
Eu adorei o filme, principalmente porque ele conseguiu captar a leveza do espírito aliada à força de caráter desta “peruíssima” apresentadora que fez história na TV brasileira. Com a marca registrada “gracinha”, Hebe afrontou costumes, discutiu a hipocrisia da ditadura, brigou pela nossa atual liberdade de expressão, esteve presente nos melhores momentos e fez polêmica sem medo de sua sinceridade, mesmo quando nunca omitiu sua amizade com Paulo Maluf – pra quem não conhece, um político que fez juz à frase: “rouba, mas faz”. Ele vale uma pesquisada no Google.
Alguns momentos históricos foram recriados – com imagens borradas, o que nunca aconteceu com Hebe – o que nos dá a ideia exata de que era uma pessoa além de seu tempo, apoiando pessoas. Nem percebia os guetos de direitos; fazia questão de ignorar que a sociedade – e a brasileira é especialista nisso – apartava determinados segmentos, desprezando gays, pobres, trans, como se fossem invisíveis inconvenientes. Tinha dentro de si uma coragem, um despojamento, um olho crítico aguçado como de criança, travestidos num corpo que mais parecia um receptor de brilhos e joias. Uma perda incalculável.
Andrea Beltrão está ótima, ainda que Hebe tenha sido inigualável, inimitável. Mas, quando olhamos a tela da TV, a lembrança é imediata.
Não fui espectadora assídua, mas o momento político a projetava e, à sua maneira, foi super atuante e corajosa, sabendo o que queria e a quais causas defender – o que era incrível naquela época. Nem sei se hoje em dia haveria espaço para a sinceridade que ela trazia, com tanta polarização e falta de educação.
O filme levantou todos os dados importantes da sua biografia, fez um resumão bonito, bem feito e com uma super atuação de Andrea. E quem viu Hebe Camargo, vai relacionar na hora, pode acreditar.
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
Não acompanhei a vida profissional de Hebe Camargo, como a maioria dos portugueses. Já a viver no Brasil, sabia que Hebe Camargo, tinha sido uma apresentadora de televisão muito conhecida. Mas nunca imaginei que fosse um “mulherão”. Que fosse uma mulher que enfrentou o regime, diretores de televisões, marido ciumento e violento, que sempre defendeu as minorias, fazendo um caminho de vida no escuro e sozinha. Qualquer uma destas ações já seria de enaltecer. Com 200 milhões de pessoas observando sua vida, ela fez o seu caminho: uns incrédulos e estimulados perante tamanha coragem, outros esperando seus momentos de fragilidade para “pisar em cima”.
Como eu gostava de ter conhecido essa senhora. Como gostaria de lhe mostrar o Bug Latino e de lhe dizer como ela foi uma importante referência para as mulheres do mundo. E que existem mais. E que ela não esteve só, apesar de se ter sentido só, como imagino. Como todas se sentem quando enfrentam o poderes estabelecidos.
A atriz que faz de Hebe, Andréa Beltrão está fantástica. Desempenho sensacional. Pensei a determinado momento que esta atriz devia amar muito Hebe. De alguma forma considerei que ela se entregou completamente. Mais do que a entrega total de uma atriz, entendem?
Já amo há algum tempo o trabalho de Caio Horowicz e amei seu desempenho como filho de Hebe Camargo. Ele é muito fofo.
Não conhecendo anteriormente a história de vida de Hebe, para mim a direção do filme foi sensacional e me motivou para saber mais sobre ela. O que ela dizia e defendia me apaixonou e me recarregou um pouco as baterias. O Brasil comporta pressões e dificuldades de mudar o estabelecido numa dimensão continental. Num país com 200 milhões, onde cada um é apenas mais um. Onde, portanto, a coragem precisa ser muito maior e a persistência também. Obrigada Hebe! O que é justo é algo que sempre valerá a pena lutar.
Marcelo, seu filho, afirma que sua “mãe nunca bebia wiskey, não bebia em trabalho, não falava aquela quantidade de palavrões e o lema dela era respeito ao público”. Essas declarações foram realizadas depois dele ver o filme e considerar que sua mãe não era como está no filme. Para pessoas como eu que não conhecem sua vida, são declarações importantes. Para que o filme não seja a verdade total.
Amei ver o filme e sei que em Portugal vão amar conhecer quem foi Hebe Camargo.
“A gente volta já, já...”
Ana Santos, professora, jornalista
Informações sobre o filme
https://www.imdb.com/title/tt8631174/
Diretor: Maurício Farias
Elenco: Andréa Beltrão, Marco Ricca, Danton Mello
Sinopse: Hebe Camargo (Andréa Beltrão) se consagrou como uma das apresentadoras mais emblemáticas da televisão brasileira. Sua carreira passou por diversas mudanças ao longo dos anos, mas foi durante a década de 80, no período de transição da ditadura para a democracia, que Hebe, ao 60 anos, tomou uma decisão importante. A apresentadora passou a controlar a própria carreira e, independentemente das críticas machistas, do marido ciumento e dos chefes poderosos, se revelou para o público como uma mulher extraordinária, capaz de superar qualquer crise pessoal ou profissional.
Retirado de http://www.adorocinema.com/filmes/filme-223907/
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