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2 Contos sobre a "TchuTchuca"


Charge de Nando Motta - Retirado do wordpress.com

Conto “TCHUTCHUCA”

Desde pequena que ouvia que apelido “cola” em quem reage e que a melhor saída era “deixar ele passar de fininho”.

Fora os diminutivos todos: Aninha, Tó, Vitinho, os apelidos poderiam tomar os contornos mais estranhos. Ricardão virou metáfora de amante; Sapatão, de lésbica; Tchutchuca, do presidente.

Ela tentava se manter séria, mas era hilário: Tchutchuca do Centrão era tudo de bom!

E ali estava o cenário: ao invés de fingir que não tinha ouvido e aguentar firme, como quem era chamado de “Balão ou Rolha de Poço ou Pintor de Rodapé”, a estranha personalidade que compõe o presidente reagiu, tentou tirar o celular da mão do cara, gritou, colocou seguranças pra segurarem o garoto – tudo muito bem documentado e posto de imediato nas redes – o super, mega, blaster ridículo.

Ela recebeu em poucas horas o Funk do Tchutchuca, os Memes, as piadas e seus olhos brilharam, não podia evitar – “Vai pegar, já pegou”!

E como na escola, quando era criança, acabou observando impiedosa toda a movimentação social de vingança. Brasileiro era assim: Acharam que ele tinha nocauteado todo mundo, que a sociedade estava paralisada, mas que nada – parece que fica todo mundo em suspenso, esperando a saída mais cretina, o ridículo extremo, o cúmulo da ironia e cair por cima, “deitar os cabelos”, rir da cara. Ele que tinha ido ao mais bizarro do bizarro, para além de: “povo de Sucupira”, além da vida e da morte. Ele... pois é... Ele tinha caído pro herói desconhecido e claro – brasileiro – aquele que não tem medo de mirar, atirar... e rir!

E assim: “Tchutchuca, vem aqui pro seu Centrão”, mais que um apelido indesejado, virou a melô da revanche, o riso debochado na cara de quem achou que o povão tinha sido calado pelas “patas dos cavalos”, pela grosseria extrema.

Ela lembrou da cena de King Lion: - Perigo? Eu rio na cara do perigo! Eu vivo na selva braba!

É, Tchutchuca... Nessa você dançou... E Funk! Eheheheheh... Manteve os olhos brilhantes, o riso fechado. Mas a alma lavada e enxaguada, gente!

Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV


“Conto?”

- Pai?

- Sim, filho...

- Como se chama esse senhor que está falando na televisão?

- Durão Barroso, ex-Ministro dos Negócios Estrangeiros, ex-Primeiro Ministro, de Portugal e ex-Presidente da Comissão Europeia.

- Mas as pessoas chamam ele de Cherne...

- Um dia explico-te...

- Ok.

Está na hora de ir para a escola e na rua vai passando por diferentes pessoas. Um grupo de meninas bonitas olha para ele e comentam em coro:

- Oi bonitão, já está indo para a escola?

- Estou. E vocês? Não têm aula agora?

- Já vamos também, sim. Até já!

Passa por duas velhinhas que espreitam o mundo pela sua janela de casa.

- Bom dia meu anjo! Já vai para a escola? Desejamos um bom dia!

- Obrigada!

Nem sabe o nome das senhoras. Seus pais sempre falaram nas duas com o nome de “as viúvas”. Imagina que perderam os seus maridos mas é só uma sensação e interpretação em relação ao nome.

Passa por um grupo de homens, sentados num bar, bebendo. Estão ali diariamente. Toda a gente os chama de cachaceiros mas ele não entende porque têm esse nome se bebem cerveja. Não deviam ser cervejeiros? Diz boa tarde a todos e eles respondem em troca:

- Bom dia surfista! Boa escola!

- Obrigada!

Chegou à escola, chegou à sua sala. A professora antes de iniciar a aula perguntou a todos rindo e brincando:

- Os vossos pais vão continuar a votar no Tchuchuca?

- Quem é esse professora? – perguntam todos.

- Depois explico...

Ficou com aquilo na cabeça. Quando chegar a casa precisa lembrar seu pai de explicar o Cherne e o Tchuchuca.

As aulas terminaram, esteve um pouco com a namorada antes de voltar para casa e fez o caminho de volta, encontrando de novo os cachaceiros e as viúvas.

Ao chegar a casa, foi cumprimentar o pai e a mãe. Ao jantar, estava se preparando para fazer as perguntas, mas seus pais, nesse dia, estavam muito conversadores e não teve espaço. Quando estava se levantando da mesa, ouviu a voz da sua mãe:

- Filho?

- Sim, mãe?

- Recebemos uma informação da escola sobre umas faltas que você teve. Gostava que nos explicasse a razão de ter faltado, afinal você vai para a escola todos os dias.

- Estive a estudar na casa do Cherne e do Tchuchuca.

- Como assim? Quem são esses seus amigos?

- Depois explico...

Ana Santos, professora, jornalista

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