Que final de semana! Ontem, num teatro do outro lado da cidade, eu torcia pelo nascimento de uma estrela ainda enevoada, verde e inexperiente. Um “Peixinho” ainda, mas com talento pra virar um “peixão”. Engraçado como enxergo o talento. Nem sei explicar como consigo discernir o que ainda não possui uma forma definida, mas assim é: vi um Peixinho com talento de peixão e quando olhei meu editor Bin Laden, sabia que tinha uma coisa nele que combinava com o meu pensamento. 2 X 0.
Então, hoje cheguei ao TCA pronta para ver algo com a dimensão de Bibi. E a dimensão dela é o céu, o lugar onde as grandes estrelas habitam; porque grandes estrelas nunca morrem. São como luzes que nos guiam, principalmente quando algumas pessoas insistem em transformar luz em escuridão, luz em silêncio de vozes. Nessas horas, a arte é um som guia, uma luz que domina a escuridão dos pensamentos e aponta o caminho da cultura como única resposta possível.
E já na subida da cortina, lá estava a percepção definitiva: era o espetáculo do ano, sem dúvida. E quanta coisa a falar eu teria – desde o absoluto domínio do tempo cênico para as piadas funcionarem, até a afinação, o talento que desequilibrava as cenas, a plateia aplaudindo o musical como se fosse um show, de tão maravilhosa que era a criação do contexto cênico, cenário, a agilidade, a graça e a engenhosidade na troca dos elementos, a incrível performance dos atores, a compreensão coletiva de que aquele era um “daqueles momentos” inesquecíveis do teatro, onde sua vida ganha mais encanto, onde você ganha mais vontade de lutar, de vencer, de compartilhar.
Eu poderia ficar aqui a vida inteira falando principalmente da qualidade das vozes e da proximidade corporal e gestual que Amanda Costa conseguiu da figura de Bibi. Mas a delicadeza e ao mesmo tempo a energia de Amanda era contemplada o tempo todo com aquilo que o teatro tem de melhor (quando funciona) – o sentido de grupo. Foram “passes e passes” de extrema qualidade vocal, expressão corporal e gestual do elenco inteiro pra ela entrar e marcar gols de placa – com ênfase para Guilherme Logullo – uma voz, uma graciosidade, força, agilidade, tudo sem que a voz desse um sinal apenas de tremor, de cansaço ou seja o que for. Apenas ficava ali fazendo de tudo, com aquela voz limpa, segura, cristalina.
A qualidade do texto, a perfeita sincronia entre todos os atores, a emoção da plateia que aplaudiu por mais de 5 minutos seguidos, transbordando, contagiando o elenco inteiro com esse caráter próprio baiano que prefere cumprimentar com o abraço, ao invés de apertos de mão ou beijos e que critica o “status quo” que tenta impor-nos o silêncio, aplaudindo loucamente, ruidosamente, freneticamente as denúncias que os artistas fazem e que ainda farão, enquanto durarem as “chuvas conservadoras”. Um espetáculo como seriam os espetáculos de Bibi – exigente, forte, com conteúdo denso, rigidez técnica e com apoteose garantida em defesa da democracia.
Quem não foi, pode começar a chorar, a se jogar no chão, a gemer e a gritar – foi mesmo o espetáculo do ano, pessoal... quem não foi, perdeu!
Ana Ribeiro, diretora de teatro, cinema e TV
“No palco me encontro com Deus”
Bibi Ferreira
De há uns anos para cá, tento sempre agradecer à vida e às pessoas com quem me cruzo, pelo que me ensinam e me proporcionam. Tento também agradecer a possibilidade de construir um portal internacional de comunicação humana como o Bug Latino, que me faz tão honrada e que me possibilita mostrar a quem não viu ou não sabe, momentos da vida que todos deveriam poder assistir, viver e usufruir. Um desses momentos sem dúvida seria poder assistir ao musical sobre a vida de Bibi Ferreira, atriz, diretora, cantora, artista de mão cheia – “Bibi, uma vida em musical”. Um musical incrível com direção de Tadeu Aguiar a partir de texto escrito por Artur Xexéo e Luanna Guimarães. Mais de 3 horas de talento artístico de alto nível. Maravilhosos na dança, na interpretação, na expressão corporal, na voz e canto. Profissionais com corpos alinhados e equilibrados fluindo em qualquer tipo ou gênero de dança. Interpretações intensas e verossímeis. Momentos sensacionais de expressão corporal que me recordaram o grande e único Marcel Marceau – o “Mimo” mais famoso do mundo nascido em Strasbourg. E, as vozes. Meu Deus, as vozes. Todos os atores cantam maravilhosamente bem. Todos. A direção de vozes merece ser aplaudida de pé em qualquer lugar do mundo porque todos cantam maravilhosamente, como já referi, mas em coro e harmonia as vozes se tornaram celestiais. Os momentos de coro e harmonia foram mágicos, sensacionais. Amei, amei, amei. A protagonista, Amanda Acosta é sensacional e como ela existem poucas no mundo, o ator, Chris Penna que faz o papel de seu pai, maravilhoso, expressão corporal invejável, Guilherme Logullo, como Paulo Pontes, lindo, excelente cantor, dançarino e ator, o mestre de cerimônia de circo, encantador e talentoso Leo Bahia, e ...e...e...e...um elenco de ouro. De ouro. Todos com uma bagagem teatral, corporal e vocal de excelência. Exemplares.
Bibi Ferreira, que teve pais artistas e que souberam estimular e construir seu talento artístico. Que aprende desde cedo que ela, Bibi, pode estar triste, mas a personagem que ela vai fazer no palco não está triste e por isso a sua vida pessoal não tinha espaço para invadir a sua vida profissional. Como o musical mostra, sempre que teve de escolher entre a vida pessoal e o teatro ou os palcos, o teatro e os palcos venciam. Foi abordada de forma muito vaga e leve a sua contribuição para musicais sobre a grande fadista portuguesa Amália Rodrigues. E a atriz que cantou uns segundos de fado, escolheu o caminho cómico. Escolheu bem. Cantar fado de forma séria e bem não é fácil.
Bibi cantava fado e principalmente cantava Amália parecendo Amália no musical "Bibi Vive Amália". Extraordinário. Com sotaque português de Portugal impecável. Pesquisei mas nada encontrei sobre a possibilidade de Bibi Ferreira e Filipe La Féria se terem conhecido e terem sido amigos. Por que nós comuns humanos só teríamos a agradecer. Filipe La Féria é o melhor diretor de musicais em Portugal há muitos anos e fez um musical sobre Amália Rodrigues que fez sucesso em Portugal e em muitos países da Europa e de outros continentes. Alguém que conseguiu fazer sucesso e dinheiro com musicais sem necessitar de ajuda ou apoio institucional. Algo quase inacreditável. Uma pena nunca ter vindo mostrar a sua arte aqui no Brasil. E uma pena não se terem conhecido (segundo as minhas pesquisas).
35 anos em cartaz fazendo sucesso com peça musical de Edith Piaf é incrível. Uma vida.
Uma viagem de mais de 3 horas que passa num instante. Um instante mágico na vida de quem tem a sorte de assistir.
Uma superprodução carioca que coleciona onze prêmios. Se passar na sua porta este espetáculo, faça o possível por não perder.
Ana Santos, professora, jornalista
Allcance Comunicação e Produção de Eventos