Filme pesado. Principalmente porque as notícias sobre sequestro, seviciamento, estupro, prostituição, assassinato de meninas nunca param, nunca pararam, nunca sequer diminuíram. Nesse mundo masculino e caracterizado por homens que arrotam conquistas uns nas caras dos outros, o filme dá uma dor no estômago, uma vontade de vomitar o desprezo que cada mulher precisa sentir e sobretudo demonstrar sentir por essa sociedade maluca e disposta a tudo para firmar como “aquele que pode ter qualquer prazer, qualquer coisa, qualquer pessoa”. Um nojo.
Nadar numa ficção que arranha superficialmente as notícias que recebemos pelos jornais de verdade é alarmante porque uma menina yanomami foi estuprada até a morte na vida real por animais que saíram se achando homens melhores. O filme não mostra esta menina, mas qualquer pessoa minimamente inteligente faz relações e projeções diante de crianças – CRIANÇAS – que deveríamos ter aprendido a proteger.
O filme, portanto, as mostra como nós as vemos – como nada. E não tiro nenhuma pessoa dessa percepção deturpada de que não aconteceu na minha casa, então não é problema meu. Isso é uma vergonha.
No filme, como na vida real, a proporção da onda de trauma cresce e alcança mais pessoas como um tsunami, como uma progressão geométrica. A policial, a estuprada que escapou da morte, a cara dos bandidos não à toa poderosos, políticos e maniqueístas, os guardas, ter que obedecer “a um procedimento” quando você sabe que crianças vão ser seviciadas, se escaparem, vendo-as dentro do avião, tendo que acha-las num labirinto de lugares. Tudo tremendamente terrível e verdadeiro.
Assistir - talvez não como pessoas com gênero, mas talvez como pessoas apenas. Porque os homens – como são muito menos abusados que nós – olham e é “mais um” clamor jogado ao vento – e isso não pode mais acontecer.
Um corpo é uma entidade que se precisa respeitar e cuidar. E o filme está lá pra ser visto – qualquer pessoa poderosa pode “comprar o que quiser” – até uma criança, que depois você descarta, mata e joga fora.
Dor é pouco. Mas cada gota de dor é necessária se você tiver coragem pra se sentir humano.
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro, TV
É impressionante o que existe de maldade no mundo. A capacidade que existe para explorar outros seres humanos, crianças, jovens. Neste filme se expõe o tráfico sexual infantil que enviava (envia), meninas da África do Sul para outros países, para poderosos. É abominável. Indescritível. As pessoas que fazem parte, que protegem, que escondem, que enriquecem e as que abusam das crianças e/ou jovens.
Um filme com uma edição interessante, de bom gosto, sendo também muito incómoda. Silêncios, efeitos simples mas que te estimulam a mergulhar na dor, numa tamanha injustiça e incredulidade. A direção de atores com alguma instabilidade, porque o filme salta de momentos incríveis para momentos um pouco imaturos. Bons atores, mas me encantou particularmente Hlubi Mboya, atriz e embaixadora da AIDS.
Um filme muito corajoso, baseado em fatos reais horrendos. É muito importante assistir a estes filmes. Precisamos saber para nos dispormos a mudar tudo o que prejudica, traumatiza e destrói outras pessoas. Não temos o direito de fazer estas atrocidades. Ninguém tem o direito. Que loucura! Como existem pessoas capazes de fazer e como existem pessoas que deixam fazer?
Me lembrei muito do que os jornais falam sobre a quantidade de traficantes humanos e sexuais que rondam a travessia de milhões de crianças, jovens e mulheres ucranianas em fuga do seu país. Assista, acorde, se preocupe, olhe à sua volta. Madalena Silva, uma mulher que foi mantida numa casa como doméstica, por 54 anos, sem salários, maltratada e roubada (os “patrões” retiraram 20 mil reais da sua aposentadoria), em Lauro de Freitas, a uns 20 quilómetros de Salvador. Durante 54 anos ninguém viu? Ninguém foi capaz de prestar atenção, de se interessar e perceber que algo estava errado? Como é possível?
Por favor não faça parte das pessoas que deixam acontecer. Preste atenção à sua volta, ao que é importante e deixe o que não tem interesse. Não perca este filme. Quem sabe ele desperta o quanto você pode ajudar as outras pessoas e o mundo.
Ana Santos, professora, jornalista
Sinopse: Um investigador de crimes especiais, forma uma ligação improvável com um assassino em série para derrubar um sindicato global de tráfico sexual infantil.
Diretor: Donovan Marsh
Elenco: Erica Wessels, Hlubi Mboya, Leshego Molokwane
Trailer e informações:
https://www.imdb.com/title/tt9013182/