“RESUMINDO: E O SOL NASCEU QUADRADO” e “Prendas de Natal de 2025” Bug Sociedade
- portalbuglatino
- há 5 dias
- 7 min de leitura

“RESUMINDO: E O SOL NASCEU QUADRADO” Bug Sociedade
Nós ouvimos tanto “Deus, Pátria e Família” que eu fiquei a pandemia inteira trancada em casa, morrendo de medo de que minhas defesas não fossem suficientes para me salvar do vírus e da morte. Se não fosse o João Dória bater o pé, o que seria de nós? Com ele, veio Instituto Butantan e com este, as vacinas que nos salvaram da ignorância. Ignorância, pode ser, aconteceu, mas o “Deus, Pátria e Família” com fé estava garantido!
Só que não. Bem que uma boa parte de nós suspeitava de que aquilo tudo que CPI da COVID tinha levantado e comprovado, havia ido pra debaixo do tapete da justiça – daquela época. Não houve nenhum processo. Ficamos na desconfiança e na descrença de sempre. Aquelas caras cínicas ou meio tresloucadas depondo, o orçamento secreto, o 1 dólar a mais por dose de vacina, a negativa para a oferta de vacinas da Pfizer.
Engraçado como a ultra direita trata a sociedade como mulher de malandro. Se a gente quer vacina é mimimi, mas tudo o que nitidamente está sendo desviado do nosso dinheiro ganha nomes bonitinhos como “rachadinha” (tipo fofura) ou “Orçamento secreto” (que parece até coisa de filme, se não fosse desvio de dinheiro público – que é crime).
Hoje vemos que foram tantos casos, tantas artimanhas ao mesmo tempo que a nossa cabeça ficava cheia de problemas e inseguranças, enquanto eles estavam “em ação”. Reparem que até hoje é assim. A gente ouve o “toc toc” da Polícia Federal e imediatamente começam a aparecer assuntos paralelos, ao invés de uma explicação.
- Tem um dinheiro aí dentro do seu armário ou: você está por trás de um golpe de estado!
- Estão falando isso, mas cadê que a polícia não foi atrás de fulano da esquerda? Ou: tudo aquilo que aconteceu no 8 de janeiro era uma nova forma de rezar, de evangelizar e todas aquelas pessoas puras e limpas de coração eram apenas passantes, transeuntes incautos - presos e condenados injustamente! A justiça condenou inocentes! A “ditadura da toga” é a culpada!
Tudo isso acontecendo e ainda tem gente que não se vê como um chefe que está testemunhando a sua empresa “Brasil S.A" ser furtada rotineiramente por muitos funcionários. Alguns até fugiram, em busca de salvação e, ao fugirem, desviaram dinheiro nosso até para o combustível do carro. Outros que, além de fugirem, pediram dinheiro emprestado a alguns chefes para “se manterem seguros no esconderijo americano” – e teve quem desse! Outros que desviaram dinheiro de velhos! - mas na hora que a Polícia Federal faz o “toc toc”, o fulano faz drama, pede ajuda a ONU, alega que seus direitos humanos foram atingidos e que é injusto perder o direito a suas Ferraris, Mercedes, Mustangs... Ou seja: todo mundo que encheu o bolso, o saco preto, a mala, a caixa de papelão, a cueca, a conta estrangeira, os postos de gasolina, a criptomoeda é vítima daqueles que tiveram o prejuízo – este é o resumo. A culpa é nossa, dos chefes, do povo!
Seja você quem for, não sinta pena. Se o Rei fosse à sua casa e te roubasse, você se sentiria premiado por perder a sua TV? Eles são nossos empregados por melhor que lhes paguemos. Eles existem porque nós existimos. E não nos roubaram uma TV – nos roubaram hospitais que não foram feitos, pontes que não foram construídas, computadores na escola, internet na rua pra todo mundo poder usar de graça, aposentadoria sem reclamação, transportes bons, professores bons, médicos em todos os hospitais, ambulâncias, pronto atendimento, vacinas novas... tanta coisa esses empregados nos levam com a maior cara de pau que, resumindo: ver o sol nascer quadrado em celas de luxo já está bom até demais. O cara rouba uma galinha e pega cadeia; o cara dá golpe de estado e é preso político que precisa da ajuda da ONU? Não! É um criminoso terrível porque cometeu o pior crime que existe!
Não pense em nomes. Pense apenas que se você é o dono da casa, ninguém pode ousar roubá-la e também a sua liberdade, a sua vida e você ainda achar que o coitado da história é o bandido! Democracia é assim; você cuida, pula em cima, vira bicho quando alguém aparece pra tocar nela com má intenção. Exatamente como os homens deveriam fazer quando veem esses tarados com olhares nojentos e libidinosos pra cima da gente... Aprendam. No ano que vem não pode simplesmente rolar solto matar o gênero feminino, enquanto os nossos péssimos empregados em Brasília inventam de criminalizar crianças estupradas que não têm condições emocionais de serem mães, de engravidarem e levarem a gravidez à termo. Chega de inventar história porque senão vamos pra rua exigir que “Brasil S.A” volte a funcionar de acordo com o olho do dono. E os donos somos nós, não esqueça nunca!
- E ano que vem tem que ser diferente, ouviram? Ou vai ter muito mais gente que, resumindo, vai ver o sol nascer quadrado – e deixem Deus fora disso, que dá vergonha ver como o nome Dele vive na boca de estranhos!
