A minha primeira sensação foi de aturdimento. O filme é barulhento, pessoas gritam, discutem e tudo acontece ao mesmo tempo, num clima de loucura, ciúmes, rancor, sentimento de injustiça, vingança, perda. Tudo aos gritos.
Aos poucos a gente vai se apercebendo que os gritos nascem de dores lancinantes que são postas claramente sobre a tela. E não sei dizer exatamente quando a aceitação das dores, a fala sobre elas foi envolvendo as pessoas, suas vidas, seus mundos reunidos e os jantares deixaram de ser guerrilhas, os encontros deixaram de ser terríveis e, aqui e ali, as ajudas foram sendo trocadas.
Um filme que, em sendo estranho, é forte, tem muita potência emocional. Não pelos gritos, mas por aquilo que se traduz através deles.
Muitas coisas sutis, belas, como a mistura de filme e animação, as respostas mentais aos gritos da mãe, as portas que são criadas no meio da tela e que a expulsam, o anjo super delicado que voa pela tela, parecendo uma libélula. A montagem é diferente, porém bela. Soluções diferenciadas, diálogos ininterruptos, gente, poluição de cores, coisas, emoções. Esse muito nos atordoa, mas informa do que a dor influencia.
Portanto, embora o filme seja de 2018, vale mesmo à pena assisti-lo. Tem inúmeras situações singulares, inúmeras soluções singulares. Tudo tão distante da realidade, que a dor nos perpassa, antes mesmo que a gente se acostume com os dramas ininterruptos daquela mãe – o que, no drama, colore a história de comédia.
Tudo o que você não acompanhar, num primeiro momento, não deve preocupar ninguém: a emoção é muito mais pedagógica do que o que foi escrito, acreditem.
Vale assistir. Vale cada segundo.
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
Uma sinopse que atrai. Estes países costumam ser criativos, também no audiovisual. E o filme é totalmente inesperado, pela edição, pela mistura das imagens reais com animação, pelo roteiro – mistura de tempos muito bonita - pela cor.
Atores soberbos. Soberbos.
Uma história emocionante, que se repete tanto pelo mundo, em silêncio, sempre em silêncio, como se fosse algum pecado amar, amar perdidamente, viver para o amor que se sente pelas pessoas. Muito emocionante. É sempre muito triste assistir a filmes que nos mostram como as pessoas sofrem tão profundamente apenas por aceitarem serem como são. Como em todo o lado, tentam se ajeitar nas regras, nas normas, mas os sentimentos e desejos, a sua natureza e, principalmente, a verdade profunda do que sentem, tem muita força nos seus passos, nas suas decisões. Muitas vezes acusados, humilhados, considerados doentes, menores, etc, até que, sempre tem um até que, alguém percebe o quão injusta é essa forma de tratamento e percebe que não são mais do que pessoas tentando ser verdadeiras, felizes, completas.
O filme aborda paralelamente as invejas, os ciúmes, os ódios de quem se sente traído/a e adoece nesse veneno paralisante. Impressionante como destrói não só a própria pessoa que se envenena como tudo e todos em volta.
Outra abordagem muito importante hoje em dia no mundo também é colocada: os adolescentes que vivem com seu celular, que vivem num mundo só seu, que desenvolvem impaciências, intolerâncias aos comportamentos dos outros – mãe por exemplo – que têm uma enorme perspicácia mas ao mesmo tempo também uma enorme dificuldade em se integrar no mundo, com as pessoas, em sentir, em deixarem seu corpo e sua cabeça serem, viverem, fluírem junto com os familiares e amigos.
Finalmente, a dor da perda, a solidão da perda, principalmente para quem ama em relações ditas proibidas.
Um filme muito diferente, mas muito bonito. Aconselho vivamente.
Ana Santos, professora. Jornalista
Sinopse: Um adolescente e sua mãe se afastam ainda mais quando descobrem que a apólice de seguro de vida de seu pai deve ser recebida por seu amante.