minha,
se a tempestade do tempo
arrasta a tua morada mortal,
pois tens o amor
para te salvar
do naufrágio.
Não te aflijas
Se a viagem é amarga
Não te aflijas
se a meta é invisível
Todos os caminhos
conduzem
a uma só meta
Não te aflijas,
Hafiz,
No teu canto humilde
Onde te achas pobre,
Abandonado
na noite escura,
e pensa que
ainda tens
a tua canção
e o teu amor.”
Hafiz de Shiraz / Hafez de Xiraz
Poeta Persa, Século XIV