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
“Prendas de Natal de 2025” Bug Sociedade
Não sou adepta de prendas de Natal. Não desta forma comercial e obrigatória. Me arrepia o dinheiro que se desperdiça, as prendas que se oferecem e a pessoa não gostou nem lhes viu nenhuma utilidade, as prendas que vão ficar para sempre arrumadas num qualquer baú, as que nos fizeram gastar o dinheiro que poderia ser para estudar, para melhorar as condições de vida, a saúde, etc.
Vivemos numa máquina social que nos centrifuga os pensamentos e ações. Precisamos estar muito atentos e ter alguma coragem para ir contra o que “todos aceitam e todos fazem”. Não comprar prendas é apontado muitas vezes como um comportamento egoísta e isso é muito bizarro. Você trabalha para sobreviver, para pagar contas, para conseguir o futuro melhor, mas todos os anos gasta uma fortuna em prendas obrigatórias para continuar a ser incluído. Porque a sociedade em vez de ficar preocupada e se aproximar para ajudar alguém que não tem dinheiro para prendas fúteis, ela critica, aponta o dedo, exclui. Então, o esforço de muitas pessoas, no Natal, é o de ter dinheiro para os jantares bizarros e as prendas obrigatórias. Bom, eu estou fora. Lamento se ofende alguém, e estão à vontade para me excluir, para me criticar. Não mais gastarei o dinheiro que adquiro com meu suor em coisas sem importância. Não mais. O comércio no Natal, no dia do..., no dia da..., não cola comigo não. Ainda como professora em Portugal, fui ao meu último jantar de colegas. Como me arrependi. Eu ficava olhando aquelas pessoas, que nada tinham a ver comigo, que eu sabia que não amavam nem um cabelo meu e pensando porque raio eu teria de fazer aquilo todos os anos. O jantar super caro, mais uma prenda do “amigo secreto”. Aff.
Crescer é tão bom! Os olhos abrem, ficamos mais atentos e ser excluído ou criticado é algo que nem nos abana mais.
Passar dificuldades, problemas de saúde, também nos mostra direitinho onde estão os amigos. Como isso é bom. A gente separa a carne do osso num instante. Nem precisa de faca. Basta uma colher pressionando que tudo se separa bonitinho.
Ainda tem aquele momento da vida em que ficam nos acenando com o que perdemos, achando que isso nos fará recuar ou achando que vamos sofrer muito. Porque você vai recuar ou sofrer por não ter o que não quer, ou por não estar perto de quem não te faz feliz? Esta seria uma aprendizagem que eu colocaria obrigatória na escola se eu pudesse porque custa a aprender, porque dói, mas depois também te faz mais leve. Aprender bem cedo isto pouparia muitas confusões e desgraças.
Com uma longa carreira de treinadora e professora, acrescentei a de jornalista há mais de dez anos. Nas entrevistas tento fazer perguntas que nunca foram feitas, que permitam falar no que sempre desejaram e nunca tiveram oportunidade, que os instigue a pensar mais fundo sobre si próprios. Como se fosse uma prenda de Natal, gratuita, em qualquer parte do ano. Perceber que o/a entrevistado/a se surpreendeu, ficou feliz, se sentiu bem, é uma enorme prenda de Natal para mim. Prendas que se trocam, boas prendas. Tem também as prendas semanais que o Bug me oferece de poder escrever sobre a sociedade, escrever contos, divulgar poesia, divulgar artistas, divulgar cultura, deixar pequenos “reels” de um minuto misturando áreas onde circulo há décadas, tentando ajudar quem precisa.
A Autoral Filmes distribuidora de filmes incríveis no Brasil, o Teatro Sesc Casa do Comércio, em Salvador, todos os artistas que aceitam divulgar suas obras, nos dão prendas de Natal gratuitas, belas e honrosas. Chamam isto de trabalho e é, trabalho responsável e importante, mas também é extremamente recompensador pelas ligações amáveis que se constroem. Prendas e prendas. Boas. Gostosas.
Me sinto bem apesar de não ter uma vida perfeita, apesar de viver num mundo que tenta nos deixar infelizes, em dívida, em falta, em perda, com a sensação de sermos inferiores (mulheres, lgbtqiapn+, pobres, cor de pele). Apesar de ir percebendo que as mentiras se multiplicam como moscas, mesmo nos jornais e canais de TV que considerávamos “seguros”. Apesar dos políticos enriquecerem na frente dos nossos olhos em vez de zelarem pelas nossas vidas. Apesar dos esportes que tanto amo, se tornarem cada vez mais comerciais, mais injustos, menos formativos. Apesar de não se dividir por todos a comida, os territórios, a educação, a saúde. Apesar de existirem guerras que não levam a nada de bom. Apesar de tudo o que não concordo e abomino, mas não posso mudar. Apesar de tudo o que podia ajudar mas não tenho oportunidade para o fazer.
Me sinto bem, apesar disto tudo, porque preciso seguir. Precisamos seguir sempre, apesar das circunstâncias. Seguir e fazer o melhor em cada segundo, com o que tenho, com o que posso. Por tudo isso, desejo que tenha um Feliz Natal, apesar de tudo.
Quanto a prendas de Natal a melhor prenda é sem dúvida a benção de estar viva. Simples e única. Gratuita e inesquecível.
Ana Santos, professora, jornalista
Imagem: Arnaldo Pomodoro
Terça-feira, dia de escrever sobre o que acontece no dia a dia. De crítica, de conselhos, de admiração, de espanto, de encontrar caminhos melhores para todos.
@buglatino
A Plataforma que te ajuda a Falar, Pensar, Ser Melhor.




Comentários