Final de semana de flashbacks, mas valeram todos. Acho que a pergunta que nós já nos fizemos ao menos uma vez é onde ficam os espíritos que deixaram coisas não resolvidas – como a personagem, por exemplo, que foi assassinada exatamente no meio da descoberta de seu primeiro amor, a necessidade de se comunicar com sua família, seu pai, o desejo de apontar seu assassino e mais umas quantas demandas.
Será que ficamos mesmo entre dois mundos? Será que somos chamados a ir para outras esferas, mas não “obrigados” a ir – algo como um “despertar” em outra sintonia, outro mundo ou algo assim.
Saoirse Ronan dá um show – seu talento é nato porque em 2009 ela estava muito mais para a puberdade do que para a adolescência – num filme cheio de pequenos lindos momentos de amor e uma atmosfera de suspense que arrepia os cabelos, muitas vezes. Como sou hiperativa, filme com suspense me coloca com energia demais e isso me cansa, mas como o vilão é alcançado pelo destino e o filme dá tempo pra energia se dissipar até o final, gostei muito – principalmente porque me faço esse questionamento muitas vezes. Para quê afinal ser bom – que é tão difícil, no mundo – se a vida acabasse num ponto final? Na minha mente, então, está fechado que não é ponto final e há outras formas de vida para o espírito. Nas mortes repentinas, vejo total nexo em o espírito tentar resolver pendências, embora perceba que se aquele mundo acabou, as pendências acabam com a vida física. Mas se a morte é repentina, será que nossos espíritos demoram muito a perceber a mudança de frequência?
O filme tem muitas perguntas, muito sofrimento, muita busca emocional para combater a dor da perda. Nesse sentido, é sensível e humano, apontando para as nossas buscas essenciais.
Todas as personagens têm uma beleza, uma complexidade e vê-las traz uma ideia de que a vida é mesmo um lugar onde apenas pensamos controlar as coisas. Quando a vida se impõe, nada resta a não ser aceitar, conviver e partir do que sobrou.
“Um Olhar do Paraíso” não foi um filme para grandes premiações, mas dá o seu recado em questões que cada vez mais nos perturbam. Afinal, basta olhar o mundo: as coisas não andam nada bem pro nosso lado... Em algum momento os “mocinhos” precisam se ver em vantagem porque o desnível entre bons desejos e o poder pela ambição está incrivelmente desequilibrado.
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
Que filme!!! De 2009, mas nunca tinha ouvido falar. Super atual. Com a pandemia então, virou um filme ainda mais importante de ser assistido. Perdas, dores, sofrimento, maldade, inocência. Todos de alguma forma passamos por algo duro. Penso que este filme pode ajudar. Além disso, também aborda temas importantes da sociedade que são sempre muito incômodos mas que precisamos ter presentes – os serial killer’s, o abuso e assassinato de crianças ou adolescentes. Mesmo em localidades aparentemente inocentes e pequenas onde todos se conhecem. Ou parecem se conhecer porque vivem muito próximo.
Lindo, belo, encantador. Ao mesmo tempo, assustador, incômodo, tenso. Como a vida, afinal.
Um conjunto de atores de luxo. Susan Sarandon num papel secundário, mas sempre que aparece, domina tudo. Incrível!!! Os atores mais jovens, incrivelmente doces, intensos, talentosos. Que maravilha de olhares, de sorrisos ou tristezas em movimentos suaves de lábios, de intensidade. Na verdade, todos os atores deram show. Uma direção de atores sensacional. Filmão!!!
As cenas, planos, imagens sensoriais, roteiro. Tudo muito envolvente, muito intenso.
O que cada um vê na vida? Todos vemos a mesma coisa? Todos sentimos igual? Do que vemos, sentimos, do que nosso instinto nos avisa, o que é importante? Um filme que é uma viagem a muitos lugares. Dá que pensar. Dá para muita conversa no final. Amei o filme, amei, amei.
Ana Santos, professora, jornalista
Sinopse: Uma menina que foi assassinada, cuida de sua família enquanto assiste seu assassino do purgatório, mas terá que encontrar um equilíbrio entre seu desejo de vingança e seu desejo de confortar sua família.
Diretor: Peter Jackson
Elenco: Rachel Weisz, Mark Wahlberg, Saoirse Ronan, Susan Sarandon, Stanley Tucci
Informações e trailer:
https://www.imdb.com/title/tt0380510/