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“SOCIEDADES EM MOVIMENTO – SERÁ MESMO?” e  “O Silêncio dos Injustos” Bug Sociedade

Maria Martins
Maria Martins

“SOCIEDADES EM MOVIMENTO – SERÁ MESMO?” Bug Sociedade

                  Li hoje, pela primeira vez – e em atraso, creio – que o movimento LGB se separou do movimento T e suas subdivisões QIAPN+. Eu desde sempre apoiei todas as iniciativas possíveis, mas tendo aderido ainda na época do GLS, sempre achei que a sociedade só adere ao que compreende e sinceramente nem eu consigo decorar todos os significados das letras. Com 65 anos, já penso que deveria haver uma forma mais simples de nomear o todo humano e não formas de nos separar porque inclusão é para todos. Nesse momento da minha vida, penso que a palavra mais importante deveria ser mesmo inclusão: dos velhos, crianças, órfãos, pobres, LGBTs, mulheres, negros e simpatizantes de todas essas causas – pronto, claramente somos a maioria se não nos subdividimos em tantas minorias.

                  Contra todas as subdivisões – cada vez mais sou contra elas – penso que a sociedade ou mercado ou a mídia nos subdivide para que não nos vejamos empaticamente. Se todos querem alçar voo separadamente, egoisticamente, é bom que nos evitemos. Mas assim temos vivido – cada vez mais separados – e tem sido inútil. Felicidade, definitivamente não é um bem de consumo, embora as pessoas achem que ela está pendurada em algum lugar dos shoppings. E assim estamos falando de preconceitos: de idade, de gênero, de raça, de crianças, de violência contra todos esses já citados; de abandono desses todos já citados; de golpes contra todos esses já citados. O mercado vem chutando profissionais abaixo dos 40 anos, enquanto o marketing diz que a Inteligência Artificial é para os acima de 45 anos, enquanto o mercado continua sinalizando o desaparecimento de inúmeras profissões. Não há uma lógica de aproveitamento: A pessoa diz: “consuma marketing e não vê que o marketing apenas “embrulha os produtos”. Quem ganha um celular maravilhoso joga o aparelho fora pra ficar olhando o papel de presente onde ele veio embrulhado? Qual a lógica entre a vida virtual e a real? Será que as pessoas ainda não perceberam que as coisas precisam ser concatenadas? Não faz sentido você ter que se adaptar a uma identidade visual do Instagram, mesmo que a sua empresa não seja igual às outras, como na vida real as coisas acontecem.

                  E cada vez mais pulverizadas, as pessoas não veem que assim são mais facilmente manipuláveis. PIX vai pagar imposto – Mentira deslavada, que colou; mulheres trans vão “caçar” mulheres nos banheiros – mentira ridícula, que nem sei como é possível que acreditem, já que nunca nenhuma mulher viu isso em nenhum banheiro na sua vida; mulher estuprada TEM que ter o filho do tarado, senão será acusada de HOMICIDIO – grotesco, primitivo e só pode vir da cabeça de deputados machistas que nunca tiveram uma cólica menstrual na vida pra não saberem que nenhuma mulher no mundo aborta porque está “entediada”.

                  Assim, parece que chegamos ao fim do LGBTQIAPN+ - que acho dificílimo – mas que era alguma cola. Porém, ao invés de nos “colarmos” uns aos outros, nos descolamos cada vez mais e deixamos de perceber que nos usam, de tão focados que estamos em aparecer, de tirar as mesmas fotos padrão, de pessoas que parecem enturmadas, mas que permanecem isoladas usando as mesmas identidades visuais, os mesmos preenchimentos, os botox e silicones, modelos de roupa e o que a rede nos coagir a fazer, não importa – porque todos querem o que queriam desde sempre: ser vistos, participar socialmente. Mas o termo sociedade, por si só, já desqualifica o individualismo por representar quem somos como coletivo humano – será que só eu penso nisso?

