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2 Contos: “MALDITO SEGURO” e “Infelizmente, filha de militar”

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    portalbuglatino
  • há 2 dias
  • 5 min de leitura
Lygia Pape
Lygia Pape

Conto “MALDITO SEGURO”

              Que beleza, ela tinha afinal feito o seguro da casa!

              - Sabe quantas pessoas conseguem esse feito?

              E prestavam serviços, gente! Seguradora de banco famoso – um dos maiores do Brasil.

              Na sua cabeça, sempre vinha a frase fatal: banco vende dinheiro... banco não dá nada a ninguém... Mas lá estava o seu endereço assegurado.

              De repente quebrou a geladeira.

              - Chama o seguro! – Toda feliz!

              Veio um técnico fera, consertou em minutos. Será possível? Deu garantia: um mês.

              E não é que um mês depois o defeito apareceu de novo, no mesmo lugar? Chamamos o técnico, mas tínhamos que voltar a seguradora e recomeçar o processo. Começou o inferno. Só tinha robô no atendimento. E chique, gente – chique mesmo – é falar com gente viva. Nem tinha a opção “serviço em garantia”. Então reclamamos e reclamamos. Tanto, tanto, que desistimos e pedimos um atendimento – mesmo perdendo a maldita garantia.

              Também não deu certo. No dia marcado, não veio ninguém e o “alguém” apareceu no dia seguinte, na hora que quis. Reclamamos. E o tal homem sem eira nem beira, sem se identificar, sem senha, tirou uma foto da casa e sumiu. Escafedeu-se. Protocolos? Colecionamos!

              00120250824408976 24/08/2025 11h55

00120250824408988 24/08/2025 12:11H

00120250825417231 25/08/2025 12h04

00120250826432619 26/08/2025 10:43h que foi substituído pelo atendimento de nº 00120250826432710

00120250826436088 26/08/2025 12h21

E-mails sem fim. Telefonemas sem fim. Aborrecimentos sem fim. Que vontade de trabalhar e operar com o direito! Que vontade de ser grosseirona e xingar todos os atendentes. Que vontade de gritar minha decepção com o banco – por que eles se negam a prestar um serviço que preste para pessoas comuns?

Com todo o meu nojo, lembrando da operação da polícia federal que prendeu só abonado de financeira, fiquei pensando o que devemos fazer para coibir serviço podre, atendente ruim, pessoas que não respeitam a pessoa que é da mesma faixa que ela para puxar, babar e se pendurar no saco do patrão.

Meu horror se estendeu aos políticos que, ao invés de fazerem leis que protejam o povo, se vendem a esses endinheirados sem piedade, sem caráter, sem humanidade. Somos o lucro, os números, os gráficos de pizza. Os políticos querem se blindar para roubarem mais, lacrarem nas redes e fazerem esse papelzinho miserável que vemos todos os dias na ultradireita brasileira, em Brasília. Me lembrei do vereador de Santa Catarina que disse que o Norte e o Nordeste deveriam ser proibidos de irem para Florianópolis se não dessem seu endereço fixo de lá. Miserável... Minha lua de mel foi em Santa Catarina e lá eu só peguei uma bicheira debaixo do braço por causa de uma aranha – e médico carioca não entende nada de pereba sulista! 

Dizem que a pessoa só fica feliz com sua casa de praia, no dia em que a compra e depois quando a vende. Pois eu comprei o seguro famoso e só vou ser feliz daqui 1 ano – QUANDO ELE TERMINAR!

MALDITO SEGURO FAMOSO...

Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV

 

Conto “Infelizmente, filha de militar”

Adoro os livros de Gabriel García Márquez. Talvez aquilo pelo qual o admiro mais é pela capacidade de ver a vida como um percurso onde por vezes ajudamos pessoas e, quando estamos menos bem, essas ou outras pessoas nos ajudam. Acontece uma espécie de ciclo que se fecha, onde tudo me parece fazer sentido. Coisas que parecem sem solução, subitamente se solucionam, ou porque algum amigo nos ajuda, ou porque um desconhecido nos ajuda, ou porque alguém que ajudamos há muito tempo agora nos pode ajudar. Enfim, aparece sempre uma solução muito bonita e humana.

Meu lado imaginário pensa sempre que isso vai acontecer na minha vida. Nunca acontece, mas eu sempre fico aguardando o momento em que acontece e até imagino Gabriel García Márquez sorrindo enquanto escreve essa parte do romance. Penso: “agora era o momento em que eu jogava na mega sena ou no euromilhões e resolvia os problemas financeiros que tenho.” E jogo com essa esperança. E claro que não sai nada. E claro que penso que não devia ter jogado porque gastei dinheiro em vão. E dali a um ano me vem a esperança de novo, a solução para todos os problemas financeiros. E de novo gasto e de novo não ganho nada e fico triste porque Gabriel García Márquez nunca mais escreve isso no meu “romance”. Ele morreu em 2014, ele não seria capaz de “escrever” a minha vida. Sei disso bem. Mas bem que podia escrever no além e enviar esse “recado” para cá.

Minha vida não é fácil. Vou vivendo com a pensão vitalícia por ser filha de militar, combinada com benefícios de dois ex-maridos meus que também eram militares. São míseros R$117.012,43 reais. Mas eu sou boa gerindo o dinheiro, quer dizer, consigo gerir o dinheiro para o mês todo. Nunca me falta. Vejo gente por aí que trabalha e não sabe gerir o seu salário para um mês inteiro. Eu sou responsável. Eu consigo. Tudo bem que podem dizer que a minha pensão é mais elevada, mas mesmo assim preciso saber gerir o dinheiro. Não é fácil.

Anualmente, em agosto, faço como Fernanda del Carpio, protagonista do livro de Gabriel, “Em Agosto nos Veremos”. Todos os meus maridos sempre sabem que nessa época faço uma viagem a Ibiza, com a desculpa de que minha mãe morreu ali, e ali está sepultada. Fico uns 20 dias. Levo flores ao cemitério no primeiro dia e depois descontraio em todas as discotecas nos dias que fico. Não tenho culpa de minha mãe ter morrido em Ibiza. Podia ter sido noutro lugar – Las Vegas por exemplo. E teria de ir na mesma. As pessoas sabem lá o que passo.

O desejo de comprar aquele iate não me larga, já cansei deste novo apartamento e quero trocar para onde mora o ex-militar que estou tentando casar. Parecem coisas bobas, mas dão trabalho.

Aquela viagem do livro de Gabriel, “Amor em Tempos de Cólera” também preciso fazer um dia. Claro que só faz sentido se comprar o barco. Preciso fazer as viagens às cidades do livro “Doze Contos Peregrinos”. Barcelona, Genebra, Roma e Paris. Já fui a todas, mas da próxima vez terei de ficar mais tempo em cada uma para fazer a coisa com calma. Muita coisa para fazer, muita despesa e nem o euromilhões, nem a mega sena colaboram. É difícil.

Ana Santos, professora, jornalista

 

Sábado é dia de conto no Bug Latino. Contos diferentes, que deixam sempre alguma reflexão para quem lê. Contos que tentam ajudar, estimular, melhorar sua vida, seu comportamento, suas decisões, sua compreensão do mundo.

 

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