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2 Contos de Amizade


Conto “COBRA, JACARÉ OU AMANTES DE CINEMA?”

Não se podia negar a alegria de um reencontro daquelas três – em especial delas três - depois de tantas mortes, perdas, espaços vazios, problemas, saudades. Ela poderia colocar e classificar mais umas cem palavras naquela lista, mas ok – quem viveu a Covid 19 no Brasil, pode entender o deserto de atendimento, atenção e generosidade do Governo Federal, que dizia mesmo à boca cheia que não ia liderar nada, nem ninguém.


E aquele dia foi uma festa de palavras, uma loucura, uma engenharia de rapidez mental, intelectual, com assuntos que pulularam por todos os lados e com elas ciscando sobre eles, jogando-os para cima, para os lados, opinando sobre os últimos dois anos e meio, pelo menos – como sempre, aliás.


E naquelas horas, a mangueira ter morrido virou logo uma muda de jasmim-manga e outra de pitangueira; a falta dele, “o querido”, não era realmente falta porque elas o reviveram e esta foi a maior homenagem que se lhe podia prestar, tomando café, ao mesmo tempo em que tomavam pé e compartilhavam de tudo o que era novo, matando as saudades das coisas antigas, comendo torta de maracujá perfeitamente congelada, quando deveria estar apenas gelada – porque um lugar de arte, não nasceu pra ser um lugar de obediência, afinal. Apalparam telas, poltronas, reclamaram daquelas ligações insuportáveis de venda e os assuntos revoavam naquela mesa como o alpiste que se joga aos passarinhos. Na revoada, mil papos de política, opiniões de sociologia, costumes, a ideia confusa e verdadeiramente estacionada na evolução das sociedades que reivindica que política de Estado é mesma coisa que opinião ou palpite “retrógrado/ignorante de político”. Blegh! Armar as pessoas – “que deveria ser pecado mortal” – nunca entrou em nenhuma lista "deles".


- Será que o Brasil, depois que a guerra da Ucrânia acabar, vai continuar ganhando em número de mortes?


E lá iam e vinham assuntos.


Num momento assim se via como a Covid as havia roubado de pessoas maravilhosas. E também se via com clareza absoluta que os maus mostraram seu egoísmo e perfidez com a maior cara de pau, enquanto que os bons tiveram que se desdobrar pra atender e entender um mundo que, se era estranho antes da pandemia, evoluiu para totalmente bizarro e incoerente – com guerra e tudo.


Todas sabiam que já deveriam ter ido, que a vida chamava, mas ficaram e depois correram esbaforidas, de volta ao mundo pós-pandemia – como foi perfeito voltarem aquelas horas no tempo, como se não tivessem perdido tantos amores... Como pássaros em revoada no final das tardes.


Ao sentar-se para escrever o conto que seria postado no dia seguinte, ela pensou naquelas palavras que se amontoaram e depois se alinharam para depois se perfilarem, bagunçarem e dançarem parecendo mesmo com piados especiais. Carinho ignora o tempo... – pensou. Três amigas elegantes – e também inteligentes, bem humoradas e decididas – que equilibraram temas acadêmicos, com unhas postiças difíceis de “gerir”.


Tudo isso, todo o reboliço alegre, as mil palavras por minuto têm nome: amizade – estão servidos?

Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV


Conto “um amigo”


- Ana?

- Oi?

- O que é um amigo?

- Não sei...

- Como não sabes?

- É isso...não sei...é muito complexo...

- Como assim? Tenta explicar...

- Pensava que o amigo era uma pessoa que estava perto.

- E não é?

- Pode ser, mas pode não ser. Tenho amigos perto e tenho amigos longe.

- Ok. E que mais?

- Pensava que os amigos nunca te mentiam.

- E mentem?

- Às vezes preferem mentir...quando não te querem magoar. Quando a mentira te protege.

- Não sei se concordo. E mais?

- Às vezes não te ajudam para te ajudar.

- Essa preciso que me dês um exemplo.

- Ok. Imagina que dizes que precisas de carona e a pessoa recusa. Ele pode recusar por ser egoísta e aí não é amigo ou por saber que para a minha saúde é melhor eu ir a pé.

- Ah, agora entendi!

- Amigo é quem te ensina coisas novas.

- Legal!

- Quem não se ri de você quando você falha. Quem está do teu lado quando atravessas momentos difíceis ou, se não pode estar do teu lado, deseja que tudo passe e você fique bem.

- Concordo.

- Quem te ajuda a ver o mundo de forma mais agradável, mesmo nos maus momentos. Quem te vê sempre de forma honrada, em todos os momentos.

- Concordo também.

- Quem entende a tua linguagem.

- Tudo?

- Sim, porque se não entender, pergunta até entender.

- Ok. Tens mesmo 5 anos?

- Acho que sim. Amigo, não fala nas costas, não crítica o teu trabalho, tuas escolhas com os outros – faz isso contigo, frontalmente, para entender, e por vezes, tentar ajudar a melhorar as escolhas, o caminho.

- Nossa, ser amigo parece difícil, impossível.

- Não, não. Difícil sim, mas nunca impossível. Aliás nada é impossível para os amigos.

- Você parece ter muitos amigos, pelo que fala.

- Não é importante o número, mas os que realmente são verdadeiros. Na verdade aprendi a reconhecer os que são e os que não são. Muitos parecem ser, fingem bem, às vezes uma vida inteira, mas não são. São pequenos detalhes que nos mostram isso. É preciso estar atento.

- Pensei que amigos eram os que se mantêm durante mais tempo na vida.

- Mas não parecem ser só pelo tempo mas sim pelas ações. É muito cômico ver as pessoas se achando melhores por terem amigos desde a infância.

- Para quem não sabia de amigos, você sabe bastante.

- Sei o suficiente para guardar e tratar bem os verdadeiros.

- Estás muito água com açúcar hoje.

- Estou doente. Sinto tudo de uma forma muito mais verdadeira e mais sensível. Vai, anda, seja amigo, me dê boa noite e me deixe dormir, que estou mal.

Ana Santos, professora, jornalista

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