Espiral (Brasil, 2024)

O Brasil é um grande universo repleto de micromoléculas regionais e cada uma delas tem sua abordagem cultural. Eu morei no Sul por alguns anos, vinda do Rio de Janeiro e trazendo comigo conceitos culturais que causaram e sofreram estranhamentos fortes. Exatamente por isso – e também por re-perceber as dores e questionamentos ao redor do machismo gaúcho, amei a abordagem da linha do tempo de ESPIRAL e a musicalidade do sotaque – muito presentes. A história de fundo é regional de Novo Hamburgo, mas poderia contar a saga da zona italiana e o vinho porque, na verdade, falamos de famílias em seus “achados e perdidos” emocionais, buscas, evolução cultural e medos.
Há perguntas essenciais que ainda precisam ser repetidas à exaustão, como por qual motivo, a habilidade de Vilma em negociar sempre é relegada a um segundo plano, apenas por ser ela mulher; por que as famílias insistem em esconder, omitir fatos e assim deflagrar crises apenas baseadas no que supõem que os outros vão achar; por que temos tanta dificuldade em nos ouvir. São questões que nos acompanham e assombram à décadas.
Só estas perguntas já criam um labirinto de linhas emocionais que conduzem os atores a toda a estruturação da mensagem contida em ESPIRAL e que moram dentro de nós, fazem parte das nossas vidas, contam nossas histórias. Nesse sentido, ter vivido no Sul, as casas, os espaços, a forma de falar, preenche lacunas de memória com vivências – e a direção de fotografia retratou tudo muito bem com o desenho em “L” de fogão, pia e forno a lenha, tão típico das cozinhas do sul. Também a forma de falar dos personagens: infinitiva e imperativa. Tu vais fazer, Tu vais trabalhar – o que me causou o mesmo arrepio, anos antes, na vida real.
Gostei muito da circulação dos atores, da triangulação do tempo, do desenho do arco dramático. Apenas a articulação do som, o ritmo da fala e a dicção de alguns atores poderia ser um pouco mais clara porque algumas vezes a rapidez do fluxo de fala, nos diálogos, comprometeu a compreensividade. Outra coisa de que me lembrei muito também foi rever a minha estranheza quanto ao fato de quase todos serem brancos. No Rio e agora em Salvador, as peles são tão ricas, coloridas e exuberantes, mostrando nossas raízes e ancestralidades... Amei também a cena onde pai e filha se confrontam – trazer questões LGBT, discuti-las, reapresenta-las coloca em questão a forma como os pais ainda insistem em não permitir que as pessoas apenas sejam o que nasceram para ser.
ESPIRAL é um filme delicado, mas cheio dos malabarismos mentais, perdas e sofrimentos ao redor da convivência não igualitária entre as pessoas – como em todas as famílias, uns se sacrificando pelos outros.
Assistam juntos, conversem sobre o tio diferente, a prima que saiu de casa cedo, quem abriu mão de quê, em prol de quem, quais eram as normas, como elas evoluíram e como todos podem contribuir para que continuem a evoluir. Amei poder assistir.
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e Tv
Um filme sobre famílias tradicionais, sobre seus altos e baixos.
Emociona quem vem de famílias numerosas e com negócios que se perpetuam ou que se tentam perpetuar. Provoca imensas reflexões humanas, das várias formas de amor, das várias formas de educar os filhos, do que se espera do futuro, de se permitir ou não que cada um busque sua felicidade ou que todos se sacrifiquem por um objetivo maior de manter os negócios e as tradições.
Todos passamos ou iremos passar por essas questões. Todos devemos assistir ao filme. Assistir em família, assistir nas escolas e depois falar-se sobre sonhos, liberdades, tradições, amores, aprendizagens familiares. Muito importante, muito necessário, muito decisivo provocar esse confronto com o que somos, o que a família espera de nós, o que o nosso amor é capaz – dar liberdade ou condicionar.
Uma casa encantadora, uma forma muito original de apresentar o trajeto de uma família que passa pelos sucessos e entusiasmos dos negócios de calçado, pela descida do sucesso até à falência e o que vem depois?
É sobre uma zona do Brasil afetada pelos negócios de calçado que sofreram muito, mas poderia ser outro mercado ou outro assunto. A subida e descida de qualidade de vida tem de ser prevista, ensinada e protegida. A vida não é só boa, nem só terrível, mas tem de tudo um pouco e sabermos disso desde crianças e nos prepararmos para a enfrentar ajudaria muito a muitas pessoas, muito países. Para melhor, claro.
Imperdível.
Ana Santos, professora, jornalista
Sinopse: O fim de um ciclo familiar expõe feridas, segredos e afetos enterrados sob o couro e o suor da indústria calçadista de Novo Hamburgo (RS). Um drama intenso sobre perdas, silêncios e a herança invisível que molda quem somos.
Direção: Leonardo Peixoto
Elenco: Gutto Szuster, Renata de Lélis, Marcos Verza
Trailer e informações:
https://vimeo.com/1117228199/7cbfc333c2
O filme entra em cartaz em Porto Alegre na quinta (9) na Cinemateca Paulo Amorim.
A produção é assinada pela Convergência Produtora em coprodução com a Bactéria Filmes e a Sala Filmes, e conta ainda com a Melancia Filmes como produtora associada, e distribuição da Contágio, departamento de distribuição da Bactéria Filmes. Essa aliança entre quatro produtoras gaúchas se consolidou em meio a um cenário de crise para a cultura, atravessado pela pandemia, pelo esvaziamento das políticas de fomento e mais recentemente pela tragédia climática que paralisou o estado.
Domingo é dia de exposição de azulejos e de sugestão cultural.
Azulejaria, uma arte milenar que enriquece nossos dias.
Sugestão cultural: uma exposição, um bailado, uma ópera, uma peça de teatro, um filme.
Sempre que possível indicamos filme ou documentário que pode ser visto por todos, na internet.
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