“Dias Perfeitos” / “Perfect Days” (Netflix, 2023)

Você pega um limpador de banheiros públicos – tudo bem que no Japão os banheiros públicos deixam os de Salvador no extremo chinelo – imagina aquela rotina, aquela vida, aquela repetição constante, permanente, silenciosa – no máximo lacônica - e nos primeiros momentos pensa que vai enlouquecer com tão pouco, com aquelas pessoas entrando “apertadas” no espaço que você está limpando, a sua invisibilidade permanente, no nojo que as mães têm de você apenas porque sua vida é limpar o espaço público onde são depositadas as necessidades fisiológicas do mundo... Mas depois desse choque inicial – inicial mesmo, leva poucos minutos – você passa a ver tudo o que uma rotina rígida revela, ou seja, tudo o que a vida atravessa na sua frente para quebrar a rotina – e é perfeito.
Uma pessoa totalmente concentrada – uma coisa meio taoísta, budista, até – em cumprir o seu papel na vida – participa de maneira sutil, mas decisivamente da vida de muitas outras e isso sem falar, exercitando a sua capacidade de ouvir – algo raro atualmente na nossa vida ocidentalmente poluída pelos nossos egos. O mal estar vira equilíbrio; cada ruptura, uma nova descoberta. Num mundo impaciente, onde as pessoas dão “chiliques” porque estão “cansadas demais para ouvirem um conselho”, são grosseiras porque supõem “saber a sua melhor resposta”, que não adaptam nenhuma experiência é um mundo que precisa ver-se melhor – sobretudo ouvir-se melhor.
Um grande filme, uma interpretação gigante de Miyako Tanaka, numa direção rica em detalhes e sutilezas, nesse jogo perene entre o simples e o complexo, que nos coloca diante do espelho da nossa vida e da enorme distância entre coisas que, supostamente, já acabaram no mundo, mas que podem – se você abrir a porta – nos aproximar do nosso interior, da nossa paz interna, de uma velocidade mais próxima do suportável.
Antes de comprar “seu próximo curso e aprender a ganhar 7 dígitos sozinho, inseguro e infeliz”, perceba que a visão da alegria está dentro de você – se for vista pelo seu íntimo, esse complexo parâmetro que somos nós, diante do espelho.
Veja com seus parentes mais velhos e pergunte como o tempo de viver era mais feliz antes, o medo era menor do que o desejo de conhecer mais, ter a experiência, a visão... ou apenas veja em grupos heterogêneos porque não somos esses “robolóides” cheios de preenchimento, silicone e botox, discursos iguais e igualmente infelizes. Experimente sua humanidade. Ela é marcante, inesquecível e cheia de insignificâncias deliciosas.
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
Filme lindo. Wim Wenders é um diretor que gosto muito. Sinto sempre que ele primeiro se apaixona pelos lugares e pessoas, profundamente, e depois constrói estes filmes intensos, sensíveis, sem grandes alardes. Andou por Portugal também...
Este onde impera o silêncio, a escuta, só podia ser mesmo no Japão. O Japão é um mundo à parte, onde se tem a sensação de viver uns 20 anos à frente – nós aqui vivemos em 2025 e eles já vivem em 2045, mais ou menos isso. Um país que dá passos responsáveis e conscientes, baseados nas características da população e do seu território, nunca baseados na cópia nem na repetição do que se faz em outros países. Por isso vivem à frente do nosso tempo, sempre.
Aqui, somos estimulados a voltar ao vinil, à cassete, ao livro, à conversa, à contemplação da natureza, do mundo e do universo. Somos estimulados a admirar as pessoas e suas vidas, em vez de as criticar. O personagem nos convida a ter esse olhar de bondade, generosidade, verdade e de aceitação do que cada um é. Você pode ter uma profissão desrespeitada, mas você é que torna sua profissão e sua vida desrespeitosa ou admirável. E o personagem nos dá uma lição de humanidade, da tal contemplação do que é belo. Ele não perde tempo com críticas, nem comparações. Ele aproveita cada momento, cada pessoa, cada luz e cada sombra.
Um homem, de quem sabemos pouco do seu passado, sabemos o suficiente no momento porque é um excelente ouvinte, um excelente parceiro de refeição, de trabalho, de família, do que você quiser. Minimalista, percebemos em determinado ponto do filme que guarda uma enorme dor. Como todos os que encontram seu lugar, seu jeito na vida, seu canto, sem grande ruído. Vivem apenas. E isso é o maior objetivo de cada um. É o meu pelo menos.
Uma trilha sonora “vintage” e soberba.
Se não conseguiu ver no cinema, como o Bug Latino, assista agora na Netflix. Imperdível.
Ana Santos, professora, jornalista
Sinopse: Hirayama concilia seu trabalho como zelador dos banheiros públicos de Tóquio com sua paixão por música, literatura e fotografia. Sua rotina é lentamente interrompida por encontros inesperados que o forçam a se reconectar com seu passado.
Direção: Wim Wenders
Elenco: Miyako Tanaka, Kôji Yakusho, Long Mizuma
Trailer e informações:
Domingo é dia de exposição de azulejos e de sugestão cultural.
Azulejaria, uma arte milenar que enriquece nossos dias.
Sugestão cultural: uma exposição, um bailado, uma ópera, uma peça de teatro, um filme.
Sempre que possível indicamos filme ou documentário que pode ser visto por todos, na internet.
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