                  Ao separar as siglas LGB, de T e suas subdivisões, os assassinatos acabarão? Os preconceitos? As perseguições? Acho que não. Todos no mundo ficam rigorosamente na mesma.

                  Então, honestamente, não entendo...

Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV

 

 “O Silêncio dos Injustos” Bug Sociedade

Guimarães Rosa nos deu esta beleza: “O senhor sabe o que o silêncio é? É a gente mesmo, demais.”

Em sociedade, dedicamos muito tempo na relação com os outros – outro enorme desafio - e não nos habituamos a viver tudo de nós, apenas gotas, fragmentos, fases. Acontece que quando estamos em dor e sofrimento é que nos escutamos, não tem outro jeito, e nos deparamos com o fato de que somos tão verdinhos, tão despreparados para “nos” entendermos, tão sem saber conversar com quem somos. Parece até que alguns de nós nem sabiam que “existiam” dessa forma.

Porque somos tão estranhos a “nós” e tão “comuns” aos outros? Tanto que “eles” acham sempre que sabem mais de “nós”? E nós muitas, tantas, vezes, aceitamos e fazemos o que os outros querem de nós?

Clarice escreve: "(...) nos interstícios da matéria primordial está a linha de mistério e fogo que é a respiração do mundo, e a respiração contínua do mundo é aquilo que ouvimos e chamamos de silêncio". Esse mistério e fogo nem sabemos que existe quando vivemos infâncias equilibradas, adolescências maquiadas, vida adulta dentro do padrão. Novamente, pela dor e ou pelo sofrimento abriremos essa porta. Sabe isso muito bem quem sofre desde que nasceu, quem sofre todos os dias, quem não encontra saída para o seu desespero. Quando se diz que cada um de nós está sozinho na vida é esse encontro com o nosso silêncio, essa familiarização com quem somos sem o ruído dos outros e a capacidade de nos orgulharmos da forma como nos organizamos e vivemos em paz por dentro.

 

Tem outro silêncio tão importante quanto, mas é social. Bernard Shaw o descreve simplesmente assim: “O silêncio é a mais perfeita expressão do desprezo”. É Gaza, Ucrânia, Sudão, República Democrática do Congo, Iémen, Síria. Está nas decisões diárias de Trump, nas ideias de Bolsonaro, Ventura, Le Pen, Putin, Netanyahu, mas também naquele que aceita.  Uns decidem “brigar” e os seus “brinquedos” são os povos, as famílias, as crianças, as pessoas. Mas não são apenas estas pessoas mediáticas que o fazem. Você quando não gosta da pessoa com quem sua prima casou e a corta da circulação da família, faz o mesmo, porque introduz o silêncio do desprezo, do tomar parte, de ficar do lado “melhor” - como se houvesse lado melhor na vida. Você é igual a Bolsonaro, mesmo que depois vá para as ruas se manifestar contra ele. Você quando utiliza seu lugar de fala para intimidar e avisar, quem depende de você, que se não fizer o que você quer, se dará mal, será demitido, sairá dos eleitos, faz o mesmo. Mesmo que esteja na manifestação contra a anistia e o PEC da Bandidagem. Veja, assim como o silêncio pode ser bom ou mau, pode ser exterior ou interior, mas é silêncio, você é o mesmo quando está na manifestação lutando pelo bem da nação e excluindo a prima da família.

As contas e dívidas que todos temos, serão pagas e resolvidas entre nós e o nosso silêncio interior.

Talvez ajude não estar em silêncio em relação ao “silêncio do desprezo” que vemos à nossa volta – seja em manifestações, seja com pessoas do seu lado que só te fizeram bem, e talvez ajude ir visitando o nosso silêncio, diariamente, transformando-o lentamente de estranho e assustador a amigo e apoio.

"As grandes injustiças só podem ser combatidas com três coisas: silêncio, paciência e tempo" de autor desconhecido

Ana Santos, professora, jornalista


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